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O maior galã do cinema francês. Se Jean-Paul Belmondo e Gerard Depardieu atraíam olhares mais pelo talento e carisma do que propriamente pela beleza, o mesmo não pode ser dito sobre Alain Delon. Irresistível, deixou homens e mulheres sem fôlego em quase sessenta anos de carreira! Nascido em uma pequena cidade próxima de Paris no dia 8 de novembro de 1935, filho de pais franceses e italianos com ascendência alemã, o garoto-problema veio de um lar desfeito e só foi encontrar alguma ordem ao se alistar na Marinha Francesa e servir na Indochina. Ao voltar, trabalhou em diversos serviços, como garçom, vendedor e até porteiro. Foi quando decidiu investir na atuação, estreando em um pequeno papel na comédia Uma Tal Condessa (1957). Três anos depois já desfrutava de reconhecimento internacional e era disputado por diretores como Luchino Visconti e René Clément. Considerado a versão francesa de James Dean, soube superar os momentos mais turbulentos da fama. Casou-se oficialmente apenas uma vez (por somente cinco anos), e com três filhos, é um dos octogenários mais famosos do cinema mundial. Vencedor do César – o Oscar do cinema francês – e premiado nos festivais de Berlim e Locarno, além de ter sido indicado ao Globo de Ouro nos EUA, Delon é símbolo de charme e elegância. Mais do que merecida, portanto, essa homenagem do Papo de Cinema no dia do seu aniversário, em que apontamos cinco dos seus momentos mais marcantes na tela grande, além de mais um trabalho especial. Confira!

 

rocco-e-seus-irmaos-papo-de-cinemaRocco e Seus Irmãos (1960)
Poucas vezes as idiossincrasias da família italiana foram tão bem capturadas como neste filme de Luchino Visconti. A passionalidade das relações, o exagerado gesticular que acompanha diálogos muitas vezes gritados, mas, sobretudo, a importância vital que os italianos, bem como os seus descendentes, dão a essa verdadeira instituição de onde deriva um sem número de possibilidades dramáticas. Há quem diga, aliás, que este longa-metragem é a quintessência da representação, o mais fidedigna possível, do que é nascer e viver no seio de uma família italiana. Dito isso, o protagonista desta verdadeira saga, que começa com a mudança da viúva Rosária (Katina Paxinou) e de seus quatro filhos para Milão, é interpretado por Alain Delon. A despeito da atenção que sua beleza já chamava na época, o francês, apresentou uma performance impressionante, que cunhou de vez seu nome no rol dos grandes atores de sua geração. De atitude tão feroz quanto determinada no ringue de boxe, por exemplo, Rocco, seu personagem, é um homem disposto a tudo para manter a integridade da família, inclusive a penhorar seus próprios desejos e vontades. Delon constrói uma figura trágica, homem que sofre essencialmente por sua bondade. – por Marcelo Müller

 

o-eclipse-papo-de-cinemaO Eclipse (1962)
No terceiro filme da trilogia de Michelangelo Antonioni, Alain Delon interpreta Piero, um jovem acionista da bolsa de valores. Delon surge em meio à trama como ponto de renovação para a trajetória iniciada em A Aventura (1960) e com continuação em A Noite (1961). O filme inicia com uma separação. Acompanhamos a tentativa de Riccardo (Francisco Rabal) de se reconciliar com Vittoria (Monica Vitti), em uma busca frustrada por apostar nas palavras como ferramenta eficaz para rearranjar os sentimentos da moça. Ilustrado por cenas de amplidão e isolamento, o casal se separa. É neste novo momento da personagem de Vitti que surge Piero. O acomodamento da relação anterior se renova na energia desse vendedor de ações. Enérgico e bonito, Vittoria deixa para trás as características rústicas e densas de Riccardo para se envolver pelo charme de uma beleza irretocável – ainda que superficial. A profissão de Piero não é algo gratuito. Em certo sentido, representaria uma crítica ao caráter materialista do amor, um aspecto que dominaria o futuro das gerações dali para frente. Tendo Alain Delon como ponto de rompimento e metáfora crítica da incomunicabilidade das relações, o longa levou o Prêmio Especial do Júri, em Cannes, no ano de lançamento. – por Willian Silveira

 

o-leopardo-papo-de-cinemaO Leopardo (Il Gattopardo, 1963)
Alain Delon já tinha aparecido em alguns bons longas, mas ainda não havia estourado para o mundo. Pois no papel de Tancredi, o idealista burguês que quer combater a aristocracia italiana no século XIX, não apenas sua amplamente realçada beleza como também seu talento como ator ganharam os holofotes, ainda mais após a indicação como Ator Revelação no Globo de Ouro de 1964. Neste clássico de Luchino Visconti, Delon incorpora o adorado sobrinho do Príncipe de Salina, Fabrizio Corbera (Burt Lancaster), este, sim, um representante mais do que total da “realeza” da época. Arrogante e autoritário, o aristocrata entra em conflito direto com Tancredi, ainda que haja um respeito e carinho mútuos pelos laços familiares. É praticamente impossível falar de Delon aqui sem citar Lancaster, já que suas atuações somam tudo que há de melhor e pior em seus personagens através da sutileza e do minimalismo dos gestos e expressões de cada um. O mais interessante é que, mesmo com um monstro da atuação à sua frente, nosso homenageado não perde o destaque, muito pelo contrário. Especialmente por ser o “herói” da história. Um papel que abriu ainda mais portas para seus outros grandes filmes que estariam por vir. – por Matheus Bonez

 

o-samurai-papo-de-cinemaO Samurai (1967)
Primeiro e mais emblemático fruto da parceira entre Alain Delon e o cineasta Jean-Pierre Melville, responsável por consolidar definitivamente a imagem do ator como símbolo máximo da elegância masculina nas telas. Na pele do assassino profissional Jef Costello, Delon ajudou a estabelecer todos os conceitos básicos para a criação desse tipo de personagem: o matador silencioso, metódico e sedutor, que vive sob um rígido código moral particular, no caso, inspirado pela cultura oriental. No longa, que mostra Costello sendo flagrado em ação pela primeira vez, levando-o a ser perseguido pela polícia e por seus contratantes, Melville realiza uma releitura à francesa dos arquétipos do cinema noir norte-americano, filmando com maestria esse submundo criminoso tão atraente e cool. A estética refinada, os planos precisos, a fotografia acinzentada e a trilha jazzística minimalista compõem um universo iconográfico que se tornou referência para diretores admiradores da obra como John Woo, Johnnie To, Quentin Tarantino, Jim Jarmusch e tantos outros. Tudo, porém, só funciona com perfeição devido à presença marcante de Delon, impecavelmente vestindo terno e chapéu, com seu olhar impassível, transmitindo a frieza do assassino, mas também a melancolia e a solidão de sua existência, tal qual o pássaro preso na gaiola no apartamento de Costello. – por Leonardo Ribeiro

 

cidadao-klein-papo-de-cinemaCidadão Klein (Monsieur Klein, 1976)
O cenário é a Paris de 1942. Em meio à perseguição crescente aos judeus, Robert Klein (Alain Delon) é um negociante de arte que começa a ter lucros cada vez maiores, visto que os fugitivos vendem suas coleções por preços muito baixos. Porém, o arrogante e metido a intocável está prestes a sofrer na pele o que até então não tinha empatia para compreender sobre os refugiados. Tudo por culpa de alguém com o mesmo nome que aparece numa publicação judaica. O longa de Joseph Losey não deve nada às tramas de espionagem de Alfred Hitchcock, especialmente com o “homem errado” que Delon personifica com extrema convicção, da confiança inabalável do início da história ao desespero em que é submetido e vai afundando aos poucos. Mesmo assim, ele entende bem a personalidade de seu personagem, deixando que, mesmo nos piores momentos, o ego fique acima de tudo. Especialmente quando, em certo momento, ele fala que voltará. Ainda que nem precisasse ir. Culpa e paranoia. Nominado à Palma de Ouro em Cannes em 1976 e vencedor de três César em 1977, incluindo Melhor Filme, a produção também rendeu a primeira indicação ao talento do nosso homenageado. Mais um registro de seu talento inconfundível que se encaixa em qualquer papel. – por Matheus Bonez

 

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o-sol-por-testemunha-papo-de-cinemaO Sol por Testemunha (1960)
Há um quê de Hitchcock neste longa do francês René Clément; não por acaso, o diretor inglês havia adaptado outra obra de Patricia Highsmith, Pacto Sinistro (1951). Nesta adaptação do romance O Talentoso Sr. Ripley – o mesmo que inspirou o filme de 1999 com Matt DamonAlain Delon é Tom Ripley, um americano enviado à Itália pelo pai de seu abastado amigo Phillippe Greenleaf (Maurice Ronet) para convencê-lo a voltar aos Estados Unidos e assumir os negócios da família. Lá, entretanto, os dois jovens resolvem simplesmente aproveitar a viagem, na qual Tom desenvolve uma estranha obsessão pelo amigo. Ao longo do filme, Ripley se revela um completo psicopata, colocando o espectador na posição desconfortável de, inevitavelmente, torcer pelo criminoso. Grande parte disso, é claro, deve-se ao irresistível charme de Delon em seus primeiros anos de carreira. O ator faz dele um personagem difícil de decifrar: é um falsário capaz de enganar quase todos ao seu redor, mas que também intriga o espectador a cada cena, jamais deixando clara a natureza de sua fixação pela vida do amigo, suas verdadeiras intenções ou sentimentos. Ninguém é imune à lábia e ao talento de Tom Ripley – e nem de Alain Delon. – por Marina Paulista

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