Gisberta Salce nasceu como homem no Brasil, mas terminou sua vida, já mulher, assassinada de forma brutal em Portugal, após quase uma semana de torturas. Isso, ocorrido em 2006, a elevou a posto de símbolo da causa pelos direitos dos transexuais, motivando mudanças na lei contra a homofobia e a transfobia naquele país e, de um jeito ou de outro, repercutindo também por aqui. O documentário do diretor Thiago Carvalhaes está preocupado em descobrir quem foi essa mulher, mas não da forma mais óbvia. Em seu filme nos deparamos com relatos, visitas aos lugares por onde ela passou e as impressões daqueles com quem ela se relacionou. Mas, aqui, mais importante parece ser os sentimentos motivados por ela, por sua presença e, principalmente, pela grande ausência que deixou. Impressiona a firmeza do realizador na condução de suas entrevistas e na coragem como aborda aqueles com quem conversou, como o irmão brasileiro da falecida e sua cunhada, pessoas humildes, mas nem por isso isentas de preconceito e ignorância – ou, talvez, por isso mesmo vítimas destes males que, aqui, não são disfarçados (muito pelo contrário, aliás). Mas a selvageria ficou para trás. Aqui é lugar para respeito e elegância, tanto na denúncia como nos confrontos propostos, escancarando verdades e provocando com a simples e dura realidade. Um trabalho dolorido, porém absolutamente necessário, tanto por sua execução como pela denúncia que carrega.
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