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Embora seja mexicano de nascimento, o ator Chico Diaz, um dos principais homenageados desta vigésima sexta edição do Cine Ceará, possui uma imagem fortemente identificada com o que podemos chamar de homem comum e essencialmente brasileiro. Sua ligação com o Nordeste, mais precisamente com o Ceará, é de recíproco respeito e admiração, em virtude dos trabalhos que aqui ele realizou, grande parte responsáveis por torná-lo uma figurinha carimbada, porém não repetitiva, no cenário brasileiro, seja do teatro, da televisão ou mesmo do cinema, uma de suas principais paixões. Numa mesa redonda com jornalistas, entre as coletivas da manhã e a bem-vinda pausa para o almoço, o papo flui fácil, impulsionado pela verve apaixonada do entrevistado que, então, descontrai o ambiente, quebrando distinções.

Ele começa mencionando o quão importante é receber uma honraria como a conferida na noite de abertura do Cine Ceará.  Confessa não ter a real dimensão do que aquilo se trata, mas que experimentou algo próximo dessa compreensão ao ver a plateia o aplaudindo em pé, reverenciando seus mais de quarenta anos de carreira, numa ruidosa salva de palmas. “Deu um nó aqui”, diz ele apontando para a garganta, fazendo um gesto alusivo ao efeito físico da emoção que dele tomou conta. Após discorrer sobre as manifestações de cunho político que ocorreram no Cine São Luiz, da qual também se fez partícipe por questões ideológicas, ele continua a responder gentilmente aos questionamentos que, neste instante, já não estão mais carregados de solenidade e de distanciamento. Chico Diaz fala e ouve, atentamente.

Wolney Oliveira, diretor do Cine Ceará, e Chico Diaz - Foto Arlindo Barreto
Wolney Oliveira, diretor do Cine Ceará, e Chico Diaz – Foto Arlindo Barreto

Perguntado sobre os diretores que mais marcaram sua carreira, ele cita, não sem antes ressalvar a possibilidade de estar esquecendo alguém muito importante, Sérgio Rezende, Beto Brant, Rosemberg Cariry e Claudio Assis, este com quem, aliás, diz ter deixado no passado as desavenças. A celeuma em questão ocorreu na época da celebração de Amarelo Manga (2003), filme no qual Chico interpreta um açougueiro. O cinema mexicano, não por acaso, é um dos que mais lhe atrai. Ele cita Guillermo Arriaga, com quem colaborou no projeto Falando com Deuses (2014), como um profissional com o quem gostaria de trabalhar novamente. Chico fala de maneira entusiasmada do cinema latino-americano, referindo-se a O Clube (2015) como exemplo de excelência, expondo que gostaria muito de trabalhar mais amplamente no cinema do nosso continente, fora das fronteiras brasileiras, em produções de língua hispânica.

Chico Diaz comenta a surpreendente repercussão de seu trabalho recente na novela Velho Chico, da Rede Globo. Segundo ele, seu personagem, Belmiro, não requereu muita elaboração, já que utilizou seu falecido pai como referência. Chico considera o diretor Luiz Fernando Carvalho um artista diferenciado, bastante inteligente e que tem pleno domínio das ferramentas narrativas. Perguntado sobre a colaboração com cineastas novatos, ele diz que é um processo muito enriquecedor, principalmente em virtude da “virgindade” do condutor, então repleto de uma energia que, às vezes, pode rarear em diretores tarimbados e já mais cientes de seus processos criativos. Ele não se preocupa com a questão midiática, mas sabe que seu nome pode ajudar produções pequenas a encontrar públicos.

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Para o futuro, Chico Diaz planeja, além da continuidade na seara da interpretação, a estreia atrás das câmeras, com a adaptação de A Luz vem da Ásia, romance surrealista de Campos de Carvalho, levado anteriormente por ele próprio aos palcos num monólogo de muito sucesso. O roteiro já está no quarto tratamento, a captação de recursos em curso, e o elenco, que contará com mais ou menos 12 atores, fora os extras, já conta com Marieta Severo e Matheus Nachtergaele confirmados. A previsão é de que as gravações iniciem em meados de maio de 2017. Chico não descarta ceder a cadeira de diretor a alguém, se isso significar a garantia da verba necessária e/ou maior dedicação sua à composição do protagonista. Neste ano em que o emblemático Corisco e Dadá (1996) comemora 20 anos, nada melhor que reverenciar aquele que deu vida, como poucos, aos diversos tipos de brasileiros, mas, sobretudo, ao homem do povo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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