Até hoje, ela já soma quatro indicações ao Oscar – por Os Imorais (1990), como Melhor Atriz Coadjuvante, e por Beleza Americana (1999), Adorável Júlia (2004) e Minhas Mães e Meu Pai (2010), como Melhor Atriz. Mas a quantidade de personagens que já interpretou que mereciam a lembrança da Academia – e até mesmo uma aguardada vitória – também foram muitos. Apenas para citar alguns, como esquecer do primeiro encontro com Warren Beatty – que viria a se tornar seu marido – no épico Bugsy (1991), da determinada dona de casa do faroeste Pacto de Justiça (2003), da alucinada matriarca de Correndo com Tesouras (2006) ou mesmo na recente aparição ao lado de Al Pacino na comédia Não Olhe Para Trás (2015), apenas para ficarmos em alguns dos seus trabalhos mais subestimados? Pois Annette Bening é uma das grandes da Hollywood atual, capaz de ir do escracho ao drama intenso, da reconstituição histórica ao mais moderno retrato contemporâneo, sempre com igual competência e afinidade, seja com o diretor, com seus colegas de elenco e, principalmente, com o público. É por isso que, neste 29 de maio, dia em que comemora mais um aniversário, nós lembramos seus cinco trabalhos mais marcantes, além de apontar um especial, que não pode ser esquecido. Confira!
Os Imorais (The Grifters, 1990)
Um ano após chamar a atenção de público e crítica em Valmont: Uma História de Seduções (1989), de Milos Forman, Annette Bening confirmou seu talento neste thriller neo-noir dirigido pelo britânico Stephen Frears. A trama, baseada no romance de Jim Thompson, se passa no submundo dos trapaceiros profissionais, acompanhando as artimanhas do trio formado por Roy (John Cusack) um vigarista inseguro que vive de pequenos golpes, sua atraente namorada, Myra (Bening), mulher que esconde muito mais do que aparenta, e Lilly (Anjelica Huston) veterana golpista e mãe de Roy, que trabalha lavando dinheiro para a máfia em corridas de cavalos. Filmando com extrema elegância, Frears transporta para as telas um universo amoral fascinante, guiado pelas ótimas reviravoltas do roteiro, incluindo um impactante final, e pelo incrível trabalho do elenco. Na pele de Myra, com seus cabelos loiros e sorriso fácil, Bening encarna uma variação da típica femme fatale, direta e expansiva no modo de exibir seus dotes sedutores, e que acaba se revelando uma figura extremamente ardilosa, dona de um grande poder manipulação. Com essa caracterização, em seu terceiro longa-metragem, Bening já adentrava o rol das grandes atrizes do cinema americano contemporâneo, conseguindo sua primeira indicação, como coadjuvante, ao Oscar. – por Leonardo Ribeiro
Beleza Americana (American Beauty, 1999)
Insatisfação. O marido, a esposa, a filha, até mesmo os vizinhos estão sob o mal de não saberem o que querem para si e para suas famílias. Talvez almejem algo melhor, maior, mais completo. Mas, no fundo, tudo o que parecem desejar é se afastar de tudo e de todos. Nessa incrível comédia satírica vencedora de 5 Oscars – entre eles, os de Melhor Filme e Direção – Annette Bening aparece como a indomável corretora de imóveis que não tem paciência para lidar com a crise de meia idade do esposo e muito menos com os dilemas juvenis da filha. E entre levar um fora do amante e se preparar para a próxima venda, a atriz atinge um impressionante grau de excelência em mais de um momento, seja nos embates físicos e verbais com Kevin Spacey – um dos melhores parceiros que ela já teve em cena – ou quando ameaça desabar na completa solidão e vazio que tenta, a todo custo, esconder daqueles que a cercam. Premiada com o Bafta e com o troféu do Sindicato dos Atores, Bening poucas vezes esteve tão perto do Oscar como aqui, uma vitória que, caso tivesse ocorrido, teria sido mais do que merecida! – por Robledo Milani
Adorável Júlia (Being Julia, 2004)
Annette Bening deve odiar Hilary Swank. Após ter perdido para a atriz – excelente em Meninos Não Choram (1999) – o Oscar por Beleza Americana, ela se viu novamente derrotada pela mesma rival cinco anos depois, que levou sua segunda estatueta por Menina de Ouro (2004)! Mas se a disputa entre as duas, em ambas ocasiões, foi intensa, é tranquilo afirmar que nos dois casos Bening ficou com a vice-liderança entre as indicadas. Ao aparecer como uma estrela do teatro na Londres dos anos 1930 que se apaixona por um colega muitos anos mais jovem, ela levou para casa seu primeiro Globo de Ouro, além do prestigioso troféu do National Board of Review. Com uma personagem feita para uma atriz no auge do seu talento – no Brasil, esse mesmo papel foi defendido nos palcos por Marília Pêra – sua Julia é uma diva no conceito mais amplo do termo, afeita a ataques de fúria e de paixão, obrigando a todos ao seu redor a terem que lidar com um temperamento nunca previsível. Nuances que Bening equilibra com perfeição, eliminando qualquer possibilidade de clichê em uma figura complexa e hipnotizante. – por Robledo Milani
Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right, 2010)
Lançado como uma comédia despretensiosa sobre um casal em crise com a aproximação do doador de esperma de seus filhos, o filme dirigido por Lisa Chodolenko conquista o público por seu roteiro, que foge dos estereótipos em alta velocidade, e pelas atuações sem maneirismos do elenco. Annette Bening está em sintonia com Julianne Moore, imprimindo, em especial nas cenas em que o casal se desentende, um realismo inspirador. O embate das duas, cada uma a seu modo, com Paul, personagem de Mark Ruffalo, garante as cenas mais divertidas e emocionantes do longa. Com quatro indicações ao Oscar, entre elas a de melhor atriz para Bening, a produção apareceu como a zebra da premiação, confirmando a rejeição por comédias dos membros da Academia, mesmo quando a temática e as piadas vão além da provocação do riso e fazem o espectador pensar sobre seus próprios relacionamentos e os preconceitos do cotidiano. – por Bianca Zasso
Mulheres do Século 20 (20th Century Women, 2016)
Choramingar sobre as injustiças do Oscar é inútil. Mas, difícil ficar impassível diante da ignorada que a Academia deu em Annette Bening, em 2017. Ela nunca levou a estatueta para casa, mas foi indicada em quatro oportunidades anteriores. E cairia bem a quinta nominação por este filme de Mike Mills, no qual interpreta uma mãe de família dos anos 1970 às voltas com as transformações sociais e o amadurecimento de seu único filho. Vamos além. Como seria bonito ver a veterana subir vitoriosa ao palco para agradecer e ser reverenciada, não somente por este trabalho especificamente, embora ele merecesse de qualquer maneira, mas também pela carreira de papeis marcantes. Bening nem sequer figurou entre as cinco selecionadas. Uma pena, pois, se nos pusermos a fazer comparações, seu desempenho é mais marcante que o de Emma Stone, triunfante por La La Land: Cantado Estações (2016). Não foi desta vez, embora, verdade seja dita, possuir a cobiçada láurea dourada não define peremptoriamente a estatura dos artistas. Ainda bem, pois Bening é gigante, com ou sem Oscar. – por Marcelo Müller
+1
Meu Querido Presidente (The American President, 1995)
Injustamente ignorado pelo Oscar, que deu a esse título apenas a indicação de Melhor Trilha Sonora Original, o longa-metragem dirigido por Rob Reiner e roteirizado por Aaron Sorkin é um verdadeiro deleite. Felizmente, os membros da imprensa estrangeira deram o devido valor ao filme, indicado-o ao Globo de Ouro de Melhor Filme Comédia ou Musical, Direção, Roteiro, Ator (Michael Douglas) e, claro, Atriz (Annette Bening). Na trama, a vemos como Sidney Ellen Wade, uma lobista que acaba se envolvendo com o presidente norte-americano viúvo Andrew Shepherd (Douglas). Ela se assusta com a atenção que o seu romance é visto pela mídia e quando o seu trabalho começa a ser afetado pelo relacionamento, a profissional pesa o que isso pode trazer à sua vida. Como de praxe, o texto rápido de Sorkin é um dos principais predicados do longa, que acaba caindo como uma luva na embocadura dos protagonistas. Atores que exalam inteligência, os dois protagonistas tem ótima química e se mostram muito à vontade com seus quilométricos diálogos. Embora os holofotes estejam virados em boa parte do filme para Michael Douglas, apenas uma atriz da estatura de Bening conseguiria chamar o foco para si. – por Rodrigo de Oliveira
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