O sétimo dia da programação oficial do 46° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi também o último da mostra competitiva. Nesta noite foram, assim como nas anteriores, exibidos cinco filmes – três curtas e dois longas – cada um completando o panorama proposto pelas comissões de seleção, que neste ano foram formadas pelos seguintes profissionais:
LONGAS DE FICÇÃO: José Eduardo Belmonte, cineasta; Kleber Mendonça Filho, cineasta; Manfredo Caldas, cineasta; Sérgio Alpendre, crítico de cinema; e Vinícius Reis, cineasta;
LONGAS DOCUMENTÁRIO: Andrea Tonacci, cineasta; Joel Pizzini, cineasta; Vladimir Carvalho, cineasta;
CURTA DE FICÇÃO E ANIMAÇÃO: Amir Admoni, cineasta; Diego Florentino, cineasta; Eva Randolph, cineasta; Juliana Rojas, cineasta; e Ricardo Movits, cineasta;
CURTA DOCUMENTÁRIO: Amaranta César, professora e pesquisadora; Clarissa Campolina, cineasta; e Danyella Proença, jornalista.
Apesar de grupos tão seletos e diversificados, pouca coisa vista neste ano chegou, realmente, a empolgar. Como foi verificado mais uma vez na noite de segunda-feira, quando nenhum dos cinco títulos apresentados conquistou a unanimidade ou, ao menos, a maioria da audiência a seu favor.
A programação começou com Contos da Maré, de Douglas Soares, documentário em curta-metragem do Rio de Janeiro. Lendas urbanas típicas da região da comunidade da Maré, na capital carioca, são reinventadas sem muita imaginação, em um resultado que parece mais com histórias de ninar – tanto que a sensação que melhor provoca é a de sono. Estranho, no entanto, foi perceber posteriormente que este seria o ponto alto da noite.
Se uma das lendas de Contos da Maré era sobre um estranho rapaz que se transformava em lobisomem toda noite de lua cheia, esse é o protagonista da animação Quinto Andar, de Marco Nick. A produção mineira carece de um enredo amarrado de uma melhor qualidade técnica, e seu final, que surge de modo abrupto, não colabora no sentido de convencer o espectador a favor do que foi presenciado.
Maior empenho teve o curta de ficção Tremor, de Ricardo Alves Jr – ou ao menos era o que prometia o diretor no seu discurso de abertura, antes da exibição do filme na tela do Cine Brasília. Ao compor imagens óbvias que tinham como objetivo transcrever literalmente a descida aos infernos de um homem em um dos piores momentos de sua vida, a história é daquelas que promete muito – seja pela ambientação, pela qualidade das atuações ou pelo clima proposto – mas entrega pouco. Foi como se o diretor não soubesse mais o que fazer com o material que tinha em mãos, encerrando-o antes mesmo de sua conclusão.
Isso foi o contrário do que aconteceu com o diretor Noilton Nunes em seu documentário de longa-metragem A Arte do Renascimento – Uma Cinebiografia de Silvio Tendler. Os problemas desse começam logo no título – ao invés de se preocupar em narrar a história e a jornada do consagrado cineasta carioca, como é anunciado em seu nome, o que vemos é um ideário da obra do documentarista, com seus melhores momentos, até se concentrar na recuperação do artista após uma doença que o deixou tetraplégico há poucos anos. É bonito e emocionante em algumas passagens, porém mais pelo trabalho e obra de Tendler do que pelo que é visto através das câmeras de Nunes. Com uma melhor edição e um roteiro inteligente, teríamos um bom curta de 15, 20 minutos no máximo. O que, infelizmente, não é o caso.
Mas nada do que foi visto em Brasília durante toda essa semana chega próximo à sensação de perplexidade provocada pelo longa de ficção Exilados do Vulcão, de Paula Gaitán. Viúva de Glauber Rocha, ela emula o mais transgressor dos cineastas brasileiros neste trabalho, porém sem a mesma competência do seu antigo parceiro. Trata-se de um filme hermético e entediante, com mais de duas horas de duração e sem um único diálogo, apenas alguns comentários expostos aleatoriamente através de uma narração enfadonha. A impressão é de uma tentativa de se aproximar do cinema de Terrence Malick, porém de modo atrapalhado e sem consistência. Vergonhoso, aparecendo como ponto final de um festival que já foi muito relevante no cenário cultural nacional, mas que hoje parece estar se distanciando cada vez mais do contato com o público.
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