Este é um caso clássico de obra repleta de intenções e impulsos nobres, mas que não consegue encontrar ressonância cinematográfica para suas demandas motivadoras. Os protagonistas, Simone, Thiana e Michel, são periféricos, pessoas claramente representantes da considerável fatia da população que se encontra cada vez mais à margem. A entrevista de emprego, mais precisamente as dificuldades para travar um diálogo aberto com o contratante e, portanto, detentor do poder momentâneo, é um dos indícios disso. Todavia, já nesse excerto nota-se um esquematismo contraproducente, a propensão às mensagens fáceis, encenadas de formas desajeitadas. A cena do homem branco, com terno, derrubando as moedas do pedinte, ao chama-lo de vagabundo e dizendo ser necessário a ele trabalhar, perde a força como elo exatamente pela maneira absolutamente primária como é construída. Há, portanto, um constante embate neste curta-metragem entre as instâncias do conteúdo e da forma, sendo o primeiro cheio de questões pertinentes, urgentes, e o segundo infelizmente frágil o suficiente para debilitar as possíveis ressonâncias do todo. A diretora Jéssica Queiroz apresenta bons momentos na tela, como a utilização de animações e grafismos, mas, no geral, não consegue potencializar as reivindicações legítimas, fazê-las transcender o caráter de panfleto e adquirir mais espessura.
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