Em seu segundo longa como diretor, Cameron Crowe volta a tratar das dificuldades dos relacionamentos, saltando da fase dos romances adolescentes – vista em sua estreia, Digam o Que Quiserem (1989) – para o estágio seguinte, expondo o cotidiano dos jovens adultos, com seus vinte e poucos anos, que desfrutam da independência recém-conquistada e buscam encontrar o rumo de suas vidas profissionais e amorosas. A trama acompanha um grupo de amigos vivendo no mesmo condomínio, em particular dois potenciais casais: um formado por Steve (Campbell Scott) e Linda (Kyra Sedgwick) e outro por Janet (Bridget Fonda), garçonete e amiga de Steve, que tenta conquistar o roqueiro Cliff (Matt Dillon). Com um senso de humor afiado e um olhar afetuoso sobre seus personagens, Crowe cria uma comédia romântica bastante sincera, que leva o público a se relacionar facilmente com os dilemas e situações propostos – sobre amizade, solidão, insegurança e sonhos em progresso. O grande diferencial, contudo, está na paixão de Crowe pela música, e na intimidade que possui com o assunto, qualidades acentuadas pela ambientação da história: a cidade de Seattle, berço da explosão grunge no início da década de 90. Essa influência fez com que o filme se tornasse um retrato marcante de sua época, não só pela incrível trilha sonora, mas também pelas participações de músicos do movimento, como os membros do Pearl Jam, incluindo o vocalista Eddie Vedder, que formam a banda de Cliff, a Citizen Dick, os integrantes do Alice in Chains e Chris Cornell, do Soundgarden. – por Leonardo Ribeiro