Um mundo globalizado, cheio de diferenças raciais e dominado por um viés machista que insiste em se fazer valer, mesmo diante tantas mudanças e revoluções, o cineasta Lufe Bollini decide fazer do seu filme talvez o mais feminino de toda a seleção. Assumindo-se na fronteira entre o documentário e o experimental, o diretor-montador e a bambolista Mariana Yomared propõem uma reflexão sobre a valorização da mulher e o eu que precisa muito ainda lutar para garantir o seu espaço. Yomared se sente parte das ruas que caminha e dança, justamente por ser alguém que aprendeu a não se encaixar. Com pais mexicanos, descende de uma triste história de machismo e violência contra a mulher. A jovem Yomared não sabe lidar com esses fantasmas. Nesta inconsistência psicológica, se entrega ao mundo e as mudanças que surgem ao decorrer de sua vida. Repleto de cenas fortes, que podem incomodar aqueles mais sensíveis, porém não gratuitas, o filme foi motivo de polêmica também em sua passagem por Gramado ao ser premiado pelo júri oficial como Melhor Atriz – veja bem, estamos falando de uma performer, é claro, mas não de uma intérprete compondo uma personagem ficcional. Combinando fantasia com realidade, abre-se desse modo uma porta para outras possibilidades, confirmando uma lógica que, por fim, termina por se adequar ao perfil da retratada, alguém que nunca se conformou com definições pré-estabelecidas e sempre buscou o diferente, o ousado, o irreverente. Exatamente como o filme de Bollini, um dos mais estranhos – e também mais envolventes – de toda a mostra.
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