A função começou cedo no segundo dia do 26º Cine Ceará. A sala de debates recebeu os representantes dos filmes exibidos na noite anterior. Do curta-metragem Abissal, a produtora Bárbara Cariry e o diretor Arthur Leite. Do longa-metragem Avó, a atriz principal, Iraia Elias. A curiosidade dos jornalistas sobre filme brasileiro girou em torno da complexidade inerente ao processo enfrentado pelo diretor, o de desnudar segredos da própria família. Arthur disse que seu filme era incialmente um projeto para a televisão, de natureza diferente, ficcional. O estágio de pesquisa foi mostrando um novo caminho, que ele pretende desenvolver ainda mais nos realizações futuras, inclusive em seu primeiro longa, cujo roteiro está sendo escrito. Já Iraia Elias foi alvo de questionamentos não apenas pertinentes à realização de Avó, mas também à estrutura social que o filme de Asier Altuna Iza mostra, mais precisamente a dos caseríos, propriedades em processo de reconfiguração por conta das novas gerações.
Mais tarde, já no palco principal do evento, foi a vez da exibição de quatro curtas-metragens da mostra competitiva brasileira. O mineiro Quando é Lá Fora, dos diretores André Pádua e Leonardo Branco, é uma ficção-científica que se passa num futuro distópico. Nele, ao comportamento visceral e empobrecido visto no interior dos apartamentos, se contrapõem os movimentos geométricos e a assepsia dos espaços externos. As ideias são muito boas, a execução nem tanto, sobretudo em virtude da repetição contraproducente de procedimentos e da falta de um maior apuro visual. Logo após foi a vez do gaúcho O Teto Sobre Nós, de Bruno Carboni, ficção ambientada num prédio abandonado pelo poder público, ocupado por pessoas que não têm moradia. Além da ausência de uma maior contextualização político-social, importante ao tema abordado, sobram maneirismos, sobretudo no que diz respeito à imagem, âmbito mais preocupado com a plasticidade que propriamente com a produção de sentidos.
Dando sequência à programação, foi projetado o documentário paulista Usp 7%, de Daniel Mello e Bruno Bocchin, ótima reflexão sobre o racismo enraizado no cotidiano da Universidade de São Paulo, uma das mais tradicionais da terra da garoa. A objetividade e a clareza da linguagem, somadas à pungência dos relatos, garantiram a maior salva de palmas da noite. Fechando a exibição dos curtas, o cearense Monstro, de Breno Baptista, ganhou a tela do São Luiz. Feito essencialmente de fragmentos fotográficos estáticos, acompanhados pela narração melancólica de um amante que expõe de maneira muito sincera seus medos e anseios mais profundos, o filme é bem bonito, ainda que limitado pelas escolhas estéticas. A sessão do longa-metragem mexicano Epitáfio encerrou o segundo dia do Cine Ceará, numa sala infelizmente esvaziada. O filme dos jovens cineastas Yulene Olaizola e Rubén Imaz vai aos anos de 1500 para falar sobre a dominação espanhola no México. O ritmo lento e a reiteração prejudicam o resultado, enfraquecendo a representatividade da qual a imagem se encarrega.
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