Considerado por muito tempo como o sucessor de Alfred Hitchcock devido a suas tramas de suspense com mulheres sensuais e gélidas, assassinatos devidamente premeditados e reviravoltas de deixar o espectador de queixo caído, Brian De Palma se mantém até hoje como um dos autores mais estáveis em sua filmografia. Mesmo que ele possa pecar em alguns momentos (Dália Negra, 2006, é um bom exemplo), não há como diretor o mérito deste cineasta que deu vida a personagens excepcionais, especialmente os femininos, como Carrie, Liz Blake, Holly Body até as recentes Christine e Isabelle de seu mais novo filme, Paixão (2012).

Um dos eternos “excluídos” do Oscar – nunca foi indicado a nada – e também um dos mais lembrados (injustamente) no Framboesa de Ouro (ele foi cinco vezes nominado como pior diretor), De Palma mantém um séquito de fãs, inclusive aqui no Papo de Cinema. Por isso, para festejar seu aniversário neste dia 11 de setembro, a nossa equipe resolveu lembrar seus cinco melhores filmes – e aquele que merece uma segunda chance.

 

Carrie: A Estranha (Carrie, 1976)
Por Robledo Milani

Brian De Palma tinha mais de 15 anos de carreira, mas ainda não havia entregue seus trabalhos mais consagrados. Stephen King, por outro lado, era um professor em início de carreira. Quando os dois se encontraram, o resultado foi Carrie: A Estranha, filme que abriu seus caminhos rumo à consagração. Este foi o primeiro livro do escritor adaptado para o cinema, e muito do seu sucesso se deve à direção precisa e econômica do cineasta, que sabia exatamente o que buscar na história de uma menina criada por uma mãe fanática e que aos poucos começa a desenvolver poderes de telecinese. Sissy Spacek, como a protagonista, foi indicada ao Oscar, ainda que tivesse no mínimo 10 anos a mais do que a personagem. Ainda assim, seu trabalho é tão intenso e arrebatador que prende a atenção do público por completo, se posicionando como uma parceira à altura de Piper Laurie (indicada ao Oscar como Atriz Coadjuvante), que no papel da matriarca alucinada faz poucas aparições, mas todas muito marcantes. De Palma traz elementos como bullying escolar, religião, dificuldades de aprendizado e violência juvenil, todos envoltos em uma aura de puro terror e medo. Assustador – e, ainda assim, irresistível!

 

Vestida para Matar (Dressed to Kill, 1980)
Por Renato Cabral

Assim como Paixão (2012), Vestida para Matar é um thriller psicológico e erótico com uma trama criminal. Escrito e dirigido por De Palma, a produção se enquadra muito bem nos filmes produzidos do final dos anos 70 até meados dos anos 80 como Parceiros da Noite (1980), Os Olhos de Laura Mars (1978) e outra produção de De Palma, Dublê de Corpo (1984), que retratavam problemáticas comportamentais e um lado obscuro da psique dos americanos. Aqui o diretor explora intencionalmente Alfred Hitchcock ao narrar a história de Kate Miller (Angie Dickinson), que vive um affair com um estranho e é morta no elevador do prédio do amante a navalhadas por uma misteriosa mulher de óculos escuros e sobretudo. Descobrindo uma testemunha, o filho de Kate decide investigar a situação e descobrir quem matou sua mãe. Com uma belíssima construção de tensão e um desfecho final memorável, Vestida Para Matar não é só um dos melhores filmes da filmografia de De Palma como é certamente, uma das melhores realizações do cinema americano nos anos 80.

 

Um Tiro na Noite (Blow Out, 1981)
Por Danilo Fantinel

No início da década que popularizou as mídias e os aparelhos portáteis, Brian De Palma apresenta um thriller conectado com seu tempo, dosando de forma inteligente os melhores traços dos gêneros suspense e policial com recursos metalinguísticos do fazer cinema. Jack Terry (John Travolta) é um técnico de som de filmes B que fazia gravações noturnas em um parque quando testemunhou um acidente de carro. Jack salva uma mulher que estava no veículo com o governador, mas é convencido a omitir o fato para não causar um escândalo político. Ao ouvir sua gravação e comparar o material com imagens capturadas naquele mesmo momento por um repórter que também estava no local, em um perfeito trabalho de edição, percebe que não houve acidente, mas sim um assassinato que ninguém quer investigar. Desenrola-se então uma trama que reúne elementos de conspiração, disputa pelo poder, psicopatia e obsessão. Destaque para Travolta, que já havia trabalhado com De Palma em Carrie: A Estranha (1976), e vinha de sucessos como Os Embalos de Sábado à Noite (1977) e Grease: Nos Tempos da Brilhantina (1978), e para novidades de montagem e edição fílmica, como a tela dividida entre ações concomitantes.

 

Scarface (idem, 1983)
Por Marcelo Müller

Remakes raras vezes resultam em algo válido, ainda mais quando baseados em originais de propriedades atemporais. Brian De Palma, notoriamente cineasta cinéfilo, ousou mexer em Scarface: A vergonha de uma Nação (1932), de Howard Hawks, um dos grandes filmes de gângster da Hollywood pretérita. Com roteiro de Oliver Stone, Scarface se passa em Miami, cidade onde o exilado cubano Tony Montana inicia ascensão rumo ao topo do narcotráfico. De início subalterno, cão-de-guarda de um grande traficante local, ele galga posições movido pela ambição. O envolvimento com a esposa do chefe é outra maneira de tomar seu lugar. Na selva urbana, vigora a lei do mais forte, pode mais quem fica em pé. Al Pacino desempenha um dos grandes papeis de sua carreira neste longa tão violento como importante. Tony Montana é histriônico, excessivo, um trem desgovernado rumo à glória que precede o abismo. Além da palavra “fuck”, dita 182 vezes no filme, abundam tiros e outras espécies de violência, num filme que confere dignidade à expressão “remake”, pois, mesmo sobre a sólida fundação clássica, possui personalidade própria.

 

Os Intocáveis (The Untouchables, 1987)
Por Rodrigo de Oliveira

Assistir novamente a Os Intocáveis mais de 25 anos depois do seu lançamento é reencontrar velhos e saudosos talentos. O filme é de uma época em que Sean Connery não havia se aposentado, em que Kevin Costner não havia desenvolvido megalomania por grandes épicos e que Robert De Niro ainda encarnava papéis desafiadores e com um pé na loucura. Dirigido por Brian De Palma, o longa-metragem contava a caçada realizada pelo grupo de homens da lei comandado por Elliot Ness ao perigoso chefe dos chefes da máfia em Chicago, Al Capone. A direção de arte é um verdadeiro achado, com De Palma nos levando de volta aos anos 30, acompanhado do trabalho primoroso de fotografia de Stephen H. Burum. Elogios cabem também ao belo roteiro de David Mamet, que condensa uma história longa em um redondo script comandado com maestria por De Palma (que ainda encontrou espaço para citar uma das sequências mais reverenciadas do cinema, a cena do berço rolando a escadaria de Odessa de O Encouraçado Potemkin, 1925). Se já não bastasse tudo isso, pelo trabalho, Connery levou seu único Oscar, como ator coadjuvante, pelo papel do policial incorruptível Jimmy Malone.

 

+1

Femme Fatale (idem, 2002)
Por Matheus Bonez

Um dos filmes mais controversos da carreira de Brian De Palma, Femme Fatale foi recebido friamente na época de seu lançamento, mas hoje é um daqueles exemplares que ganhou status de cult. Na verdade, é um dos longas mais divertidos do diretor e em que ele menos se leva a sério, um favor a seus fãs, que pediam há tempos para o cineasta voltar às suas origens e, consequentemente, aos thrillers que evocavam Alfred Hitchcock em seus melhores momentos. Pois a trama de Laura Ash (Rebecca Romjin), uma bela mulher especialista em manipulação masculina que tem como objetivo um roubo de jóias durante o Festival de Cannes, é puro jogo de suspense e sedução, ainda mais quando o paparazzi vivido por Antonio Banderas entra em cena. Não faltam referências a clássicos do gênero, como Pacto de Sangue (1944), de Billy Wilder, evocado de forma intencional já no início do filme, ou ainda Um Corpo Que Cai (1958), de Hitchcock, especialmente em relação ao jogo da mulher e seus duplos. De Palma ainda brinca com seus próprios filmes ao evocar sequências que lembram outras de suas obras, como Vestida para Matar (1980) e Um Tiro na Noite (1981). Uma delícia de assistir.

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