Dirigido por Gabriel Martins, este curta sobre a negação possui diversas camadas. A primeira e mais evidente delas é a determinação de Bia, ao completar a maioridade, de se colocar numa posição diametralmente oposta a de seus colegas que estudam com o desejo de passar no vestibular. Arguida pela inspetora da escola, interpretada por Karine Teles, ela se reporta ao comportamento de Bartleby, o escrivão de um dos mais famosos contos de Herman Melville, verbalizando que prefere não fazer. Ela é um corpo estranho dentro de uma estrutura social formatada, com etapas mais ou menos comuns a todos, do estudo ao mercado de trabalho. Contudo, existe um dado que mina o discurso defendido pelo filme. Mesmo resistente diante das argumentações de pais e amigos próximos, com relação à necessidade de adequar-se minimamente, ela permanece inabalável em sua convicção. Mas é exatamente uma fala, proferida por seu pai, que deflagra a fragilidade que causa uma fissura no seu posicionamento. Ele menciona que ela pode se dar ao luxo de pensar assim, pois sempre teve tudo, ou seja, não faz parte de uma classe que se submete por necessidade a realidades castradoras para sobreviver. Inclusive o plano da menina chorando ao realizar uma prova classificatória coloca Bia em nosso radar por motivos outros, pois ela está completamente alienada de uma realidade mais ampla que seus anseios, muito legítimos, por certo, mas pouco consistentes dentro do roteiro proposto.