Filha de uma professor e de um dentista, Audrey Tautou recebeu seu nome em homenagem a uma das grandes divas do cinema, Audrey Hepburn. Talvez o fato tenha influenciado seu interesse pela carreira artística, já que desde cedo ela mostrou talento para os palcos e o cinema. Após três anos fazendo papeis coadjuvantes, ela alçou voos maiores com Instituto de Beleza Vênus (1999) pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Nova Atriz no César daquele ano. Ela voltaria à premiação francesa não muito tempo depois quando seu rosto se tornou conhecido mundialmente graças a uma certa Amélie Poulain. Entre trabalhos como estes já citados, ou a esposa que perdeu seu marido na guerra e até representando um dos maiores nomes da moda, Coco Chanel, a intérprete já mostrou sua versatilidade recompensada com nove prêmios e 19 indicações. No dia 9 de agosto, Audrey Tautou completa mais um aniversário. É claro que a equipe do Papo de Cinema não poderia perder a oportunidade e elege seus cinco melhores trabalhos – e mais um que merece destaque. Confira!
Jean-Pierre Jeunet fez em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain um dos filmes mais adoráveis da década passada. Ao contar a história da personagem-título (interpretada por Audrey Tautou), uma jovem que teve sua sociabilidade reprimida durante a maior parte de sua vida, mas que decide ajudar as pessoas ao seu redor ao ver como isso faz todos (inclusive ela) se sentirem, o diretor cria uma narrativa repleta de vivacidade, algo que reflete na própria estética do longa, que pinta a tela com cores quentes e agradáveis. No centro disso, Audrey Tautou surge absolutamente encantadora no papel de Amélie Poulain, encarnando-a como uma garota graciosa e divertidamente excêntrica, sendo difícil para o público não abrir um sorriso quando ela surge em cena. E considerando que isso ocorre com frequência no filme (afinal, ela é a protagonista), assistir a esse filme acaba sendo uma experiência adorável por natureza, nos fazendo acompanhar uma personagem que se tornou icônica quase imediatamente. – por Thomás Boeira
Pouco depois de se tornar mundialmente conhecida por sua Amélie Poulain, Audrey Tautou encarou o desafio de atuar pela primeira vez em uma produção de língua inglesa neste longa do britânico Stephen Frears. A história acompanha Okwe (Chiwetel Ejiofor) um nigeriano que vive como imigrante ilegal em Londres, dividindo seu tempo entre empregos como motorista durante o dia e recepcionista do Hotel Baltic durante a noite. Morando de favor no apartamento de Senay (Tatou), uma camareira turca que trabalha no hotel, Okwe vê sua exaustiva rotina complicar ainda mais quando descobre que seu gerente, Juan (Sergi López), utiliza o Baltic como sede de uma rede de tráfico de órgãos. Com essa premissa, Frears realiza uma obra que peca em seu discurso político simplificado, mas que funciona perfeitamente como exercício de suspense, utilizando a verdadeira miscelânea cultural de Londres como cenário. Ainda que o foco principal seja no personagem de Ejiofor, já demonstrando talento em seu primeiro grande papel, o trabalho de Audrey Tatou é fundamental, pois o relacionamento de Okwe e Senay se apresenta como a força motriz do longa, e a francesa constrói uma personagem complexa, transitando entre a dureza e a fragilidade com destreza. – por Leonardo Ribeiro
Reprisando a parceria com Jean-Pierre Jeunet, Audrey Tautou estrela Eterno Amor com muito carisma e domínio de cena. Ela interpreta a jovem Mathilde que, após perder o noivo nas trincheiras de Somme durante a Primeira Guerra Mundial, entra em uma busca para descobrir as circunstâncias da morte do jovem. Tautou constrói uma personagem tão especial quanto Amélie, seja pelas características físicas (Mathilde teve poliomelite quando criança) ou psicológicas. Com um tom dramático que evoca até mesmo Cold Mountain (2003), de Anthony Minghella, Jeunet mais do que nunca entrega o filme a sua protagonista e Tautou explora em ótima forma. Co-produção entre França e Estados Unidos, o filme não encontrou grandes indicações na terra do Tio Sam além de prêmios técnicos no Oscar e uma indicação, mais que necessária, ao Globo de Ouro de Filme Estrangeiro. Tautou, ao menos, foi indicada ao César de Melhor Atriz. – por Renato Cabral
Assim como acontece a tantos outros, um dia o amor encontrou Nathalie. E tudo se encaminhava da melhor maneira possível, até que, sem aviso prévio, ele lhe foi tirado. Sozinha no mundo, começou a acreditar que talvez nada mais lhe restasse, a não ser o trabalho. Foi neste mesmo ambiente, no entanto, onde conheceu a pessoa mais inesperada de todas, aquela que seus amigos nem percebiam e, quando lhe davam atenção, era com desdém. Mas ela via nele algo único: o amor, que estava de volta. Esse sentimento capaz de transformar vidas é o centro desta trama conduzida com lirismo e extrema sensibilidade pelos diretores e irmãos Stéphane e David Foenkinos, em uma história adaptada a partir do romance escrito pelo último. Ainda que Pio Marmaï (o primeiro namorado) e François Damiens (a nova paixão) estejam igualmente perfeitos em seus papeis, é Audrey Tautou, como a protagonista, quem brilha por completo. Nos vemos em suas dores e felicidades, alegrias e sorrisos, injúrias e tristezas, e assim como um flor que desabrocha pela segunda vez, torcemos pelo florescer dessa nova relação. Algo tão simples, mas feito com tamanho cuidado e precisão que se torna impossível não se emocionar junto com sua personagem. – por Robledo Milani
Baseada no romance homônimo escrito por Boris Vian, esta realização de Michel Gondry chama a atenção, primeiro, pela singularidade visual. Audrey Tautou interpreta uma mulher que, no auge da paixão, descobre uma flor de lótus nascendo dentro do pulmão. O caro tratamento, que inclui medicamentos e a aplicação de centenas de flores, consome pouco a pouco o dinheiro dos recém-casados. A escuridão toma conta do filme que até então era um conto de fadas luminoso com toques surrealistas. A morte, cada vez mais próxima, é refletida no entorno que vai literalmente murchando, desmoronando, tornando tudo lúgubre. Tautou, a eterna Amélie Poulain, tem aqui a oportunidade de mostrar seu talento, desvinculando-se um pouco da imagem da protagonista do filme de Jean-Pierre Jeunet. A doença insólita de sua personagem confere certa poesia à finitude, como se mesmo próximo do fim fosse possível encontrar beleza. A atriz francesa sai-se muito bem, tanto ao expressar a euforia do amor romântico quanto ao externar a angústia da iminente separação eterna. Audrey Tautou pode não ser uma grande atriz, mas mostra valor, sobretudo quando bem dirigida, provando existir vida (artística) após o fenômeno Amélie Poulain. – por Marcelo Müller
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Um ano depois de eternizar sua imagem doce e cativante como Amélie Poulain, Audrey Tautou apresentou uma protagonista bastante controversa, ainda que apresentasse em seu nome uma inspiração angelical. Em Bem Me Quer, Mal Me Quer, toda a graça de Tautou serve perfeitamente bem para a ambígua Angélique, jovem estudante de artes desesperadamente apaixonada por Loïc, um médico casado que espera seu primeiro filho. Enquanto insiste no improvável amor e na expectativa de que ele abandone a esposa grávida, a obcecada Angélique desvia das investidas românticas de um colega de classe, David, e evita os conselhos de sua melhor amiga, Héloïse. Mas o resultado da brincadeira infantil que dá nome ao filme se torna cada vez mais óbvio: Loïc não a quer bem. Repleta de humor negro, esta comédia romântica ao inverso marcou a estreia como diretora da jovem atriz Laetitia Colombani, que analisa uma obsessão erótica a partir de diferentes perspectivas com inteligência, suspense e muita ironia. Tautou não poderia compor Angélique com melhores nuances e afetações; emocionalmente onipresente em tela, ela hipnotiza o espectador enquanto parece brincar com as razões e aspirações de uma personagem enigmática e irresistível. – por Conrado Heoli