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O sexto dia de atividades no 43º Festival de Cinema de Gramado teve programa para todos os gostos. Os tradicionais debates foram a tônica da manhã no Recreio Gramadense. As reprises e uma produção gaúcha inédita ganharam a vez no Palácio dos Festivais. Um mestre da crítica se encontrou com um público atento no Hotel Serra Azul. E até filme infanto-juvenil foi exibido no Palácio dos Festivais, durante a Mostra Competitiva de Longas-metragens Brasileiros.

Uma das atrações mais interessantes para quem curte crítica de cinema foi promovida pela Associação da categoria no Rio Grande do Sul, a ACCIRS, que levou a Gramado o crítico Enéas de Souza para falar a respeito de seu livro Trajetórias do Cinema Moderno, que completa, em 2015, 50 anos de publicação. Ao seu lado na mesa, outros dois grandes nomes da crítica: Luiz Carlos Merten e Luiz Zanin Oricchio. No encontro, que durou pouco mais de uma hora, Enéas falou não só sobre seu livro, mas sobre seus colegas da época, sobre sua formação como crítico, sobre psicanálise.  Uma verdadeira aula.

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Equipe de "Nós Duas Descendo a Escada" - Foto: Cleiton Thiele

Logo depois, no Palácio dos Festivais, o filho de Eneás, Fabiano de Souza, estreava seu filme: Nós Duas Descendo a Escada. Além de dirigir, Souza escreve o roteiro do longa-metragem e o fez de forma diferente, assim como se deu a execução das filmagens. A ideia foi realizar duas diárias por mês, em um período de nove meses, para conseguir capturar o passar do tempo daquele casal de namoradas, a troca de estações, etc. Existia um argumento no início, com a ideia geral do longa descortinada ali, e o roteiro ia sendo criado a cada novo mês, assim como as filmagens iam se desenrolando. Com isso, Nós Duas Descendo a Escada ganhou um caráter mais aberto, mais ao sabor dos ventos. Plasticamente belo, reforçando o tema do amor sem barreiras e sem fronteiras, o filme é um esforço interessante de um realizador criativo, que utiliza de sua cinefilia para preencher a boca de seus personagens com citações saborosas. É certo que existem arestas a serem aparadas, mas em seu segundo longa-metragem, Fabiano de Souza mostra um trabalho intenso, por vezes divertido, outras vezes emocionante.

À noite, como de costume, é chegada a hora das mostras competitivas. Felizmente, o Festival tem sido pontual nos últimos dias. Na mostra de curtas nacionais, foi apresentado o trabalho de Marcos Ponts, Macapá. Com oito minutos, uma câmera e uma atriz, o curta mostra o processo por vezes automatizado e forçado de uma cena pretensamente documental. A vela que se apaga e a lágrima que cai nem sempre são atos naturais.

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Equipe de "Presos" - Foto: Igor Pires

Logo depois, na Mostra Competitiva de Longas-Metragens Estrangeiros, o filme Presos, de Esteban Ramírez Jímenez, mostrou que a Costa Rica está evoluindo cinematograficamente. O filme ainda é bastante imperfeito, mas tem momentos intensos e bom elenco. Na trama, uma garota (Natalia Arias) se envolve com um homem preso (Leynar Gómez) e seu destino vai mudando a cada nova ajuda que ela presta àquele sujeito encarcerado. O roteiro falha ao acrescentar personagens meramente para preencher funções na história, mas acerta ao manter o desfecho em aberto. Não interessa o que a menina fez. O que importa é que ela nunca mais será a mesma depois daquilo.

A noite continuou com um dos melhores curtas da mostra competitiva nacional. Em Haram, o diretor Max Gaggino coloca uma mulher muçulmana em uma janela, uma criança baiana em outra, bem à sua frente, e desconstrói preconceitos, preceitos e pecados. Uma conversa franca. Um olhar infantil. Um mundo que seria mais belo ao conseguir se enxergar no outro. Com belas atuações e mensagem bem colocada, o curta é certamente um dos mais memoráveis da competição.

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Equipe de "O Outro Lado do Paraíso" - Foto: Cleiton Thiele

Por falar em olhar infantil, é com este viés que o diretor André Ristum apresentou seu longa-metragem no Palácio dos Festivais. O Outro Lado do Paraíso tem bom elenco e assunto pertinente a ser tratado com a petizada. Em um período em que vemos e ouvimos tantas bobagens a respeito da época da Ditadura Militar, com pessoas clamando pelo seu retorno, é mais do que necessário que existam filmes que tratem do período para uma audiência jovem, para que ela conheça e não repita disparates como estes. Ambientado em 1963/1964, o filme conta a história de uma família que se muda para Brasília buscando o sonho do paraíso, mas encontra um lugar com problemas, às vésperas do golpe. Eduardo Moscovis vive o patriarca. O menino Davi Galdeano vive o menino protagonista. É sob seu ponto de vista que vemos a história e por isso é tão pertinente que este longa exista. Não fosse uma narração completamente descartável e a fotografia e direção de arte pasteurizadas, o filme seria bastante superior. Cenas de época são costuradas ao filme nos promovendo um retorno ao passado. Um tanto falho, mas necessário, O Outro Lado do Paraíso pode encontrar um caminho interessante em sessões para escolas de ensino fundamental em um futuro breve.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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