Um dos primeiros atrativos desta 44ª edição do Festival de Cinema de Gramado são os curtas-metragens selecionados para a Mostra Gaúcha, que competem pelos prêmios Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Entre os 24 filmes selecionados – cinco a mais que no ano passado – foram conhecidos os sete primeiros numa das primeiras sessões oficiais do festival. A programação, que ganha um dia a mais de exibições, contempla produções de diversas iniciativas – entre independentes, estudantis e financiadas por diferentes fontes de recurso – que competem entre si por premiações que totalizam R$ 48 mil em categorias distintas. O Papo de Cinema esteve presente desde o primeiro minuto das projeções e apresenta agora algumas linhas sobre cada um dos filmes.
As Três, de Elena Sassi
Expoente de São Leopoldo, o curta segue o reencontro de três amigas de infância confinadas em um apartamento durante alguns dias chuvosos que propiciam também o reencontro com antigas feridas de suas relações. Ainda pouco maduro e polido, o roteiro da pequena trama não consegue dar as devidas proporções aos conflitos de suas protagonistas, mas é inventivo ao não revelar por completo o que há no passado dessas personagens. As três jovens atrizes, Carla Elgert, Anelise Vargas e Gabriela Poester, apresentam desempenhos elogiáveis, mas limitados em sequências que denunciam o caráter estudantil da obra, realizada no curso de audiovisual da Unisinos.
Another Empty Space, de Davi de Oliveira Pinheiro
Esquecido durante a apresentação dos curtas em competição, este pequeno e afetivo drama certamente não será ignorado por aqueles que passaram pelo Palácio dos Festivais neste primeiro dia de mostra. Captado inteiramente em Berlim, o filme mostra o reencontro acidental de um casal de ex-namorados que conversa amistosamente enquanto reflete sobre os porquês de não estarem mais juntos – ou é o que parece. Com uma estética bonita e simplista, os maiores méritos do filme, no entanto, estão no inteligente roteiro de Leo Garcia, que conta com diálogos e narrações excelentes.
Tabaré Inácio, de Luiz Alberto Cassol
Uma merecida homenagem a todos os profissionais “fantasmas” que estão ao nosso redor, o curta-metragem de Luiz Alberto Cassol investiga quem é Tabaré Inácio, porteiro de seu prédio tantas vezes ignorado por aqueles que o encontram diariamente. Ao estilo Eduardo Coutinho de documentar, o filme não se importa em escancarar os processos fílmicos da captação de um documentário, mas aqui o verdadeiro protagonista é este homem invisível, que há quase 30 anos trabalha em um mesmo lugar e ainda assim é pouco conhecido ou valorizado. O retrato é de um homem comum, que talvez não seja excepcional o suficiente para merecer um filme sobre si, porém o que está em jogo aqui são todas as suas representações. Uma ambição louvável.
Sesmaria, de Gabriela Richter Lamas
O maior filme do primeiro dia de mostra competitiva também é o mais delicado e pessoal desta seleção. Ambientado na pequena comunidade gaúcha de Sesmaria, o curta segue um casal de idosos entre os afazeres domésticos e rotineiros da lida campeira. Lindamente fotografado, Sesmaria tem como protagonistas os próprios avós da diretora Gabriela Richter Lamas, que garantem ao projeto realismo e profundidade singulares. O registro dos espaços, as memórias afetivas, a passagem do tempo e a natureza estão expostas e a serviço de uma trama diminuta, porém poderosa. O projeto guarda as mesmas intenções que consagraram como maior vencedor da Mostra Gaúcha do Festival de Gramado, em 2014, Domingo de Marta, de Gabriela Bervian.
Outono Celeste, de Iuri Minfroy
Uma ficção científica entre tantos dramas realistas poderia soar deslocada ou se destacar justamente por esta condição. O que ocorre com Outono Celeste, produção de Pelotas realizada no curso de audiovisual da UFPEL, está entre esses dois extremos; percebe-se as intenções e referências primárias de uma proposta ousada, porém também as suas limitações técnicas e narrativas. Ainda assim, algumas sequências são dignas de nota em suas intenções. A complexidade da produção, realizada entre a natureza e o céu aberto, é igualmente elogiável.
Dia dos Namorados, de Roberto Burd
Os primeiros frames deste curta revelam uma bela e magnética jovem, que se despe lentamente e sorri para alguém que não é imediatamente revelado. Um filme sobre uma das possibilidades do amor, segundo seu realizador, Roberto Burd. Dia dos Namorados tem no elemento surpresa um de seus trunfos, mas este é superado pela economia e cadência de um roteiro que dá tempo e espaço para a construção narrativa e o desempenho de seus atores – com destaque para a ótima veterana Sandra Dani.
Inatingível, de Rodolfo de Castilhos Franco
O primeiro mérito do filme está na escalação de seu protagonista, interpretado pelo artista João Carlos Castanha – aquele mesmo do excepcional filme de Davi Pretto. Vê-lo novamente despido de sua persona habitual, a drag queen Castanha, é tão interessante quanto a provocação deste filme de Rodolfo de Castilhos Franco. Para retratar os anacronismos de um homem perdido no universo que habita, o filme faz escolhas visuais interessantes e soberbas principalmente em seu desenho de som. A premissa simplista e direta abre possibilidades diversas para os rumos possíveis desta história, porém o escolhido parece ser o melhor e mais intrigante deles.
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