Com mais de 40 filmes em sua filmografia, além de umas vinte séries e telenovelas, somente agora Babu Santana está se tornando reconhecido nacionalmente. E por quê? Por causa da sua participação no reality show Big Brother Brasil, exibido pela Rede Globo. Desesperador, não é mesmo? Mas também não é para tanto. Pois se o programa segue campeão de audiência, e muitos já declararam terem se tornado fãs do artista – que, inclusive, chegou até mesmo a escapar de alguns ‘paredões’ graças a esse suporte do público – não seria também esse o melhor momento para conhecer – e descobrir – o melhor do trabalho desse que é um dos grandes artistas do Brasil atual? Pensando nisso, organizamos essa lista com alguns dos seus filmes mais consagrados – seja por premiações, reconhecimento da crítica ou participações como protagonista – além de apontar, no final da lista, mais um que merece ser descoberto (nesse caso, não exatamente o filme, mas certamente a presença de Babu, que apesar de pequena, é bem marcante). Ficou curioso? Então siga em frente e confira os 5 melhores filmes de Babu Santana + 1 que merece a sua atenção!
Estômago (2007)
Babu Santana é um ator fiel aos diretores que apostaram no seu talento. Dentre as diversas parcerias que já estabeleceu ao longo da sua carreira, uma das mais frutíferas foi com o diretor Marcos Jorge. Pois foi quem o chamou para o papel de Bujiú, o líder na cela onde o protagonista interpretado por João Miguel vai parar após cometer um crime tão terrível que só no final da história o espectador ficará, de fato, a par do que aconteceu. Porém, no meio de tanta desgraça, será Bujiú o primeiro a perceber os talentos culinários de Nonato (Miguel), dando-lhe a oportunidade e providenciando as condições necessárias para que o recém-chegado encontre um lugar de destaque dentro do sistema presidiário. Babu já começa com cara de poucos amigos e com um personagem capaz de feitos impronunciáveis, mas é também uma alma leve que, por vezes, consegue até mesmo servir como alívio cômico. Além, é claro, de se mostrar o fiel escudeiro do protagonista, estando ao seu lado tanto para defendê-lo como, também, para se aproveitar das delícias que o outro conseguir preparar. Misturando uma aparência assustadora com um sorriso largo, Santana de imediato despertou curiosidade. Tanto que ganhou o primeiro Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – o Oscar nacional – de sua coleção, além de ter sido premiado também no CinePort: Festival de Cinema Português, em Portugal, e no Festival do Rio, sempre como coadjuvante.
Maré: Nossa História de Amor (2007)
Outra importante parceria artística do ator é com a diretora Lúcia Murat. E se os dois já haviam tido um bom relacionamento no drama Quase Dois Irmãos (2004), foi com o romance musical Maré: Nossa História de Amor, feito três anos depois, que alcançaram melhores notas. Como Dudu, o líder do tráfico na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, e irmão desgarrado de uma família que luta para evitar os caminhos mais tortuosos, ele aparece como uma figura pontual, situada no centro da ação, capaz de atos de grande selvageria assim como outros de imensa camaradagem. Mesmo sem conseguir fugir do estereótipo do favelado que leva uma vida de crimes, Babu Santana mais uma vez captou os olhares, seja pelo cabelo descolorido ou mesmo pelos dotes musicais – tanto que acabou sendo premiado como Melhor Ator Coadjuvante no Festival do Rio. E a colaboração com a cineasta continuou, e os dois voltaram a trabalhar juntos em A Memória que me Contam (2012) e em Praça Paris (2017). “Tenho muito orgulho de ser o ator preferido da Lúcia Murat”, revelou o ator, entre risos, há alguns anos.
Julio Sumiu (2014)
A comédia do diretor Roberto Berliner ficou bem aquém das expectativas – levou menos de 200 mil espectadores aos cinemas, quando as apostas eram de mais de um milhão – mas mesmo assim rendeu bons frutos para alguns dos envolvidos. Em especial, para Babu Santana, que como o Caolha conquistou sua segunda indicação ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, mais uma vez como Melhor Ator Coadjuvante – acabou perdendo, no entanto, para Jesuíta Barbosa, por Praia do Futuro (2014). Baseado no livro de Beto Silva, Julio Sumiu conta com nomes de peso no elenco, como Lilia Cabral, Fiuk, Carolina Dieckmann e Stepan Nercessian, para contar a história da dona de casa que acaba se envolvendo com tráfico de drogas na tentativa de encontrar o filho desaparecido. Uma curiosidade é que o grande – e atrapalhado, afinal, se trata de uma comédia – vilão da história é um colega de Santana lá de um dos seus primeiros trabalhos: Leandro Firmino. Desta vez, no entanto, o ator aparece do outro lado da lei: é um policial, mesmo tipo de personagem que já havia feito em outros filmes, com Os Normais 2 (2009) e Os Penetras (2012) – não por acaso, também comédias. Entre tentativas rasteiras de humor, uma graça cada vez mais escassa e piadas que muitas vezes acabam por não encontrar seu público-alvo, Babu é um dos poucos acertos em cena, capaz até de salvar o conjunto de um destino ainda pior.
Tim Maia (2014)
Depois de uma carreira de mais de uma década, finalmente havia chegado até Babu Santana seu primeiro protagonista: Tim Maia! Como o personagem-título, que interpreta na fase adulta – antes, na juventude, é Robson Nunes que ocupa seu lugar – Babu se entrega de corpo e alma – e vozeirão – para recriar a personalidade contagiante do cantor. No entanto, a parte da narrativa que ele ocupa é também a fase final da vida do músico, quando se envolveu com drogas e enfrentou o declínio artístico. Mesmo com 35 anos na época, Babu deu vida a um Tim Maia vinte anos mais velho, de temperamento explosivo, relações – profissionais e afetivas – problemáticas e um imenso talento. Uma figura muito complexa, retratada com bastante entrega pelo ator. Não por acaso, ganhou seu segundo troféu no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, agora como Melhor Ator – em um empate histórico, dividindo o reconhecimento com o veterano Tony Ramos, que concorria por Getúlio (2014). Além disso, foi escolhido também o melhor ator brasileiro do ano pelo júri popular no Festival SESC Melhores Filmes! Mesmo ao lado de atores mais conhecidos, como Cauã Reymond e Alinne Moraes, é pela voz – e olhar, e postura – de Babu Santana que responde o grande sucesso desse projeto, que levou quase um milhão de brasileiros aos cinemas e ainda foi desdobrado em uma minissérie – Tim Maia: Vale o Que Vier (2015) – exibida na televisão.
Mundo Cão (2016)
Depois de Tim Maia, Babu Santana havia tomado gosto pelos protagonistas. Porém, ainda faltava se livrar dos estereótipos – ou o policial bobalhão, ou o bandido barra pesada, ou o pobre favelado. Pois bem, foi o diretor Marcos Jorge – o mesmo de Estômago – que lhe deu essa oportunidade. Em Mundo Cão, o nome do personagem de Babu é simplesmente… Santana! Um pai de família, com dois filhos para criar e muito bem casado com Dilza, vivida por Adriana Esteves. Somente por esse casal – Babu Santana e Adriana Esteves, uma dupla nada óbvia, mas que possui em tela uma química bastante presente – este já é um filme que merece ser visto. Porém, há ainda a participação de Lázaro Ramos, que surge como Nenê, o antagonista que vem para, literalmente, tocar o terror como um desafeto em busca de vingança após seu cachorro ser caçado pela carrocinha – e o funcionário da prefeitura responsável por essa captura, como não poderia ser diferente, é Santana, o homem que agora se verá tendo que confrontar suas próprias crenças para defender aqueles que ama, simplesmente por estar fazendo o trabalho que lhe competia. Uma composição muito humana, repleta de camadas, e uma das melhores atuações de Babu Santana na tela grande.
+1
Cidade de Deus (2002)
A participação de Babu Santana em Cidade de Deus é pequena, mas pontual. Este foi o primeiro longa dele a chegar aos cinemas – e que impacto, hein? Afinal, foi uma das maiores bilheterias brasileiras naquele ano, além de ter conquistado quatro indicações ao Oscar! Entretanto, não foi a primeira experiência dele com a sétima arte: já havia filmado participações em O Homem do Ano (2003) e Uma Onda no Ar (2002), que chegaram depois às telas. No filme de Fernando Meirelles ele aparece como o Grande, um dos responsáveis pela ‘Boca dos Apês’, ou seja, um dos maiores pontos de tráfico de drogas no complexo da Cidade de Deus. Ele é responsável, também, por introduzir na história o personagem do Cenoura, interpretado por Matheus Nachtergaele – um dos únicos intérpretes mais experientes de todo o elenco. Babu aparece lá pelos 40 minutos da história, e logo seu personagem é eliminado, mas já chega com peso e pose, mostrando que teria muito mais a mostrar nos anos seguintes – como, de fato, acabou acontecendo. Se muita gente já assistiu ao Cidade de Deus e nunca havia se dado conta da presença de Babu Santana no elenco, está mais do que na hora de revisitar esse clássico nacional, além de se perguntar como se seria se ele tivesse tido um destaque maior em cena.
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