Alfredo James “Al” Pacino é um norte-americano descendente de italianos. Não à toa é conhecido pelo sangue quente e pela intensidade com que leva seus papéis e a própria vida. Nunca casou, mas tem uma filha e demorou para ser reconhecido em Hollywood, fato que aconteceu com quase trinta anos de idade. Porém, a ascensão foi meteórica a partir deste momento. Em seu terceiro filme, O Poderoso Chefão (1972), já foi indicado ao primeiro Oscar. Desde então, tem colecionado elogios por onde passa.
Vencedor de 42 prêmios, incluindo um Oscar, Al Pacino já foi indicado sete vezes à estatueta mais cobiçada do cinema, além de também ter sido lembrado outras 41 em diversas premiações e festivais. Nos últimos anos, o ator tem tido participações em filmes irregulares como Amigos Inseparáveis (2012), Cada um tem a gêmea que merece (2012) e As Duas Faces da Lei (2008), mas seu talento continua inquestionável. Para comemorar seu aniversário no dia 25 de abril, a equipe do Papo de Cinema resolveu resgatar cinco de seus melhores filmes – e mais um que merece destaque. Confira!
O Poderoso Chefão 2 (The Godfather: Part II, 1974)
Por Matheus Bonez
Al Pacino já havia chamado a atenção do público e da crítica com seu Michael Corleone no primeiro O Poderoso Chefão (1972), inclusive sendo indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante. Dois anos mais tarde, com seu papel central na segunda parte da trilogia mafiosa, a excelência é finalmente atingida com maestria. Não tem como ficar impassível aos passos dados pelo homem para seguir os negócios do pai. Inclusive, cometendo os mesmos erros que o próprio, sinal de que o fruto não cai longe do pé. Por vezes Michael tenta se desligar do passado, mas como não manter a tradição da máfia? Num paralelo que mostra como seu pai atingiu o status de Don, percebe-se que o filme, muito mais do que o desenrolar dos fatos de sua primeira parte, quer mostrar como a trajetória de ambos encontra pontos em comum. E, num dos momentos mais dramáticos em que Pacino demonstra o porquê de tantos elogios, Michael precisa punir a traição de seu irmão. Um misto de dor, raiva e justiça nos olhos do ator. Genial. Não à toa reprisou sua aparição no Oscar pelo mesmo personagem. Desta vez, é claro, na categoria principal.
Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, 1975)
Por Rodrigo de Oliveira
Depois de uma excelente dobradinha entre Sidney Lumet e Al Pacino em Serpico (1973), diretor e ator resolveram repetir a boa experiência em Um Dia de Cão. Na trama, Sonny (Pacino) e seu amigo Sal (John Cazale) pretendiam realizar um assalto a banco de forma rápida. Mas o que deveria ser um trabalho fácil e indolor acaba virando um circo, com câmeras por todos os lados, cerco policial e uma turba de curiosos à espera dos desdobramentos do plano dos bandidos. Al Pacino está perfeito como o ladrão sem jeito. Sua falta de experiência deixa que os reféns tomem conta de várias situações e suas negociações com a polícia são totalmente amadoras. Os trejeitos de Pacino, atrelados a sua forma de falar e sua presença em cena estão absolutamente impecáveis. O ator teve um papel importantíssimo no sucesso do longa-metragem, criando muitas das passagens memoráveis que vemos no filme (os gritos de “Attica!” sendo um deles). Diferente do usual, Lumet permitiu aos atores improvisarem em cima do roteiro, pensando ser a melhor maneira de capturar performances naturalistas condizentes com o teor da história. O resultado disso é um excelente filme de assalto, com toques cômicos hilários e personagens muito bem desenvolvidos.
Justiça para Todos (… And Justice for All, 1979)
Por Thomás Boeira
As leis do sistema judiciário nem sempre são usadas da melhor maneira possível e, muitas vezes, pessoas inocentes acabam pagando o pato. É isto que o advogado Arthur Kirkland (Pacino) enfrenta em seu dia-a-dia em Justiça para Todos, tendo que encarar juízes que ignoram o senso de justiça, se importando apenas em aplicar a sentença e não querendo saber se a pessoa que sofrerá as consequências realmente merece isso. Mas, de repente, Kirkland é chamado para defender Henry Fleming (John Forsythe), um destes magistrados que foi acusado de estupro. O que se segue é um filme de tribunal envolvente e com uma atuação central brilhante de Al Pacino (que recebeu sua quinta indicação ao Oscar), com direito a suas famosas quedas pelo overacting que se encaixam bem em seu personagem. Algo que chega ao ápice no terceiro ato, na grande cena em que Arthur sai gritando “Você está fora de ordem! Este tribunal todo está fora de ordem!”, clássica entre os dramas de tribunais e que já foi referenciada em várias produções.
Scarface (1983)
Por Marcelo Müller
Com uma carreira repleta de papeis marcantes, Al Pacino será certamente lembrado por muitos em virtude de Tony Montana, o traficante cubano que ascende ao poder em Scarface, filme roteirizado por Oliver Stone e dirigido por Brian De Palma. Montana tem uma intensidade (alguns classificam como ‘histrionismo’) própria a alguém que galga degraus no submundo à custa de muitas mortes. A violência dá o tom em Scarface, não apenas a física como também a verbal. A palavra “fuck”, por exemplo, é dita 182 vezes ao longo dos 168 minutos de duração do filme, ou seja, mais de uma vez por minuto. Desde o início, Montana deixa clara sua avidez pelo topo da pirâmide, pelo poder de chefiar o tráfico. Sua natureza brutal não se curva a ordens alheias, portanto para sobreviver ele tem de subjugar todos, sendo ele próprio o chefão, conquistando a mulher que bem entende, fazendo com o dinheiro o que lhe der na telha. Tony Montana é um emblemático personagem do cinema americano doa anos 1980, e um dos melhores trabalhos do brilhante Al Pacino.
Perfume de Mulher (Scent of a Woman, 1992)
Por Eduardo Dorneles
Falar de Al Pacino parece fácil. Não é. Sua brilhante carreira passa a impressão que reunir alguns adjetivos e ponderações que ilustrem seu talento são suficientes. Porém, não são. Qualquer análise ou explicação soaria fugaz e superficial dado o tamanho do justo status que o ator alcançou. Entretanto, há uma maneira mais simples de explanar sobre ele. Assista Perfume de Mulher. O filme como um todo é excelente, talvez caia em alguns clichês no final, mas nada que o comprometa; pelo contrário, entrega com excelência aquilo que se propõe. Ao contar a história do ex-tenente-coronel e deficiente visual Frank, que não encontra motivos suficientes para viver até conhecer o jovem Charlie Simms (Chris O’Donnell), o diretor Martin Brest permite que Al Pacino se transforme em um objeto de assombro que arrebata a todos que o contemplam. Ele simplesmente se agiganta emocionando e tocando a todos que veem sua interpretação. A cena onde ele dirige uma Ferrari apenas com as instruções de Charlie e o almoço onde ele tira a jovem solitária para dançar tango e em nenhum instante sai do personagem são brilhantes!
+1
Fogo Contra Fogo (Heat, 1995)
Por Willian Silveira
Nascido para ser mais um filme de ação, Fogo Contra Fogo é uma obra-prima. Escrito e dirigido por Michael Mann, o filme tem a estrutura clássica do gênero. De um lado a gangue do criminoso profissional Neil McCauley (Robert De Niro), do outro, o detetive Vincent Hanna (Al Pacino). Mas o óbvio fica na superfície. Mann desvencilha o filme de todo o maniqueísmo ao entregar os personagens ao mundo ordinário, espaço em que a realidade, sem saber a quem poupar, se revela a todos indiferente: estreita e claustrofóbica; singular e similar. O papel de caça e caçador é uma roleta russa – uma questão de tempo. Na figura de Hanna, Al Pacino é o homem fissurado, no duplo sentido da palavra. Fissurado pela imagem projetada pelos outros. Fissurado pela incapacidade de realizá-la. Nas várias cenas em que o vemos de frente, sentimos o peso dessa luta ingrata; da batalha daquele que foge à devastação do próprio destino, em um resultado previsto de antemão.
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