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Como de costume na capital cearense, neste que é um dos festivais mais ensolarados (literal e metaforicamente falando) do país, o quarto dia começou agitado pelos debates acerca dos filmes exibidos na noite anterior. Mozart Freire, realizador local do divertido curta-metragem Janaina Overdrive, conversou com os jornalistas presentes sobre sua formação e a vontade de discutir questões de gênero, para isso se valendo de uma estética futurista, marcada pelo sucateamento da sociedade em contraste com os avanços tecnológicos. Questionado a respeito da eficácia do financiamento coletivo por meio do qual pretendia levantar o valor necessário à produção, Mozart disse que o insucesso da empreitada o obrigou a fazer o filme na raça, contando com a criatividade e as ajudas esporádicas de comerciantes locais.

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Dividindo a mesa com o curta-metragista, estava a equipe do longa-metragem brasileiro Maresia, formada pela produtora Katia Machado, o diretor Marcus Guttmann e os atores Pietro Bogianchin e Mariana Nunes. O teor da conversa girou em torno, basicamente, das curiosidades de produção, como o fato de o baixo orçamento ter influenciado algumas opções artísticas, o medo inicial do protagonista Júlio Andrade em fazer as cenas aquáticas, a preparação do restante do elenco e as rápidas quatro semanas necessárias às gravações. Após todos devidamente se apresentarem, cada um respondeu a questionamentos pertinentes a suas áreas, com destaque para o diretor Guttmann, que esclareceu pontos controversos da adaptação.

Um salto no tempo nos leva à noite, no Cine Ceará. A programação principal, desta vez, começou apenas 15 minutos atrasada, um recorde para esta edição. Primeiramente, foi exibido o curta-metragem Fotograma, de Luís Henrique Leal e Caio Zatti, ensaio poético sobre a imagem que, aos poucos, ganha forte significância como instrumento de denúncia das configurações responsáveis por propagar as cotidianas exclusões sociais, principalmente as de cunho racial. Na sequência foi a vez do também curta Índios no Poder, de Rodrigo Arajeju, um bom documentário que aborda a falta de representatividade indígena entre os legisladores.

O diretor de Menino 23, Belisario Franca e o professor Sidney Aguilar. Foto Chico Gadelha
O diretor de Menino 23, Belisario Franca, e o professor Sidney Aguilar. Foto Chico Gadelha

O programa dos longas começou com a projeção de Menino 23, de Belisario Franca, aguardada produção que parte de um caso aparentemente isolado, ocorrido no interior de São Paulo, para abordar, de maneira instigante, temas como nazismo, fascismo, eugenia e discriminação racial, tudo contextualizado no Brasil dos anos 1920 e 1930. Depois de um bem-vindo intervalo de 15 minutos, houve a apresentação fora de competição do documentário Do Outro Lado do Atlântico, de Daniele Ellery e Márcio Câmara. A presença maciça de entrevistados na plateia auxiliou o clima de celebração, fazendo desta a sessão mais animada do festival até agora, com palmas em cena aberta e uma forte participação da plateia. Uma festa com ritmos africanos, nas cercanias do São Luiz, encerrou uma noite que, assim, foi marcada pelo alto astral.

Continue acompanhando no Papo de Cinema tudo o que acontece no 26º Cine Ceará.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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