À cena de um parto penoso, segue a da corrida do garoto que fez sua mãe sofrer para vir ao mundo. A elipse encurta a distância entre os fragmentos, permitindo que o curta-metragem se instaure num futuro distópico, construído a partir do olhar da periferia. O amanhã estilizado pelos Irmãos Carvalho é claramente inspirado em Branco Sai, Preto Fica (2014), mas com personalidade suficiente para transpor as alusões mais óbvias, e menos funcionais, ao longa de Adirley Queirós, e projetar sua voz, que reverbera como um grito alegórico contra o genocídio negro nas comunidades cariocas. Jeckie Brown interpreta a mãe do menino que corre pelas vielas dessa favela com cara de cortiço decrépito, sintoma de um futuro em que a hecatombe chegou antes mesmo da instauração do pós-apocalítico. Com poucos recursos, mas muita criatividade, os Irmãos Carvalho realizam sua alegoria sobre um tempo vindouro, em que as coisas não melhoraram às populações marginalizadas pelo sistema covarde de distribuição de renda. O clima familiar é tão tenso quando a situação externa que acessamos pelos estampidos e pela gritaria, elementos sonoros que deflagram o protagonismo da violência. Como solução, um belo e lírico ato de coragem, o menino alçado ao ar numa grande pipa empinada pela mãe de coração partido, mas esperançosa.
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