Em uma noite fria e chuvosa, portanto nada diferente do usual para o inverno gaúcho na serra, teve início a 41ª edição do Festival de Cinema de Gramado. No Palácio dos Festivais, a abertura contou com a exibição (fora de competição) do longa-metragem Flores Raras, de Bruno Barreto, com a presença do diretor, dos produtores Lucy e Paula Barreto, e da estrela do filme, Glória Pires, também homenageada na noite.
A cerimônia de abertura começou com certo atraso, com sala cheia para acompanhar a programação do primeiro dia de Festival. Abertura esta que não aconteceu sem imprevistos. Durante o discurso dos patrocinadores da festa, o desmaio do representante da Oi após apenas três palavras deixou mais curto o que devia ser um breve comunicado para os presentes. Felizmente, o mal-estar foi passageiro, segundo a organização do evento. Depois dos tradicionais comunicados do Festival e do discurso do prefeito da cidade de Gramado Nestor Tissot, os apresentadores da festa, o ator Leonardo Machado e a apresentadora Renata Boldrini, começaram os trabalhos da programação cinematográfica. Como novidade, uma música tema do Festival foi executada, escrita por Carlos Badia, e entregue oficialmente ao prefeito logo após a apresentação.
Antes da exibição de Flores Raras, o filme foi apresentado pela equipe do longa, com direito a breves discursos do diretor, Bruno Barreto, da produtora Lucy Barreto e da atriz Glória Pires. O cineasta dividiu com a plateia sua paixão pela história, ainda que tenha demorado a lhe chamar a atenção o romance entre a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares e a poetisa norte-americana Elizabeth Bishop. Foi só depois de anos, ao ler o livro que deu origem ao roteiro, que Barreto sentiu-se impelido a transformar aquela história em filme. Já Lucy, sem muito estardalhaço, revelou que esta foi a última produção em que participará ativamente, visto que o “set é duro demais” para uma mulher de sua idade, como comentou. A tocha foi passada para sua filha, Paula Barreto. Glória Piresteve de interceder durante o discurso de Lucy, lembrando que é importante que todos que gostaram do filme compartilhem o que acharam nas mais variadas redes sociais.
No momento de maior destaque da noite, a homenagem a Glória Pires, uma bela montagem uniu diversos personagens que a atriz viveu tanto na tevê como no cinema, costurados a entrevistas cedidas por ela em momentos distintos. Glória chegará aos 50 em 2 de outubro e tem uma carreira de quase 45 anos dedicados à dramaturgia. Para homenageá-la, Luiz Carlos Barreto subiu ao palco, ao lado de sua mulher Lucy, para entregar o troféu Oscarito para sua “filha no cinema”. O apelido não é gratuito. O primeiro papel da atriz na tela grande foi produzido pela família, Índia – A Filha do Sol (1982), com direção de Fábio Barreto. Barretão relembrou a produção durante sua fala no palco e citou a música de Caetano Veloso, Luz do Sol, trilha do filme, como melhor definição para o talento da atriz: “A glória da vida”. Por sua vez, Glória agradeceu pelo prêmio, relembrou os diretores que lhe deram oportunidades no cinema, como Fábio, Anna Muylaert, Daniel Filho e, em especial, a Bruno, seu “novo irmão”. Dedicou o prêmio a seu pai, o também ator Antônio Carlos Pires.
Passado o momento da homenagem, era chegada a hora de Flores Raras ser exibido. O longa-metragem, quase todo falado em inglês, é um trabalho sensível e interessante sobre o amor entre duas pessoas. Barreto não se prende ao gênero daquelas duas amantes, fazendo um filme visualmente bonito (as cenas em Samambaia enchem os olhos) e com performances poderosas de suas protagonistas. Tanto Glória Pires quanto Miranda Otto conseguem pontuar muito bem os momentos distintos de suas personagens. A primeira encarna um dos melhores papéis de sua carreira, dominando a tela e chamando sempre a atenção para si. A língua não foi empecilho para a atriz, falando um inglês muito fluente. Já Otto, até pela personagem frágil, demora um pouco mais para desabrochar. No entanto, quando deslancha, principalmente a partir do segundo ato, consegue roubar algumas das melhores cenas para si.
Recebido com aplausos pela plateia no Palácio dos Festivais, Flores Raras foi um bom início para uma festa que promete bons longas-metragens durante a semana. E, claro, o Papo de Cinema vai acompanhar todos e contar tudo para você, caro leitor.
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