“Como diria Fernando Pessoa, somos cadáveres postergados”. Com apenas essa frase – ou seria somente uma citação? – o curta de Carolina Markowicz se define. Mas as surpresas não param por aí. Pra começar, essa história filmada em Porto Alegre – ainda que a cidade não seja definida e nem tenha relevância para a trama – é falada em espanhol, resultado da opção por um elenco que aposta na excelência e no talento de intérpretes uruguaios de renome, como os ótimos César Bordon (Relatos Selvagens, 2014), Mirella Pascual (O Silêncio do Céu, 2016) e Jose Luis Arias (O Candidato, 2016), entre outros rostos facilmente identificáveis para os admiradores do cinema latino-americano. O enredo é ambicioso: um médico aceita, não sem relutar, um suborno para omitir um efeito colateral de uma nova droga, o que, dentre milhares, irá resultar na morte de um motorista. Paralelamente, uma mulher ouve da sua adivinha de confiança que irá morrer nos próximos dias. Por fim, a própria charlatã se vê diante de um burocrata prestes a decidir o seu destino pós-morte – sim, parte da história se passa no além-vida. Muito do charme para tornar a narrativa convincente, além dos bons intérpretes, está na detalhada direção de arte de Vicente Saldanha, que brinca com criatividade com as possibilidades que lhes são oferecidas. Um conjunto curioso, que resulta num intrincado quebra-cabeças que conquista sua audiência tanto pela inteligência como pela engenhosidade de suas ações.
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