País do Desejo não é um filme bom. O roteiro parece descosturado, solto. A montagem é arrastada, lenta em demasia, preguiçosa, por vezes- afinal, qual é o motivo de um mesmo plano ser filmado várias vezes e ser inserido igualmente várias vezes na história, como é o caso do personagem de Fábio Assunção dirigindo? Pode-se alegar uma desconstrução emocional do personagem, que dirige o seu carro para refletir sobre a vida, talvez. Mas haja paciência demais e elipses de menos. O longa de Paulo Caldas não prende a atenção do espectador, não emociona, não toca, nem ao menos incomoda.
Ao menos até o dia seguinte, no horário do debate.
Aqui em Gramado, cada filme da mostra competitiva é debatido no dia seguinte à sua exibição. E o debate de País do Desejo foi riquíssimo, descontraído e, sobretudo, esclarecedor.
A equipe do longa soube fazer nesta conversa o que não conseguiu com o próprio filme: vender as ideias que quase nenhum espectador parece ter comprado durante a exibição da noite anterior. As já mencionadas sequências do padre de Fábio Assunção no carro, os toques surreais com a personagem da enfermeira japonesa, o ritmo da montagem, os personagens que parecem um tanto deslocados. Paulo Caldas parece ter conseguido convencer a maioria dos presentes no debate que seu filme é, sim, autoral (ao contrário do que alguns críticos afirmaram durante a conversa), sem fronteiras, assumidamente melodramático, e que toca em assuntos e esferas da sociedade brasileira que normalmente não são contemplados no cinema feito aqui: a elite, a música erudita, personagens ricos e não-vilões, a igreja católica.
E aí está todo o problema de País do Desejo: ele é digerido muito lentamente.
O longa vai acabar esbarrando no eterno gargalo do cinema brasileiro: o potencial de exibição para um grande público. Provavelmente, poucas serão as salas de cinema que vão oferecer um bom espaço de debates como este que existe em Gramado – aliás, sempre o ponto alto do Festival. Apesar do pouco potencial de público, País do Desejo chega aos cinemas em março do ano que vem, distribuído pela Europa Filmes, sem nenhuma correção ou mudança, como prometeu Paulo Caldas. Tomara que o grande público perceba todas as sutilezas e não precise de um debate de uma hora e meia para aceitar bem as ideias escondidas no filme. Do contrário, será mais uma de tantas exibições de uma semana, duas, no máximo, nas salas de todo o país.