Com a trégua climática que permitiu uma maior movimentação nos entornos e interior do Palácio dos Festivais, o terceiro dia do Festival de Gramado evidenciou as características principais pelas quais o tradicional evento deve ser reconhecido: curtas e longas-metragens de extrema qualidade em exibição intercalados entre as pontuais falas de cineastas e as cerimônias de premiação.

Jaime Lerner e Marcos Santuário Crédito para Edison Vara
Foto: Edison Vara

Após a reprise matinal de Éden (2012), longa-metragem de Bruno Safadi exibido no sábado à noite, a segunda leva de curtas em competição na Mostra Gaúcha pelo Prêmio Assembleia Legislativa lotou o palácio, que ficou dividido entre realizadores e espectadores ávidos pelas dez sessões que ocorreriam sequencialmente – entre os nove filmes concorrentes e um homenageado.

Apresentados por seus diretores e equipe de realização, os curtas do segundo dia de mostra revelaram três novos documentários, com destaque para dois deles que possuem o cinema como tema principal: As Memórias do Vovô, de Cíntia Langie, e Os Filmes Estão Vivos, de Fabiano Souza e Milton do Prado – este último e excelente trabalho também integra a Mostra Competitiva de Curtas Brasileiros.

Vencedor O Matador de Bagé01

À expectativa pela entrega dos prêmios da Assembleia Legislativa, após uma providencial pausa, a Mostra Competitiva de Curtas Brasileiros revelou dois novos selecionados: o pastiche cômico O Matador de Bagé, de Felipe Iesbick, e o tocante A Navalha do Avô, de Pedro Jorge, que deu espaço para os dons interpretativos do mestre Jean-Claude Bernardet. As prévias antecederam o segundo longa estrangeiro em competição: El Padre de Gardel, de Ricardo Casas, revela em tons didáticos e um pouco enfadonhos a curiosa história que cerca o pai do mais famoso cantor do tango argentino. Ao lado de Puerta de Hierro – El Exílio de Perón, apresentado no dia anterior, percebe-se uma particularidade da mostra ao destacar obras sobre grandes personagens da história latino-americana.

Outro intervalo, novo atraso, Palácio dos Festivais mais uma vez lotado. A cerimônia de premiação reservada para a noite se iniciou com duas merecidas homenagens: ao realizador porto-alegrense Antônio Carlos Textor e à Associação Brasileira de Documentaristas. Textor, que havia apresentado na mesma tarde o curta hors concours A Liga dos Canelas Pretas, dirigido em parceria com Carlos Badia, recebeu a láurea evidentemente emocionado. O cineasta Jaime Lerner, presidente da ABD, agradeceu a distinção com uma importante fala acerca das incumbências do poder público, que, por não atender as demandas e dificuldades de cineastas, reiteram a importância de associações como a que representa.

homenagem

Eis que o momento ansiosamente esperado por grande parte do público presente se inicia: são revelados os vencedores da mostra de curtas gaúchos. Dentre os 18 filmes concorrentes, nove saíram laureados, tendência que revela uma distribuição – algumas vezes injusta – entre as produções exibidas. Com três troféus – melhor trilha, ator e filme da mostra – O Matador de Bagé consagrou a produção universitária de Felipe Iesbick, que não escondeu a empolgação em seus discursos. O estranho Férias garantiu para Iuli Gerbase a melhor direção da noite, assim como a melhor direção de arte para Pedro Karam. Kassandra, de Ulisses da Motta Costa, um dos mais originais e bem produzidos curtas apresentados, teve que se contentar com o troféu de melhor fotografia para Pablo Chasseraux.

Depois dos habituais atrasos nesse terceiro dia de programações, uma das situações mais surpreendentes da edição do Festival de Gramado – depois do desmaio do representante da Oi – foi registrada. Ao encerramento das premiações, pelo menos metade dos espectadores deixou o palácio aos ecos da apresentação de um novo curta e longa-metragem em competição, que seriam exibidos na sequência. A atitude demonstra um descaso, em especial por parte de algumas equipes dos curtas concorrentes, que não se importaram em prestigiar nada além de seus próprios filmes.

tatuagem
Tatuagem, de Hilton Lacerda

A atitude pouco elegante dos desistentes acabou por demonstrar uma grande perda para eles próprios. Tanto o paulista Arapuca, de Hélio Villela Nunes, quanto Tatuagem, de Hilton Lacerda, deixaram expectadores em êxtase coletivo quando apresentados. O longa de Lacerda, em especial, evidenciou a força do cinema pernambucano contemporâneo e o talento inegável de Irandhir Santos, que já desponta como um dos favoritos ao Kikito de interpretação masculina. A obra, imperdível, deve ganhar as telas do país em novembro com a distribuição da Imovision.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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