Torre

Publicado por
Marcelo Müller

A chave lúdica potencializa o discurso de enfrentamento das nossas nódoas históricas, especificamente relacionadas ao período nefasto da ditadura civil-militar, neste curta-metragem da cineasta Nádia Mangolini. O documentário animado traduz em imagens os depoimentos dos quatro filhos de Virgílio Gomes da Silva, o primeiro desaparecido político dos anos de chumbo. As reminiscências dos hoje adultos nos fornecem um recorte incisivo acerca da experiência das então crianças privadas da companhia do pai. Tecnicamente falando, o filme possui uma exuberância flagrante, seja por conta da beleza dos traços ou da maneira inteligente de ampliar as instâncias expressivas por meio das particularidades das transições muito bem elaboradas entre um segmento e outro. Há o privilégio do olhar infantil, dessa tradução a posteriori de sensação conflituosa na mais tenra idade, que não dava conta da realidade, exatamente porque dificilmente era facultado aos pequenos acessarem a dura verdade que, muitas vezes, era marcada pelo assassinato dos pais. Trata-se de um filme bonito, exatamente por conta da contundência com a qual acessa o campo da memória, fazendo do movimento de ressignificação, que ao cinema é permitido, uma arma contra o esquecimento

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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