No último dos três dias dedicados aos curtas-metragens realizados no Rio Grande do Sul, o Palácio dos Festivais teve um programa de filmes que exploram exercícios de gêneros cinematográficos, fazem menções a cineastas internacionais consolidados e/ou possuem temáticas político-sociais de extrema relevância.
Em O Jardim dos Amores de Woody Allen, Gustavo Spolidoro desenvolve um roteiro que se vale de diálogos de alguns filmes do diretor norte-americano, num belo plano sequência. São momentos hilários e muito bem explorados pelo ator Justin Phillips, em performance com ritmo perfeito ao emular o estilo de Allen. Porém, a produção serve mais como um exercício de colagem de grandes momentos de sua matriz, nada mais. Já Escotofobia, de Rafael Saparelli, parte do medo irracional da escuridão, explorando muitíssimo bem a linguagem corporal da atriz Miriã Possani, apesar da batida de videoclipe de eletropop sobrenatural, muito similar à do clipe da banda Massive Attack, lançado recentemente, e que também cita Possessão (1981), do polonês Andrzej Żuławski. O cabelo e maquiagem são característicos da personagem Rachael, de Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982). Entre tantas citações, nesse ponto semelhante ao filme de Spolidoro, por também explorar a colagem de outros realizadores, Saparelli consegue segurar uma tensão razoável.
O nocaute para o público certamente veio com duas produções de temática violenta e muito objetiva: Venatio, de Ulisses da Motta, e A Rua das Casas Surdas, de Flávio Costa e Gabriel Mayer. O primeiro coloca em evidência o racismo e o segundo aborda os duros anos de ditadura militar em nosso país. Depois de certa ultraviolência, os espectadores foram agraciados com a singela adaptação do conto de Lygia Fagundes Telles em Objetos, de Germano de Oliveira. Contando com fotografia de Bruno Polidoro, a produção tem fortes pontos, como a adaptação de um texto originalmente repleto de diálogos e que aqui ganha pausas e silêncios carregados de dramaticidade. Áurea Batista, como sempre, ótima e carismática em cena. A noite foi encerrada por Pobre Preto Puto, de Diego Tafarel, documentário santa-cruzense sobre Nei D’Ogum, uma personalidade bastante carismática e que relata os preconceitos que viveu por ser negro e ao assumir sua homossexualidade.
Por fim, a premiação do “Gauchão”, que ocorreu na mesma noite, não trouxe grandes surpresas quanto aos quatro prêmios dados a Sesmaria, de Gabriela Lamas. A produção da Universidade Federal de Pelotas venceu nas categorias de melhor edição de som, direção, troféu RBS TV de melhor direção e também o Prêmio da Crítica de melhor curta-metragem gaúcho da edição. A surpresa ficou com a vitória da animação Lipe, Vovô e o Monstro.
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