Uma mostra ampla de talentos gaúchos. Este é o perfil do Prêmio Assembleia Legislativa: Mostra Gaúcha de Curtas, que exibe, em duas tardes, a nata do trabalho realizado por curta-metragistas do estado do Rio Grande do Sul. Neste ano, foram escolhidas 19 produções. O primeiro programa, com 10 curtas, foi exibido no sábado, dia 08. Para conferir comentários sobre estes filmes, clique aqui.
O segundo programa de curtas-metragens exibido no Palácio dos Festivais na tarde do domingo reservou algumas boas surpresas e um momento emocionante. De surpresas, produções cada vez mais profissionais e profundas de estudantes e recém-formados. A emoção ficou por conta da exibição fora de concurso do curta Por entre as Frestas, de Luini Nerva. A realizadora faleceu em junho, após lutar muitos anos contra uma severa doença, e seus familiares e amigos estiveram na sessão para conferir a produção, tributo a outro notável gaúcho que nos deixou há pouco tempo, Nico Nicolaiewsky. O Papo de Cinema conferiu este segundo programa e conta tudo o que viu por lá.
Gustavo Spolidoro é conhecido por seus trabalhos arrojados, pouco ortodoxos. Neste curta, o estilo do cineasta está intacto. Utilizando o sonho para construir uma narrativa verdadeiramente onírica, o diretor é feliz ao embarcar sem medos pelo desconhecido e construir um filme que tem um quê de surrealismo.
Trabalhando de forma consciente o gênero do horror, Cristian Verardi entrega um pesadelo em formato curto. A história de um projecionista que encontra um rolo de filme que avisa que não deve ser projetado ou aberto é a gênese de uma história apavorante, com direito a rituais macabros, máscaras assustadoras, vômitos e toda sorte de signos condizentes com o horror. É um esforço maiúsculo de um realizador que tem na palma da mão todas as artimanhas do gênero.
Só o título já é bem sacado. O curta também diverte. Comédia com Zé Victor Castiel e Rafael Pimenta (ambos hilários), conta a história de um escritor que se vê às voltas de um homem viciado em roleta russa que busca um escriba competente para assinar uma carta de suicídio. A direção de arte é muito bem concebida e fora uns problemas de áudio (a dublagem em alguns momentos é escancarada), o curta de Maurício Canterle Gonçalves cumpre o que promete com louvor.
Giordano Gio já havia exibido em Gramado no ano passado um curta na Mostra Gaúcha intitulado Os Meninos Perdidos, uma ode aos filmes da Sessão da Tarde. Neste ano, ele aparece em registro completamente diferente. Apontando sua câmera para um senhor, velho ferreiro, que observa sua casa cair aos pedaços, o filme faz uma interessante reflexão a respeito do tempo e do amor do filho por seu pai – ainda que os dois sejam notadamente diferentes.
Utilizando das manifestações que foram a tônica do ano de 2014 no Brasil, o diretor Daniel De Bem constrói uma obra que trabalha tanto o social quanto o emocional. Na trama, um casal de namorados se divide. Enquanto um se junta aos manifestantes, o outro permanece em seu apartamento, tendo apenas o contato com os barulhos da rua. Com ótima edição de som, Pele de Concreto também impressiona pela edição das imagens, conseguindo fazer um impactante retrato daquele período.
A perda e os perigos do mundo real se apresentam ao jovem Pedro neste curta, dirigido por Luciana Mazeto e Vinícius Lopes. Após perder os pais, ele tem dois encontros cruciais: com dois perigosos homens e com uma bondosa mulher. Esse contato imediato com o mal e com o bem são divisores de águas para aquele jovem, que precisa (ou quer) forçosamente se transformar no homem de seus caminhos.
Ana Cris Paulus, Boca Migotto e Felipe Gue Martini encontram figuras curiosíssimas e apaixonantes que falam, primeiramente, sobre seu amor pela gaita. A gênese da conversa pode ter sido o instrumento musical, mas os depoentes vão além, contando fatos curiosos de sua trajetória, falando como suas vidas mudaram após um evento traumático que deixou boa parte da cidade sem emprego e como suas existências dependem dessa relação entre os consertadores.
Duas amigas sozinhas em casa vão do céu ao inferno, com sua amizade sendo testada a cada novo diálogo. Verdades duras são colocadas à mesa. Em seu curta, Teresa Assis Brasil parte de uma premissa interessante: uma moça que liga, com uma caneta marcador, os sinais nas costas dos homens que passa a noite. Este é o início de transformações pelas quais as duas garotas passam. As atrizes parecem ter um pouco de dificuldade com o texto, mas o resultado final acaba sendo positivo.
Um dos curtas mais poéticos deste programa, o filme dirigido por Alexandre Rossi coloca um grupo de artistas tendo de enfrentar a ausência do público, os mandos e desmandos de uma diretora autoritária e a vida real, comum. Ida Celina e Áurea Baptista são destaques neste elenco, vivendo papéis completamente diferentes: a apaixonada artista e a ditadora da arte. No meio destes dois extremos, jovens amantes do ofício, mas que precisam de um empurrão para evoluírem.