Mais um dia de Festival, mais uma homenagem merecida. Desta vez, quem subiu ao palco do Palácio dos Festivais em Gramado foi o cineasta Zelito Viana. Dono de uma carreira com mais de 50 anos prestados à sétima arte, Viana esteve na serra gaúcha para receber o Troféu Eduardo Abelin. E o recebeu das mãos da família. Sua esposa Vera de Paula, seu filho Marcos Palmeira e sua filha Betse de Paula subiram ao palco para fazer esta homenagem ao grande cineasta, que fez questão de lembrar dos velhos parceiros da época do cinema novo e ressaltou: “tive a chance de estar no lugar certo e na hora certa”.
Antes deste momento marcante do Festival, Gramado teve um dia intenso, com debates pela manhã no Recreio Gramadense e com as reprises no Palácio dos Festivais. A mostra de longas-metragens gaúchos fora de concurso seguiu à tarde apresentando o novo documentário de Luiz Alberto Cassol, Edmundo. O longa presta uma homenagem a um dos mais importantes nomes da cultura de Santa Maria, o diretor de teatro, escritor, radialista e cinéfilo Edmundo Cardoso.
À noite, praticamente na reta final, mais dois curtas e dois longas foram exibidos nas suas respectivas mostras competitivas. O primeiro curta foi gaúcho e já papou quatro louros no Prêmio Assembleia Legislativa, que aconteceu no último domingo. Em O Corpo, Lucas Cassales dirige uma intensa história de horror e suspense com elenco graúdo: César Troncoso, Janaína Kremer e as revelações Gabriela Poester e Rafael Henzel. Na trama, um corpo encontrado no mato vira o gatilho para estranhos acontecimentos na casa da família do menino Alberto. Dominando bem o clima do gênero, Cassales faz um belo trabalho, que até serviria como um prólogo para uma história maior.
Vindo do Equador, o longa-metragem Ochentaisiete, dirigido por Daniel Andrade e Anahí Hoeneisen, se mostrou um competente suspense, com direito a duas linhas temporais que andam juntas e nos apresentam os personagens em 1987 e em 2002. Um homem retorna a Quito depois de anos separado dos amigos. Um drama intenso aconteceu no passado e as mágoas podem ainda estar à tona. Além de boas atuações do elenco infantil e adulto, o longa-metragem equatoriano (em co-produção com a Argentina) tem uma instigante trama, num misto de filme de formação com drama psicológico.
Na segunda parte da noite, era chegada a vez de um dos curtas-metragens mais divertidos e anárquicos que foram exibidos na mostra competitiva nacional: Quando Parei de me Preocupar com Canalhas, de Tiago Vieira. Assim como O Corpo, exibido pouco antes, este trabalho chama a atenção pelo seu elenco: Matheus Nachtergaele, Paulo Miklos e Otto dividem a tela, em uma trama que mistura em um caldeirão diversas referências, sendo primeiramente um filme político. Nachtergaele vive um homem em fúria com suas convicções. Cercado de pessoas que rechaçam suas ideias, aquele sujeito se sente cercado por imbecis. E talvez esteja. Destaque para a hilária atuação de Miklos como um taxista e para a montagem inteligente.
Para fechar a noite, o único longa-metragem gaúcho na competição de longas nacionais: Ponto Zero, de José Pedro Goulart. Depois de ter assinado importantes curtas ao lado de Jorge Furtado no passado, o cineasta ataca pela primeira vez em uma narrativa mais longa e constrói um drama intenso, com lapsos de sonho e devaneio. Na trama, rapaz solitário quer fugir das brigas do pai e da mãe, rouba o carro da família e atravessa as ruas de Porto Alegre à procura de uma válvula de escape. Um contratempo, no entanto, o faz andar em um labirinto chuvoso. Com excelente trilha sonora de Leo Henkin e fotografia estilosa de Rodrigo Graciosa, o filme tem bons momentos, mas perde um pouco o brilho pela letargia perene do seu protagonista.
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