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5+1 :: Betty Faria

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Uma de nossas atrizes mais talentosas, com uma sólida carreira tanto na televisão quanto no cinema, Betty Faria nasceu no Rio de Janeiro, em 08 de maio de 1941. A artista começou bastante jovem, na década de 1960, atuando nos dois meios que construiriam sua fama. Nos anos de 1970, atuou no chamado Cinema Marginal, até que chamou a atenção do diretor Bruno Barreto, que a convidou para protagonizar A Estrela Sobe (1974). Nos anos seguintes, trabalhou com outros grandes diretores, destacando-se seu ex-marido Daniel Filho (O Casal, 1975), Carlos Diegues (Bye Bye Brasil, 1979; Um Trem para as Estrelas, 1987), Carlos Reichenbach (Anjos do Arrabalde, 1987; Bens Confiscados, 2005), Nelson Pereira dos Santos (Jubiabá, 1987), Guilherme de Almeida Prado (Perfume de Gardênia, 1992) e Laís Bodanzky (Chega de Saudade, 2008). No Festival de Gramado, ganhou o kikito de Melhor Atriz por Anjos do Arrabalde, em 1987, e o troféu Oscarito em 2012; no Festival de Brasília, foi reconhecida com o Candango de Atriz Coadjuvante por Perfume de Gardênia (1992), e em Havana foi escolhida o destaque em interpretação feminina pelo papel em Romance da Empregada (1987). Dona de uma carreira das mais respeitadas no país, Betty Faria é a aniversariante do dia, e por isso a homenageamos com seus cinco melhores filmes e mais um que merece o devido destaque.

 

Bye Bye Brasil (1979)
Neste grande filme de Cacá Diegues, Betty Faria representa, em princípio, a volúpia e o pecado. Ela interpreta Salomé, vedete da Caravana Rolidei, uma trupe de artistas que cruza o Brasil testemunhando realidades empobrecidas que deflagram as mazelas de um povo castigado, nas quais são comuns as orações fervorosas, inclusive as que clamam por chuva no sertão nordestino. Liderados pelo Lorde Cigano (José Wilker), os mambembes visitam lugarejos onde o progresso começa a dar as caras, tendo de competir com a novidade da televisão, artefato que invariavelmente lhes rouba público. A Salomé de Betty Faria é uma mulher de passado sofrido, mas que luta constantemente contra as adversidades para sobreviver. Sua sensualidade captura a atenção do personagem vivido por um então jovem Fábio Jr., rapaz do interior que encontra nas curvas dessa forasteira quiçá o caminho para escapar de uma vida enfadonha e desgraçada. Betty Faria, atriz que construiu carreira sólida na televisão, mas que também possui trajetória respeitável no cinema, talvez não condizente com seu talento, mas ainda assim significativa, confere a Salomé, um de seus grandes trabalhos nas telonas, a altivez dos fortes, atributo alternado com a fragilidade que, vez ou outra, se deixa perceber pelas frestas da aparência. – por Marcelo Müller

 

O Bom Burguês (1983)
Depois do enorme sucesso de Bye Bye Brasil (1979), Betty Faria voltou a contracenar com José Wilker neste longa sobre o combate das guerrilhas ao regime da ditadura militar brasileira. Inspirada em um fato real ocorrido na década de 60, a trama dirigida pelo premiado cineasta Oswaldo Caldeira acompanha o bancário Lucas (Wilker), que cria um esquema para desviar dinheiro do banco onde trabalha, utilizando-o não só em benefício próprio, mas também para financiar organizações de esquerda. Sob o codinome Jonas, o bancário aos poucos se torna um dos principais patrocinadores da luta armada contra o governo opressor, da qual faz parte também sua irmã, Patrícia/Joana (Christiane Torloni), ao mesmo tempo em que acumula uma fortuna e passa lidar com grandes empresários que apoiam os militares. Caldeira conduz muito bem este drama mesclado ao suspense, com grande destaque para um elenco que conta com Betty Faria no papel de Neuza, a esposa de Lucas. Apesar de coadjuvante, a atriz tem um papel fundamental na história, entregando uma bela atuação como uma mulher dividida entre o amor e o temor pela segurança de sua família, e que mesmo não compreendendo as ações do marido, permanece ao seu lado nos momentos cruciais. – por Leonardo Ribeiro

 

Anjos do Arrabalde (1987)
As mulheres são a alma deste filme de Carlos Reichenbach. À margem da capital paulista estão as professoras do subtítulo estampado no cartaz ao lado, que dão aula na periferia da cidade. É neste cenário que encontramos Dália (Betty Faria), Rosa (Clarisse Abujamra), Carmo (Irene Stefania) e Ana (Vanessa Alves). Pode-se dizer que o cineasta é um otimista já que, apesar da violência presente desde o início do filme, é nas delicadas e belas relações que surgem o seu foco. E se Clarisse Abujamra pode roubar a cena toda vez que aparece, é nos dramas de Dália que Faria mostra muito mais do que a mulher sensual a qual todos estão tão acostumados a ver nas telenovelas que participa. Sua sutileza no trato das preferências sexuais de sua personagem e a emoção com que divide a cena com um irmão dependente químico causam uma catarse no espectador. Não à toa ganhou o Kikito de Melhor Atriz no Festival de Gramado na época. Um trabalho louvável que mostra a qualidade e a versatilidade de sua carreira nas telonas. – por Matheus Bonez

 

Romance da Empregada (1987)
Fausta não é mulher de levar desaforo para casa. Empregada doméstica que trabalha dia e noite sem parar para conseguir manter a pequena casa na periferia onde mora com o marido desempregado e sempre bêbado, ela sonha com uma vida melhor. E essa aparece na presença de Seu Zé, um homem bem mais velho, mas que pela primeira vez oferece a ela o tratamento que sempre acreditou merecer, com respeito e admiração. Esse conto de fadas bem à brasileira foi um dos grandes sucessos não apenas do diretor Bruno Barreto – indicado ao Oscar e por anos dono da maior bilheteria do cinema brasileiro – mas também de sua protagonista, Betty Faria, que nos anos 1980 brilhava como estrela absoluta nas telas nacionais. Betty oferece à Fausta uma faceta humana quase insuspeita, combinando com maestria o interesse financeiro como também o reconhecimento por alguém que surge do nada e passa a tratá-la com tanto carinho e devoção. Betty Faria dança e se diverte, briga na rua e enfrenta humilhações, mas sempre de cabeça erguida, dando cara a uma parcela cada vez maior da população. Uma performance arrebatadora, que lhe valeu com justiça o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Havana. – por Robledo Milani

 

Lili, a Estrela do Crime (1989)
Nas décadas de 70 e 80, a assaltante de bancos conhecida como Lili Carabina ganhou grande notoriedade na mídia brasileira. Este longa do diretor Lui Farias, baseado no livro escrito por Aguinaldo Silva, narra a trajetória da famosa criminosa, aqui vivida por Betty Faria que retorna ao papel que já havia interpretado anos antes em um episódio do seriado Plantão de Polícia, da Rede Globo. Após a morte do marido, a dona de casa Elisa/Lili resolve entrar para uma quadrilha liderada por Guerreiro (Mário Gomes) e em pouco tempo assume o controle do grupo. Realizando assaltos cada vez mais elaborados, o bando ganha a atenção da imprensa e passa a ser perseguido pelo Delegado Renato (Reginaldo Faria). Adotando uma narrativa não-linear, Lui Farias abusa da estilização e da estética oitentista, apostando em uma abordagem cômica e cartunesca, muitas vezes beirando o nonsense, para sua trama policial. Uma opção que atinge um resultado irregular, mas que entre seus pontos positivos possui a presença de Betty Faria como protagonista. A atriz abraça sem pudores a proposta de exageros do longa, compondo uma figura de visual marcante, com sua maquiagem carregada e peruca loira, de postura firme e de grande apelo sexual. – por Leonardo Ribeiro

 

+1

Chega de Saudade (2007)
Este filme de Laís Bodanzky é de uma premissa bastante simples, mas essa é sua grande riqueza. Trazendo referências claras ao cinema de Ettore Scola, a trama se passa em um baile de terceira idade, no qual diversos personagens, dos mais variados, se cruzam entre uma música e outra no salão. A gama de tipos é interessantíssima e o roteiro consegue trabalhar bem cada uma das situações que se propõe. Temos o casal que ama a pista de dança, ama a companhia um do outro, mas tem problemas em comunicar isso ao parceiro. Temos a mulher solteira, apaixonada, que sofre com as indiscrições de seu pretendente paquerador ao encontrar uma jovem desiludida. O elenco é o grande chamariz de Chega de Saudade e não decepciona em nenhum momento. Nomes experientes do nosso cinema brilham em atuações impecáveis. É o caso de Tônia Carrero, Leonardo Villar, Cássia Kiss, Stepan Nercessian e Betty Faria, um dos destaques deste elenco veterano. Ela vive Elza, uma mulher solteira, que acaba sofrendo ao perceber que sua beleza do passado desaparece cada vez mais. Sua entrega ao papel impressiona, com a atriz não temendo chegar a extremos para mostrar o impacto daquela realidade em sua personagem.  – por Rodrigo de Oliveira

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