Categorias: 5+1Artigos

5+1 :: Beto Brant

Publicado por

Nascido em 23 de maio de 1964 em Jundiaí, interior de São Paulo, Beto Brant logo se firmou como um dos principais realizadores brasileiros neste atual período de retomada do cinema nacional, iniciado em 1995. Graduado em Cinema, começou dirigindo videoclipes e logo curtas-metragens, até estrear no formato longa em 1997. De lá para cá já foram quase uma dezena de trabalhos assinados, reconhecimentos no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (o Oscar da produção nacional) e nos festivais de Brasília, Gramado, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Havana, Lima, Miami e Sundance. Além de tudo, é também roteirista e produtor, tendo viabilizado títulos como o drama Sangue Azul (2014), de Lírio Ferreira. Por essa impressionante jornada, agora, ao completar vinte anos de carreira, o cineasta recebe essa justa homenagem do Papo de Cinema, com uma seleção comentada dos seus melhores filmes, além de indicarmos mais um especial. Confira!

 

Os Matadores (1997)
Nesta sua estreia em longas-metragens, o diretor Beto Brant já despontava como uma das vozes autorais mais inventivas e promissoras de sua geração, apresentando uma obra que se arrisca com extrema competência pelo cinema de gênero – o filme policial – ainda pouco explorado pelas produções nacionais. A narrativa se concentra sobre dois matadores de aluguel, o experiente Alfredão (Wolney de Assis) e o novato Toninho (Murilo Benício), que passam a noite num bar na fronteira entre Brasil e Paraguai à espera de seu próximo alvo. Enquanto aguardam a vítima, os assassinos relembram casos passados, entre eles, a morte de Múcio (Chico Diaz), um dos mais temidos pistoleiros da região. Iniciando aqui sua parceria com o escritor Marçal Aquino, Brant conduz uma trama bem amarrada e repleta de idas e vindas temporais, demonstrando seu domínio cênico e técnico na construção de uma eficiente atmosfera de suspense na qual a preparação importa tanto, ou mais, do que a ação em si. Outro destaque é a condução do ótimo elenco, que conta ainda com Maria Padilha, Adriano Stuart e Stênio Garcia, abrilhantando um longa premiado em diversos festivais, e que figura entre os mais marcantes da Retomada do Cinema Brasileiro na década de 90. – por Leonardo Ribeiro

 

Ação Entre Amigos (1998)
Uma história de vingança que usa a Ditadura Militar Brasileira como pano de fundo, este longa consegue unir um ótimo desenvolvimento de personagens a uma visão crítica e até bastante informativa sobre os horrores das décadas de 1960, 70 e início de 80 no Brasil. Pouco mais de uma década depois do fim do regime militar, Miguel (Zécarlos Machado), ex-guerrilheiro contra a ditadura, identifica em uma foto o policial que o torturou e matou sua esposa grávida nos anos 70. Embora relutantes, os amigos e ex-companheiros de luta do homem o acompanham em busca do torturador para um acerto de contas, numa viagem repleta de conflitos entre o grupo. Com uma câmera inquieta e uma narrativa frenética, que frequentemente recorre a flashbacks para explicar o impacto que o regime, as prisões, mortes e torturas tiveram sobre os personagens, Beto Brant constrói uma obra impactante, trágica e muito envolvente, sem jamais perder de vista seu compromisso com as pessoas reais, as verdadeiras vítimas do período mais sombrio da história recente do nosso país. – por Marina Paulista

 

O Invasor (2001)
Por mais que tenha se mostrado competente nos mais diversos gêneros, Brant parece mais seguro quando trata de tramas de suspense num cenário bem urbano. Neste ótimo thriller, inspirado na obra de Marçal Aquino, o eterno titã Paulo Miklos tem sua melhor atuação até hoje na pele do esperto Anísio, um matador de aluguel que, após ajudar dois amigos a se livrarem do sócio, cobra bem mais que dinheiro por seu trabalho. Encantado com a boa vida dos dois engenheiros, interpretados por Marco Ricca e Alexandre Borges, ele quer fazer parte da nova sociedade oferecendo seus conhecimentos em malandragem como o ponto principal de seu “currículo”. Para combinar com o ritmo acelerado de São Paulo, a trilha sonora conta com muito rock e rap, incluindo uma participação de Sabotage numa cena insólita na qual Anísio pretende administrar sua carreira musical com a ajuda dos novos amigos. O roteiro inteligente e o protagonista carismático, que mesmo sendo um assassino conquista o público desde a primeira aparição, tornam o filme um dos mais importante do período pós-Retomada do cinema brasileiro. – por Bianca Zasso

 

Cão Sem Dono (2007)
Neste filme dirigido por Beto Brant em parceria com Renato Ciasca, cujo roteiro é baseado no romance Até o Dia em que o Cão Morreu, de Daniel Galera, os diálogos e os movimentos são trabalhados ao ponto de parecerem naturais, não encenados. O protagonista é Ciro (Júlio Andrade) jovem adulto meio à deriva, sem porto seguro profissional nem mesmo afetivo. Marcela, a bela mulher que entra em sua vida, se infiltra aos poucos por entre as brechas da resistência, sacudindo seu cotidiano. O longa-metragem é feito das deambulações de Ciro, de sua cada vez mais evidente inquietude existencial. As andanças pelas ruas de Porto Alegre, as conversas aparentemente banais, os interlúdios de felicidade, são acontecimentos que preenchem apenas espaços superficiais. Nada do que ocorre parece realmente significativo, a não ser o amor pela personagem interpretada por Tainá Müller. A trama caminha pautada pelas elipses, pelos buracos propositalmente criados para conferir dinamismo, evitando, assim, que tudo se desenrole de maneira convencional. É uma história de formação tardia, que sinaliza a tendência atual do amadurecimento emocional moroso, efeito colateral da forma como nos relacionamos, entre nós mesmos e com o mundo, nos dias de hoje. Um dos pontos altos da carreira de Brant. – por Marcelo Müller

 

Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios (2011)
Beto Brant volta a se debruçar sobre a obra de Marçal Aquino neste longa estrelado por Camila Pitanga, Zecarlos Machado e Gustavo Machado. Ele já havia transportado para as telonas o ótimo O Invasor e ensaiado uma adaptação livre deste aqui no viajante O Amor Segundo B. Schianberg (2010), utilizando um personagem secundário do romance de Aquino. Aqui, o cineasta, ao lado de Renato Ciasca, retoma o trabalho naquele mesmo livro, contando a história dos protagonistas. Na trama, Cauby é um fotógrafo radicado no Pará que vive um tórrido romance com Lavínia, mulher casada com o pastor Ernani. Não é possível prever o que acontecerá nesse triângulo amoroso, mas é certo que ninguém sairá igual desta situação. Se em trabalhos anteriores Brant experimentava uma desdramatização extrema em suas narrativas, isso é algo que não se repete de forma tão forte neste longa. Aqui a pegada é outra, embora seja possível ver nuances de realismo em alguns trechos, como nas cenas que envolvem Magnólio de Oliveira, que vive a figura circense Chico Chagas. Abusando de tomadas longas e com ótimas performances do elenco, Brant faz um trabalho visceral e vibrante. – por Rodrigo de Oliveira

 

+1

 

Pitanga (2016)
Esta não foi a primeira vez que Beto Brant aceitou dividir os créditos de uma direção. É, no entanto, sua estreia no gênero documental. Mas não é por isso que esse filme parece estranho a sua filmografia. Afinal, Antonio Pitanga, o cinebiografado, nada mais é do que pai da codiretora Camila Pitanga, uma das maiores atrizes brasileiras de sua geração, aqui dando seu primeiro passo como cineasta. Os dois, Brant e Camila, se encontraram no drama Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios, que ele dirigiu e ela protagonizou. Agora, no entanto, os dois juntam forças e aparecem lado a lado em um dos mais abrangentes e emocionantes documentários feitos no Brasil nos últimos tempos. Talvez por ter a filha como principal questionadora, Antonio se abre de corpo e alma relembrando histórias, visitando amigos e dividindo experiências. Nada funcionaria tão bem, no entanto, sem a expertise de um profundo contador de histórias como Beto Brant, que é o verdadeiro guia nesta jornada. Se o grande ator é o foco da nossa atenção e a estrela-transformada-em-diretora se mostra apaixonada pelo que está fazendo, é Brant que eleva o material reunido de uma mera declaração de amor entre pai e filha à condição de arte pura e simples. – por Robledo Milani

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

Últimos artigos de (Ver Tudo)