A noite de quinta-feira deu o ar da graça, literalmente, com o cartão de visitas colombiano chamado García (abaixo), uma comédia divertida que não deixou de tocar em temas caros à alma humana, como a solidão, o amor, a traição, a amizade. A co-produção Brasil/Colômbia é a primeira reconhecida pela Ancine, foi a 4ª maior bilheteria do ano na Colômbia, e é bancada pela mesma empresa que co-produziu o ótimo e premiadíssimo filme chileno Tony Manero (2008).
O longa do diretor José Luis Rugeles por vezes é muito engraçado, pura comédia; por outras, é um drama dos mais tocantes, mexendo com questões muito profundas de amizade, confiança e amor – ponto destacado pelo próprio diretor no debate sobre o longa na sexta de manhã, quando ele contou que um dos produtores lia o roteiro e ria muito, enquanto ele próprio chorava ao acompanhar a história de García. Essas sutilezas acabam saltando aos olhos do espectador graças às habilidades do elenco, com destaque para Fabio Restrepo (“Gómez”), ator que vive até hoje em uma favela colombiana e foi descoberto por acaso para o filme.
Depois da premiação da Mostra Gaúcha de Curtas, o público do Palácio dos Festivais foi apresentado a O Carteiro, de Reginaldo Faria (abaixo). O diretor, que não comandava um projeto atrás das câmeras há 27 anos, foi cobrado na manhã de debates pelo seu discurso um tanto rancoroso frente aos espectadores antes da exibição. Sua desculpa é que “é muito difícil filmar no Brasil“, e que ele estaria sendo injustiçado por não conseguir captar recursos para um projeto. O que ele parece ter esquecido é que “meio ano batendo nas portas de empresas” para buscar patrocínios é um trabalho muito tranquilo perto da dificuldade de equipes que ficam anos e anos até conseguir um orçamento muito menor do que 1.3 milhões para fazer cinema (situação deveras comum por essas bandas).
Apesar de errar a mão no roteiro e a na direção em vários momentos, especialmente no ato final, O Carteiro tem certa “ingenuidade poética”, destacada pelo grande Anselmo Vasconcellos no debate – Característica, aliás, assumidamente inspirada em comédias italianas dos anos 60 e 70. Anselmo e Zé Victor Castiel, dois veteranos na comédia, são coadjuvantes da mais alta conta ao lado da dupla de amigos formada por Candé Faria e Felipe de Paula (a quem a dupla de veteranos dedicou longos minutos de elogios pelo trabalho desenvolvido no filme).
O Carteiro diverte. O público do Palácio dos Festivais riu bastante, e alto. Vamos ver como o longa se sai no circuito comercial.
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