O Prêmio Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul é concedido anualmente dentro da programação do Festival de Cinema de Gramado e tem como objetivo reconhecer o melhor do que tem sido produzido no estado a cada ano, sempre como foco no formato de curtas-metragens. Se até o final do século passado essa mostra, que tem caráter competitivo, exibia todos os curtas aqui realizados, de um tempo pra cá tem sido necessário uma comissão de seleção, que escolha apenas os melhores para serem apresentados durante o evento serrano. Neste ano, a comissão de seleção foi formada pelos críticos de cinema Fatimarlei Lunardelli e Leonardo Bomfim, pelo jornalista e escritor Gustavo Machado, pelo diretor e roteirista Pedro Guindani e pela diretora de arte Gilka Vargas, que escolheram 19 títulos entre mais de setenta produções inscritas. Divididas em dois programas, cada um com dez obras (na segunda foi exibido um extra, fora de competição), elas ocuparam a tela do Palácio dos Festivais nas tardes de sábado e domingo, no primeiro fim de semana da programação oficial. O Papo de Cinema, é claro, esteve presente, e comenta aqui um pouco sobre cada um destes primeiros curtas exibidos.
O Corpo (Porto Alegre, 2015)
Apesar da produção ser da capital gaúcha, a história é ambientada no interior de Bento Gonçalves, cidade da serra de forte imigração italiana. Lá somos apresentados a uma família – pai e mãe, interpretado com vigor por César Troncoso e Janaína Kremer, mais filho – que encontra uma menina desfalecida no meio da mata. Nas primeiras cenas, o garoto é obrigado a matar uma galinha para garantir o jantar da noite. Mais adiante, será outra morte que tomará a ação, visando assegurar um tipo diferente de fome. Fotografado com esmero e com uma bela composição de direção de arte, o filme flerta com o realismo fantástico e ganha pontos pelo final em aberto, que dialoga com o espectador.
Entre Nós (Pelotas, 2015)
“Três vidas, consumidas pela dor, tem seus destinos cruzados”. Assim se apresenta essa produção do Centro das Artes, da Universidade Federal de Pelotas. Com direção de Maciel Fischer, a história tangencia o formato coral tão difundido pelo cinema de Robert Altman ou Paul Thomas Anderson, entre outros, em que personagens aparentemente aleatórios tem suas vidas unidas pelo um evento em comum. A realização, no entanto, é um pouco hermética, e deixa a desejar em mais de um momento.
De que lado me Olhas (São Leopoldo, 2014)
Assim como o anterior, esse também é resultado de trabalho universitário – no caso, de alunos da Unisinos, em São Leopoldo. As diretoras Carolina de Azevedo e Elena Sassi fazem um belo e sensível documentário sobre jovens que não se encaixam na definição de gênero. Afinal, são homens? Mulheres? Gays? Lésbicas? Travestis? Transexuais? Hermafroditas? A pesquisa é abrangente, e todos possuem oportunidade de falar e de serem ouvidos. Também são felizes em não procurar respostas para as questões levantadas – essa tarefa é muito mais do espectador (e da sociedade como um todo) do que de apenas um filme.
Rito Sumário (Porto Alegre, 2015)
Com uma belíssima fotografia de Pablo Chasseraux e uma edição precisa de Drégus Oliveira, o novo curta de Alexandre Derlam – diretor dos longas Papão de 54 (2005) e de Mais uma Canção (2012) – prima pelo roteiro conciso e pela boa atuação do trio de atores principais – Carlos Azevedo, Fernando Waschburger e Bebeto Alves. É um curta assumido e em sua melhor forma, que não anseia em ser longa e se resolve por completo dentro dos seus cerca de dez minutos de duração. Mais do que suficientes para narrar sua trama e deixar a audiência com gosto de quero mais.
Arte da Loucura (Porto Alegre, 2014)
As diretores Mirela Kruel e Karine Emerich aproveitaram a passagem da trupe de atores italianos da Accademia della Follia pelo Rio Grande do Sul para registrarem uma interessante interação – dos artistas com os pacientes internos do Hospital Psiquiátrico São Pedro, na capital. Através de depoimentos contundentes e bem selecionados, a arte e a loucura revelam suas similaridades e proximidades, além de explicitarem o efeito que uma tem na outra. Assumidamente desenvolvido em um formato tradicional, não surpreende, mas emociona na medida certa.
Kaali (Porto Alegre, 2015)
Uma curiosa coprodução entre Brasil e Estônia, esse curta dirigido pelo gaúcho Gabriel Motta Ferreira enquanto de passagem pelo país do leste europeu narra uma história fantástica sobre a visita de uma tia e seu sobrinho a uma cratera de um antigo meteoro, e o que lá descobrem terá efeitos devastadores em ambos. Bem produzido e intrigante até certo ponto, se apoia por demais no exotismo dos cenários e da linguagem – é todo falado em estoniano – e menos no enredo, que deixa muitos pontos em aberto para resultar em algo minimamente satisfatório.
Da vida só espero a morte (Porto Alegre, 2014)
Este é o legítimo representante da “Escola Jorge Furtado de Cinema”. Ou seja, quem assistiu aos títulos mais conhecidos do realizador, como Ilha das Flores (1989) e Esta Não é a Sua Vida (1991), por exemplo, sabe bem ao que estamos nos referindo. Com uma constante narração em off e um flerte com o cinema de inspiração LGBT, acompanhamos a monótona rotina de Nestor (Edgar Mayer, em boa atuação) até o dia em que ele decide mudar as coisas, libertando-se de uma antiga maldição. Bem editado e com uma fotografia colorida, peca apenas pela previsibilidade do enredo, que carece de um elemento-surpresa para ser de fato intrigante.
Plano (Porto Alegre, 2015)
Assumidamente um filme de viagem – como os próprios realizadores assumem na tela – a câmera acompanha Carlos Dias, Virginia Simone e Matheus Valter (também diretores) em uma viagem de Porto Alegre até Buenos Aires, passando por cidades paradas no tempo do interior do Rio Grande do Sul e do Uruguai, e os registros que vão deixando pelo caminho em pichações artísticas e exposições improvisadas. Como o destino pouco parece importar, resta as sensações e experiências vividas pelo caminho, que não deixam de serem um pouco repetitivas. Curioso, mas não mais do que isso.
Bruxa de Fábrica (São Leopoldo, 2014)
Com uma bela fotografia em preto-e-branco, somos convidados a acompanhar o tormento de uma garota (Gabriela Poester, presente também em O Corpo) por suas noites insones pelo barulho dos mosquitos e pelo crescente fascínio que uma fábrica abandona passa a exercer sobre ela. Sonho e realidade se confundem, em uma realização que investe muito no estilo e pouco no conteúdo. Ainda assim, graças ao formato assumido, isso parece ser suficiente. A conclusão, mesmo que previsível, é bem executada e funciona para que o todo se destaque.
Madrepérola (São Leopoldo, 2014)
Assim como De Que Lado Me Olhas, esse também é um documentário feito por alunos da Unisinos preocupados com uma causa social que merece maior visibilidade. Mas se antes se falava de orientações sexuais, a questão aqui é a gordofobia, ou o preconceito contras meninas acima do peso. São poucas entrevistadas – talvez tenha faltado uma maior pesquisa – mas os depoimentos são sinceros e comoventes. Pela relevância do tema, já ganha pontos. Mas o resultado é por demais convencional, deixando evidente o caráter estudantil do projeto.
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