Angelina Jolie hoje é mais conhecida não apenas por seus filmes, mas também pelo seu trabalho com refugiados como embaixadora da ONU. Porém, quem poderia adivinhar há uma década atrás que a boca mais famosa de Hollywood seria tão interessada em ajudar os outros? Pivô de escândalos, apaixonada por facas (cortou a si mesma várias vezes, inclusive) escreveu na camiseta que usou em seu primeiro casamento, com o ator Jonny Lee Miller, o nome do companheiro – com sangue. Depois foi casada com outro colega de profissão, Billy Bob Thornton, para em seguida formar o par estrelado ao lado de Brad Pitt, com quem teve seis filhos (três biológicos e três adotivos). Presença constante nas listas de personalidades mais bonitas e sensuais, Angelina alterna sua filmografia entre personagens densos de dramas como O Preço da Coragem (2007) e A Troca (2008) com figuras pop de não menos força, especialmente sua encarnação nos filmes Lara Croft: Tomb Raider (2001) e Lara Croft: Tomb Raider – A Origem da Vida (2003). A musa de 99% dos marmanjos (e das mulheres também) de todo o mundo está de aniversário neste dia 4 de junho. E para comemorar, a equipe do Papo de Cinema fez aquela lista dos cinco melhores filmes – e mais um que merece ser redescoberto – da carreira da atriz!
Em 1998, Angelina Jolie não era a atriz, diretora e embaixadora de causas humanitárias conhecida de hoje. Na época era apenas a filha de Jon Voight que fazia algumas participações em produções trash do cinema B. Porém, bastou encarnar a modelo Gia Carangi na cinebiografia televisiva para Jolie despertar a atenção da crítica e do público como uma intérprete de respeito. Sua atuação visceral é pontuada a todo momento no longa, da sua relação com Linda aos bate-bocas intensos com a mãe, sua entrega às drogas até a descoberta do vírus HIV no corpo, a causa de sua morte. O telefilme em si tem alguns defeitos, mas a presença de Angelina disfarça qualquer aspecto mais simplório. A produção é entregue em suas mãos e a única coisa que o espectador pode fazer é ficar de queixo caído com tamanha perfeição na tela. Por este trabalho, recebeu (entre outros prêmios) o Globo de Ouro de Melhor Atriz, ajudando-a a despontar para Hollywood, de onde nunca mais saiu. Para a nossa sorte. – por Matheus Bonez
Angelina Jolie já não era apenas a filha de Jon Voight quando faturou seu Oscar por este filme. No mesmo ano em que ganhou destaque pelo esquecido O Colecionador de Ossos (1999), a atriz se sobressaiu em meio a um grande elenco feminino ao lado de Winona Ryder, Whoopi Goldberg, Vanessa Redgrave e Elisabeth Moss. Winona, produtora do filme, inclusive amargou sua sucessão de esforços para se relançar como protagonista e involuntariamente alavancou a carreira de Jolie, que pouco depois daria carne – e lábios – para a heroína de ação Lara Croft em Tomb Raider (2001). O filme é um pequeno e intenso estudo de época centrado em jovens que flertam com a loucura num hospital psiquiátrico. Além de Angelina, a produção dirigida por James Mangold também ganha destaque pela assertiva trilha musical, que reapresenta clássicos de Aretha Franklin, The Doors e Jefferson Airplane. O drama ainda possui um bonito momento com a música Downtown, na voz de Petula Clark, e também nos vocais erráticos de Ryder e Jolie. Longe de ser uma obra-prima, funciona como uma boa adaptação ao romance autobiográfico de Susanna Kayser. – por Conrado Heoli
O Preço da Coragem (A Mighty Heart, 2007)
Dos filmes políticos pós-11 de Setembro, este é um dos menos conhecidos. Não gerou o impacto entre público ou crítica provocado por títulos como Guerra ao Terror (2008) e A Hora Mais Escura (2012) ou documentários como 9/11 (2002) e Fahrenheit 9/11 (2004). No entanto, ofereceu a oportunidade para Angelina Jolie mostrar seu poder de atuação. Centrada, contida e racional, porém desolada e deprimida em momentos específicos, sua interpretação é o contraponto perfeito à narrativa frenética e barulhenta do filme de Michael Winterbottom sobre o sequestro de Daniel Pearl, jornalista assassinado no Paquistão em 2002. Jolie vive Mariane, esposa grávida de Daniel que está ao lado de autoridades paquistanesas, norte-americanas e francesas na investigação sobre o paradeiro do marido. Cenas da fragilidade da protagonista e das tensas estratégias para resolver o caso são intercaladas tanto com as enérgicas incursões da polícia local pelas caóticas ruas de Karachi quanto com takes do romance entre os noivos e também com os últimos momentos de vida de Daniel em busca de uma derradeira entrevista antes de sua volta aos Estados Unidos. Jolie equaliza sobriedade e desespero com refino. – por Danilo Fantinel
Mães, pais e filhos são uma constante na cinematografia do diretor Clint Eastwood, sem nenhuma dúvida. As realizações mais fortes e interligadas quanto ao tema se dão ainda mais potencializadas em Sobre Meninos e Lobos (2003) e neste drama estrelado por Angelina Jolie. E aqui, mais que Eastwood, quem recebe a responsabilidade de guiar o público pela história é a protagonista. Afinal, ela aparece como uma mulher separada e com um filho, precisando assim se dividir entre o trabalho e os deveres de mãe e dona de casa, ela é surpreendida quando chega a sua residência e não encontra seu filho. A polícia relapsa diz ter encontrado o garoto, porém ao ser apresentada à criança ela nota que aquele não é o seu menino. Estaria ela louca ou seria uma conspiração? Lidando com questões de rapto e violência infantil, é um filme ambientado nos anos 1950, mas que muito bem poderia ser transposto aos dias atuais. Jolie entrega uma das grandes performances de sua carreira, tanto que foi indicada ao Oscar pelo filme. – por Renato Cabral
Aqui, não importa tanto os efeitos e as manobras pirotécnicas que a produção engendra para facilitar o acesso ao filme. A “história de personagens” que ele vai contar é seu mais interessante mistério. Em meio a todos seus defeitos, há nele a audácia das imagens “falsificadas”, essas que não são o que aparentam ser, que enganam e mistificam o quanto podem. Aí reside a grande questão: como filmar dois rostos tão conhecidos como os de Angelina Jolie e Johnny Depp? Ela é apenas uma imagem que se quer restringir, ele um corpo que não consegue se resolver nem consigo mesmo. Essencialmente, o filme joga com essa ambiguidade da imagem cinematográfica. Jolie é vista através de inúmeros closes, sua boca e seu olhar preenchem a tela. A faca que finca seus lábios é um truque baixo e rasteiro, mas trata-se de um clichê importante porque consciente de sua grosseria e aparente frivolidade. No fim das contas, a trama vai depender dessa mesma pele sensível e intocável, pois suas fissuras revelarão seus conteúdos. Não é falsa, nem verdadeira, apenas cinematográfica. O que significa muito mais. – por Pedro Henrique Gomes
+1
Quem observa a filmografia de Angelina Jolie e se depara com títulos como Sr. e Sra. Smith (2005), O Procurado (2008), Salt (2010) e Lara Croft: Tomb Raider (2001) poderia apostar que o trabalho de estreia da atriz atrás das câmeras poderia pender para este lado mais aventuresco. Nada disso. Este drama pega uma temática espinhosa e aponta sua câmera para um romance que serve como um microcosmo, representando o conflito duradouro entre muçulmanos e sérvios. Não é um grande filme, é bem verdade. Tem alguns bons momentos, uma escolha de elenco interessante e uns enquadramentos inteligentes. Mas a mão pesada da estreante atrapalha e a história acaba ficando à deriva em certos pontos. No entanto, pela coragem de tocar em um assunto espinhoso e pela vontade de começar uma nova carreira, desassociando sua figura a títulos pueris, Jolie merece crédito e a produção acaba sendo melhor do que boa parte da filmografia da atriz. – por Rodrigo de Oliveira