Abordar a violência doméstica é sempre complicado, exatamente porque essa é uma questão bastante intrincada, o que torna difícil sua representação sem uma série de reducionismos, mas sobre a qual deve-se falar cada vez mais. A cineasta Laís Melo se propõem neste curta-metragem conciso, mais disposto a traçar um percurso emocional que informativo, a observar uma tomada de postura por parte de Gloria (Patrícia Saravy), que decide, após algum tempo sendo agredida pelo marido, procurar as autoridades para prestar queixa. A abordagem é sensível. Em nenhum momento vemos o ato de agressão, pois a realizadora está mais interessada em deflagrar as consequências dele, mostrando, por meio da boa interpretação de Patrícia Saravy, uma mulher psicologicamente afetada pela constância da brutalidade lançada sobre ela. O curta-metragem é particularmente bem-sucedido ao deter-se na expressão consternada da atriz que, habilmente, dá conta de evidenciar os traumas decorrentes de um cotidiano acidentado. Porém, exatamente por conta do privilégio à observação, pura e simples, o filme acaba esgotando suas possibilidades rapidamente, inclusive enquanto exemplar de investigação das angústias da protagonista. A mensagem está ali, posta claramente, mas carece de mais instâncias para expandir-se ou reverberar para além do percurso adotado, fundamentado no silêncio provocado pela recorrente selvageria e o pouco respaldo social aos seus pedidos de socorro.