Entrando na reta final da vigésima sexta edição do Cine Ceará, já é possível dizer que, embora não tenha apresentado (até agora) nenhum filme arrebatador ou próximo de um consenso, o festival já cumpriu sua missão de vitrine, pois mostrou uma série de propostas distintas, tanto em curta quanto em longa-metragem. Outros pontos a se ressaltar são a estrutura oferecida, a gentileza da equipe de produção e das meninas da assessoria de imprensa, que facilitam, e muito, o trabalho por estas bandas. Dito isso, a segunda-feira começou agitada no hotel que sedia boa parte da programação do evento, com os debates dos filmes exibidos na noite anterior. Talvez o que mais tenha chamado a atenção, pois repercutido posteriormente nas rodas de conversa, foi o posicionamento do realizador Rodrigo Arareju, do curta-metragem Índios no Poder, que, assim como sua realização, propôs um debate sobre as questões indígenas, da demarcação ao genocídio pouco divulgado.
Já a noite no Cine São Luiz começou com um programa duplo de curtas-metragens. Primeiro, Uma Família Ilustre, de Beth Formaggini, contundente relato de episódios da ditadura militar. Embora formalmente convencional, cumpre um importante papel, o de expor as barbáries praticadas pelo regime sangrento, dando voz a um então líder de alta patente que hoje confessa seus crimes. Logo depois, Noite Escura de São Nunca, de Samuel Lobo, um experimento meio sem pé nem cabeça, no qual se alternam o cotidiano de duas jovens num cortiço carioca e os sintomas da loucura (literal e/ou metafórica) de uma mulher de meia idade. Samuel disse antes da sessão que sua realização pretendia problematizar a questão dos espaços numa cidade grande como o Rio de Janeiro, algo, contudo, não visto na tela.
Infelizmente ausente do evento, a diretora polonesa Aleksandra Maciuszek mandou um vídeo à plateia, no qual disse sentir-se pesarosa por não estar ali, desejando a todos uma boa sessão. E foi o que realmente ocorreu com o seu Casa Blanca, cuja concisão e a imperceptibilidade do dispositivo cinematográfico enriquecem a experiência de acompanhar as relações de uma mãe já idosa e de seu filho portador de Síndrome de Down, isso num um bairro de pescadores em frente ao porto de Havana. Em seguida foi a vez do prata-da-casa Petrus Cariry subir ao palco para apresentar Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois, um drama existencial repleto de silêncios e de simbologias, que coloca em choque a figura feminina, interpretada por Sabrina Greve, com os homens à sua volta, sobretudo com o pai.
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