Alice Braga carrega no sangue o talento para a interpretação. Sobrinha de Sônia Braga, não demorou muito após sua estreia nas telas para notarem que a garota tinha potencial para ser muito mais do que “a parente da famosa”. Em menos de 13 anos de carreira já foram realizados mais de vinte filmes com seu nome estampado no elenco, alguns até de Hollywood. Seu currículo de premiações também é invejável. Já ganhou duas vezes o Prêmio Guarani do Cinema Brasileiro, levou a estatueta de Melhor Atriz no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, além de ter sido indicada outras cinco vezes, sem contar a Menção Especial no Festival de Miami e o Première Brazil no Festival Internacional do Rio de Janeiro. Todos estes prêmios pelo mesmo filme, Cidade Baixa (2005).
Intercalando a carreira internacional com filmes tupiniquins, Alice Braga esbanja talento, beleza e versatilidade, provando cada vez mais ser uma das grandes atrizes de sua geração. No dia 15 de abril ela completa mais um aniversário e, é claro, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger seus cinco melhores trabalhos – e mais aquele que merece uma menção honrosa.
Por Marcelo Müller
Quando filmou Cidade de Deus, Alice Braga era apenas “a sobrinha de Sônia Braga”, ou seja, astro sem luz própria. Ela vivia a menina cobiçada pelo personagem Buscapé, o narrador do filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund, chamada de “cocota”, palavra usada para designar uma mulher de beleza chamativa. Seu papel era pequeno naquele mosaico de dramas humanos, violência e criminalidade que ganhou as telas do mundo, angariando prêmios e reconhecimento. Diferentemente de alguns colegas de elenco, que praticamente sumiram da vida artística após o êxito, Alice Braga aproveitou a breve centelha de fama para investir pesado na carreira que almejava e alçar voos maiores. De lá para cá, teve ótimas interpretações no cinema nacional, construiu sólida carreira internacional (o que é muito difícil), assim se tornando uma de nossas atrizes mais estabelecidas. Mas tudo começou lá em 2002, com Angélica, em seu primeiro longa-metragem, no qual mostrou que, além de sobrinha de uma grande artista, possuía méritos, e não poucos. Alice Braga hoje extrapola o parentesco com Sônia Braga, pois definitivamente uma estrela de luz própria.
Por Robledo Milani
Cidade Baixa não conta uma história, especificamente falando. Como centro de sua ação está um triângulo amoroso e as conseqüências das decisões de cada integrante em suas vidas. Dois amigos que vivem como entregadores de mercadorias num barquinho aceitam dar carona a uma prostituta que ruma para a capital baiana. Como pagamento, eles vão para a cama com ela. O relacionamento, a princípio somente comercial, acaba gerando frutos. Os três se envolvem de forma intensa e irreversível. Wagner Moura mostra pela primeira vez porque é um dos melhores atores nacionais de sua geração, assim como Lázaro Ramos, que a cada novo trabalho se reinventa de modo impressionante. Ainda assim, o show está nas mãos de Alice Braga, que comprovou que o talento visto de relance na pequena participação dela em Cidade de Deus (2002) poderia render ainda muitos frutos – como, de fato, aconteceu. O filme não se preocupa com reviravoltas, truques de roteiro ou em passar alguma mensagem. O que importa são os sentimentos, as emoções e os distúrbios dos personagens, e como eles lutam para vencer e para se encontrarem. O efeito no espectador é arrebatador.
Por Rodrigo de Oliveira
Eu Sou a Lenda não é apenas um bom filme de ficção científica, que utiliza bem o conceito do último homem na Terra para contar sua história. Para nós brasileiros, que já conhecíamos o belo trabalho de Alice Braga em filmes como Cidade de Deus (2002) e Cidade Baixa (2005), foi uma agradável surpresa observá-la em sua primeira chance em uma grande produção hollywoodiana. Ela já havia trabalhado fora do Brasil antes, é verdade. Mas em Eu Sou a Lenda, não só divide a tela com o grande astro Will Smith, como tem um personagem que apresenta um arco interessante – ainda que, inexplicavelmente, seja uma brasileira que nunca tenha ouvido falar de Bob Marley. Para quem não lembra, em Eu Sou a Lenda, Will Smith vive um homem que sobreviveu a uma praga que dizimou boa parte do planeta e, desde então, vive em vigília para encontrar outros sobreviventes e tentar escapar dos humanos fotossensíveis infectados com uma estranha doença. Em sua jornada, conhece Anna (Braga) que, assim como ele, conseguiu sobreviver sem contrair aquele mal. Ainda que seja um papel pequeno, ela mostra talento, sendo o pontapé inicial para uma carreira internacional que cada vez vem dando mais frutos.
Por Robledo Milani
Segundo longa da diretora paulista Lina Chamie, A Via Láctea estreou sob fortes aplausos numa mostra não-competitiva do Festival de Cannes de 2007. Um belo exemplo de um cinema mais autoral, mas que mesmo assim consegue se comunicar com o público. Marco Ricca é um professor quarentão em crise com a namorada mais jovem. Após uma discussão telefônica aparentemente banal que termina atingindo extremos, decide largar tudo o que estava fazendo para ir ao encontro da amada, do outro lado de São Paulo, e tentar uma reconciliação. No outro lado da linha está a bela e talentosa Alice Braga, um frescor de juventude, uma personalidade maleável, sexy e inocente, madura e ansiosa por novidades. Ela compõe um ótimo contraponto ao modo sisudo e recluso vivido por Ricca. E, da mesma forma que achamos natural o envolvimento dos dois, concluímos que não serão poucas as forças que tentarão separá-los – externas e, acima de tudo, internas. No final somos presenteados com uma conclusão surpreendente e inesperada, mas que combina perfeitamente com tudo dito anterioremente. Mais um sinal de respeito – com a história, com os envolvidos e, claro, com o espectador.
Por Thomás Boeira
Dentre as chances que Alice Braga tem ganhado internacionalmente, Elysium é, em termos de escala, a segunda produção mais relevante da qual a atriz brasileira participou, após o ótimo Eu Sou a Lenda. Primeiro filme do diretor Neill Blomkamp depois do sucesso de Distrito 9 (2009), o longa é uma ficção científica que se passa no ano de 2154, quando a população mais rica da Terra vive em uma estação espacial (a Elysium do título) com vários recursos, enquanto o restante ficou na precariedade deixada no planeta. Nisso, depois de sofrer um acidente no trabalho, Max (Matt Damon) é obrigado a ir até a Elysium para se salvar, uma tarefa nenhum pouco fácil graças às leis do local. É um filme interessante mais pelos comentários sociais que insere na história do que pela sua parte de ação, onde encontra alguns problemas, além de contar com algumas coisas difíceis de engolir (como uma certa reconstrução facial que ocorre em determinado momento). Em meio a isso, nossa homenageada interpreta Frey, amiga de infância do herói que o ajuda em sua missão, um papel até pequeno, mas para o qual ela traz a segurança que nos acostumamos a ver sempre que ela aparece na tela.
+1
Por Matheus Bonez
O longa de estreia de Marco Ricca como diretor foca na desconstrução das relações familiares. Na família Menezes, o que menos se encontra é amor, ao contrário de obsessão. Miro (Fulvio Stefanini), o pai, é o catalisador de todos os acontecimentos e subtramas que se desenrolam na tela. Entre elas, a que envolve a nossa homenageada. Alice Braga aqui é Elaine, a filha que provoca ciúmes de uma forma quase incestuosa. Ela vive uma relação proibida com Denis (Daniel Hendler), o piloto de Miro, que viaja pela fronteira com cargas de tráfico. Devido a esse romance perigoso, Miro mal nota os problemas com a mulher, enquanto sufoca Elaine. Braga defende a personagem contrastando a doçura com a vontade de se libertar, se destacando em um elenco já acima da média por natureza. Os desfechos não são felizes, mas não é esta a intenção do longa, e sim desmistificar o conceito de família.