41º FestCine Gramado – Dia 03: Prêmios da Assembleia Legislativa e a marca de Tatuagem

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Conrado Heoli

Com a trégua climática que permitiu uma maior movimentação nos entornos e interior do Palácio dos Festivais, o terceiro dia do Festival de Gramado evidenciou as características principais pelas quais o tradicional evento deve ser reconhecido: curtas e longas-metragens de extrema qualidade em exibição intercalados entre as pontuais falas de cineastas e as cerimônias de premiação.

Jaime Lerner e Marcos Santuário Crédito para Edison Vara
Foto: Edison Vara

Após a reprise matinal de Éden (2012), longa-metragem de Bruno Safadi exibido no sábado à noite, a segunda leva de curtas em competição na Mostra Gaúcha pelo Prêmio Assembleia Legislativa lotou o palácio, que ficou dividido entre realizadores e espectadores ávidos pelas dez sessões que ocorreriam sequencialmente – entre os nove filmes concorrentes e um homenageado.

Apresentados por seus diretores e equipe de realização, os curtas do segundo dia de mostra revelaram três novos documentários, com destaque para dois deles que possuem o cinema como tema principal: As Memórias do Vovô, de Cíntia Langie, e Os Filmes Estão Vivos, de Fabiano Souza e Milton do Prado – este último e excelente trabalho também integra a Mostra Competitiva de Curtas Brasileiros.

À expectativa pela entrega dos prêmios da Assembleia Legislativa, após uma providencial pausa, a Mostra Competitiva de Curtas Brasileiros revelou dois novos selecionados: o pastiche cômico O Matador de Bagé, de Felipe Iesbick, e o tocante A Navalha do Avô, de Pedro Jorge, que deu espaço para os dons interpretativos do mestre Jean-Claude Bernardet. As prévias antecederam o segundo longa estrangeiro em competição: El Padre de Gardel, de Ricardo Casas, revela em tons didáticos e um pouco enfadonhos a curiosa história que cerca o pai do mais famoso cantor do tango argentino. Ao lado de Puerta de Hierro – El Exílio de Perón, apresentado no dia anterior, percebe-se uma particularidade da mostra ao destacar obras sobre grandes personagens da história latino-americana.

Outro intervalo, novo atraso, Palácio dos Festivais mais uma vez lotado. A cerimônia de premiação reservada para a noite se iniciou com duas merecidas homenagens: ao realizador porto-alegrense Antônio Carlos Textor e à Associação Brasileira de Documentaristas. Textor, que havia apresentado na mesma tarde o curta hors concours A Liga dos Canelas Pretas, dirigido em parceria com Carlos Badia, recebeu a láurea evidentemente emocionado. O cineasta Jaime Lerner, presidente da ABD, agradeceu a distinção com uma importante fala acerca das incumbências do poder público, que, por não atender as demandas e dificuldades de cineastas, reiteram a importância de associações como a que representa.

Eis que o momento ansiosamente esperado por grande parte do público presente se inicia: são revelados os vencedores da mostra de curtas gaúchos. Dentre os 18 filmes concorrentes, nove saíram laureados, tendência que revela uma distribuição – algumas vezes injusta – entre as produções exibidas. Com três troféus – melhor trilha, ator e filme da mostra – O Matador de Bagé consagrou a produção universitária de Felipe Iesbick, que não escondeu a empolgação em seus discursos. O estranho Férias garantiu para Iuli Gerbase a melhor direção da noite, assim como a melhor direção de arte para Pedro Karam. Kassandra, de Ulisses da Motta Costa, um dos mais originais e bem produzidos curtas apresentados, teve que se contentar com o troféu de melhor fotografia para Pablo Chasseraux.

Depois dos habituais atrasos nesse terceiro dia de programações, uma das situações mais surpreendentes da edição do Festival de Gramado – depois do desmaio do representante da Oi – foi registrada. Ao encerramento das premiações, pelo menos metade dos espectadores deixou o palácio aos ecos da apresentação de um novo curta e longa-metragem em competição, que seriam exibidos na sequência. A atitude demonstra um descaso, em especial por parte de algumas equipes dos curtas concorrentes, que não se importaram em prestigiar nada além de seus próprios filmes.

Tatuagem, de Hilton Lacerda

A atitude pouco elegante dos desistentes acabou por demonstrar uma grande perda para eles próprios. Tanto o paulista Arapuca, de Hélio Villela Nunes, quanto Tatuagem, de Hilton Lacerda, deixaram expectadores em êxtase coletivo quando apresentados. O longa de Lacerda, em especial, evidenciou a força do cinema pernambucano contemporâneo e o talento inegável de Irandhir Santos, que já desponta como um dos favoritos ao Kikito de interpretação masculina. A obra, imperdível, deve ganhar as telas do país em novembro com a distribuição da Imovision.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.

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