26º Cine Ceará #03 :: Atrasos, homenagem a Dira Paes, e filmes abaixo da expectativa

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Marcelo Müller
Rubén Imaz e Yulene Olaizola conversam com os jornalistas. Foto Rogério Resende

Os termômetros de Fortaleza marcaram temperaturas próximas dos 30 graus no terceiro dia da vigésima sexta edição do Cine Ceará. A sala de debates recebeu as numerosas equipes dos curtas-metragens da noite anterior, bem como os dois realizadores mexicanos de Epitáfio (2015). O casal fez questão de ressaltar que seu trabalho é fruto da ânsia de problematizar a desolação que toma conta do mundo. Para isso e por isso, segundo eles, buscaram inspiração no passado a fim de contar uma história de obsessão, relativa à sanha expansionista dos europeus. Yulene Olaizola comentou a respeito das dificuldades climáticas impostas pelo calor fora de época, condição que atrapalhou os planos da equipe, pois reduziu a neve acumulada no vulcão que serviu de locação. Já Rubén Imaz discorreu um pouco sobre a teatralidade intencional do longa, fruto de uma vontade de resgatar a forma de falar e os gestos característicos dos militares espanhóis dos idos de 1500.

Dira Paes, que seria homenageada no domingo, veio à Fortaleza para receber sua honraria no sábado. A troca se deu por motivos profissionais. Houve atraso de praticamente uma hora e meia para o início dos trabalhos no Cine São Luiz, fato lamentável, até mesmo porque não houve qualquer justificativa aos que aguardavam. Antes de a atriz paraense subir ao palco, foi exibido o curta-metragem cearense Janaina Overdrive, de Mozart Freire, exercício cyberpunk sobre uma travesti robótica que busca digitalizar-se, pois ameaçada de reciclagem. É um filme curioso, que encontra sua força principal na criativa direção de arte, responsável por delinear um futuro essencialmente sucateado. Logo após, foi a vez, finalmente, de Dira Paes atrair para si os holofotes. Diferentemente de Chico Diaz, cujo discurso emocionado cativou o público, ela se conteve em agradecer e a exaltar a profissão de maneira um tanto burocrática, evitando, inclusive, tocar na esfera política, embora tenha mencionado a necessidade de uma reforma na área.

Dado o adiantado da hora, não foi possível o intervalo previamente programado, portanto houve a projeção em sequência dos dois longas-metragens da noite, partes da mostra competitiva ibero-americana. Primeiro, a produção brasileira Maresia, adaptação do livro Barco a Seco, de Rubens Figueiredo, protagonizado por Júlio Andrade. É um bom primeiro filme, prejudicado, sobretudo, pela dificuldade de correlacionar as duas linhas temporais. Logo depois, foi exibido o, até aqui, pior concorrente do evento, o panamenho Salsipuedes, realização marcada pela precariedade, esta que começa nas interpretações extremamente caricaturais, passa por uma encenação semelhante a das novelas ruins e desemboca na trama rocambolesca, centrada num imbróglio familiar. Provocou risos, embora se proponha a ser um drama.

Amanhã tem mais, continue acompanhando aqui no Papo de Cinema tudo o que acontece no 26º Cine Ceará.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.