20150916 curtas nacionais programa3 festival de vitoria papo de cinema thumb

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Mais cinco curtas-metragens foram exibidos na Mostra Competitiva Nacional de Curtas no quarto dia do Festival, segunda-feira, dia 14 de setembro. Como é do DNA do Festival de Cinema de Vitória, os curtas-metragens têm espaço de destaque. A 19ª edição da Mostra de Curtas selecionou 20 produções de várias partes do Brasil para concorrer aos troféus Vitória. Foram quatro programas com cinco filmes em cada. O que chama a atenção é o interesse do público pelas obras curtas, com lotações superiores a boa parte dos longas-metragens presentes na competição. O Papo de Cinema acompanhou as sessões e dá um panorama do que foi visto no terceiro programa de curtas.

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Verão Polonês, de André Mielnik (RJ)

Uma garota polonesa recém-chegada da Cracóvia está em busca de algo bastante especial e particular. Em sua procura, cheia de momentos introspectivos, ela demora a tomar coragem e partir para seus objetivos, que passam a ficar claros para o espectador a partir do segundo ato. Falar mais sobre a história pode estragar a surpresa do espectador. O que é possível dizer é que temos aqui uma bela construção imagética de André Mielnik, que não apressa de forma alguma sua narrativa em busca dos contrastes e do olhar estrangeiro de sua protagonista. Com participação especial de Daniel Dantas, dando peso ao curta-metragem, faltou talvez uma comunicação maior entre a primeira e a segunda metade do filme. Da forma como ele acaba, ninguém poderia dizer que foi o mesmo curta que vemos de início.

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Até a China, de Marcelo Marão (RJ)

Um dos curtas-metragens mais divertidos de toda a mostra competitiva nacional, Até a China é mais um belo trabalho do diretor Marcelo Marão. Assumindo não só a condução do curta, como de praxe, em animação, Marão também é o protagonista, dando muita personalidade àquele homem que vai à China e se encanta (e se espanta) com as diferenças entre os costumes dos povos. Os desenhos são bastante simples, mas funcionam incrivelmente bem, deixando tudo ainda mais curioso e engraçado. Expressões como “White-Wine” e “Shaileton” – o primeiro para designar qualquer bebida alcóolica, o segundo é o nome de um hotel famoso – ficarão na cabeça dos espectadores, certamente. Marão tem um texto muito esperto e consegue entrega-lo de forma incrivelmente naturalista, deixando cacos, tropeços, gaguejadas e quaisquer coisas que pareçam verossímeis em seu discurso. Nos sentimos amigos do protagonista e prontos para curtir outros roteiros de viagens como aquele. Exibido em diversos outros festivais, Até a China saiu premiado no XIX Cine PE e no 23º Anima Mundi. E não duvidaria caso saísse com prêmios de Vitória.

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À Festa, À Guerra, de Humberto Carrão Sinoti (RJ)

Fechando a trinca carioca do terceiro dia da mostra competitiva, À Festa, À Guerra começa de forma inteligentíssima, misturando uma animada música de carnaval a uma manifestação nas ruas do Rio de Janeiro. Corta para o momento de uma reunião entre um prefeito e seu assessor com o carnavalesco de uma escola de samba. O plano do político? Pagar uma grana preta para que sua cidade seja motivo do samba enredo, elevando o ibope do seu município. Em meio à maracutaias, discursos e muito samba, o espectador encontra um universo nada fantasioso, no qual o carnaval se mostra um evento bem mais político do que festivo. Humberto Carrão Sinoti é brilhante em seus primeiros planos e, ainda que caia um pouco com o decorrer da história, ainda consegue prender a atenção e fazer um curta bastante conciso e crítico. A escolha do elenco é um grande acerto, a começar por Flávio Pardal, muito crível como um prefeito almofadinha, mas que pretende dar uma guinada em sua carreira. A edição é interessante e o curta se mostra intencionalmente contundente.

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Alguns Tritões, de André Ehrlich Lucas (ES)

Aplaudido com entusiasmo pela plateia local que estava em peso no Theatro Carlos Gomes, Alguns Tritões começa muito bem ao colocar o diretor André Ehrlich Lucas como o Michael Moore capixaba, vivenciando de alguma forma as ações de seu curta e mostrando ideias engraçadas e curiosas, que funcionam bem com a edição caprichada do início. Passado esse primeiro momento, temos um documentário um pouco mais convencional, mostrando o cotidiano de um time de futebol americano de Vila Velha chamado Tritões. Cotidiano nada corriqueiro, diga-se, visto que não é sempre que temos uma equipe deste esporte disputando partidas no país. Se Lucas não tivesse esquecido dos maneirismos (no bom sentido) que povoaram o início do curta e tivesse temperado com esse mesmo bom humor o segundo ato, o curta seria ainda mais cativante. Ao final, sua verve cômica retorna e somos presenteados com um desfecho ao mesmo tempo excruciante e divertido. Um bom exercício que, com algumas arestas aparadas, poderia ser um documentário fora de série.

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A Copa do Mundo no Recife, de Kleber Mendonça Filho (PE)

O que o diretor do cultuado O Som ao Redor (2012) poderia querer falar sobre a Copa do Mundo no Recife? Esta era a dúvida na cabeça de muitos dos espectadores mais cinéfilos. E como não poderia deixar de ser, Kleber entrega um documentário crítico, com sua visão sempre arguta da sociedade brasileira. Muito se falou no fiasco que o Brasil seria em um evento internacional como este. O diretor coloca isso em perspectiva e mostra o que deu certo e o que deu errado em Recife, incluindo algumas pérolas como “as ruas da cidade não eram padrão FIFA”, quando sofreram com chuva torrencial no dia de um dos jogos. Kleber não evita em colocar o dedo na ferida e mostra as obras construídas que não fizeram grande diferença para o todo e como alguns pontos históricos que deveriam ser preservados estão simplesmente esquecidos. Como não poderia deixar de incluir, como réquiem, acompanhamos uma animada narração do início do jogo entre Brasil e Alemanha. Ainda que o jogo tenha sido em Belo Horizonte, foi um fato que afetou a todos. Um final ácido para um curta igualmente irônico. E excepcional. Exibido no Festival de Roterdã, na Holanda, e no 26º Festival Internacional de Curtas de São Paulo.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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