Inspirado em um fato verídico ocorrido na Alemanha em 2006, o curta do diretor Diego Freitas coloca dois homens frente a frente, em uma situação que vai mexendo com a curiosidade e com os nervos do espectador até o limite do insustentável. Márcio (Guilherme Rodio) decide ir ao encontro de Sergio (Eucir de Souza). Este o espera com a porta aberta, mesmo sendo essa a primeira vez que os dois se veem. O desconforto é tangível, e a tranquilidade do dono da casa encontra repercussão na ânsia e nervosismo do recém chegado. “Você vai realizar o meu sonho”, afirma esse. “Sim, mas só se for do meu jeito”, responde o outro. Há um nítido jogo de sedução entre eles, e o cineastas brinca com essas possíveis interpretações, deixando a cargo do espectador descobrir o que está acontecendo. Porém, novas pistas são logo adicionadas. Uma taça de vinho, um remédio para ‘relaxar’, uma – possível – tentativa de fuga. “Nós não somos animais”, um diz, ainda que, sim, sejamos todos. Essa dualidade de emoções vai além, partindo para o confronto físico – um bate, outro apanha, ambos se revelam satisfeitos – e para a troca de palavras, sempre com mais de um sentido. Nasceu na vida real, poderia estar no teatro, mas o que se vê aqui é cinema em sua essência: uma história sendo contada, e dois intérpretes entregues a seus personagens, dispostos a tudo para defendê-los, mesmo diante das decisões mais escabrosas. O que se passa entre eles provoca o público, e ao seu término ninguém na audiência estará indiferente. Mérito do texto enxuto, de uma montagem que usa com inteligência as suas possibilidades, mas, acima de tudo, de dois atores no total domínio de suas capacidades, entregando o melhor em nome da arte que, somados, se torna maior do que seus elementos separados.
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