Elegância e discrição parecem ser duas palavras-chave para definir esta australiana que despontou para o mundo há 16 anos ao interpretar a rainha da Inglaterra em Elizabeth (1998). Cate Blanchett não só entregou uma grande performance ao mundo como também fez com que seu nome fosse lembrado desde então como uma das atrizes mais densas, criativas e, é claro, melhores de sua geração. Currículo não lhe falta para justificar tamanha admiração: entre os 73 prêmios ganhos e outros 68 aos quais foi indicada, a bela intérprete já levou pra casa três SAGs, três Globos de Ouro, três BAFTAs e dois Oscars (prêmio ao qual já foi indicada outras quatro vezes em pouco mais de dez anos).
Como poucas, Cate Blanchett é uma das atrizes que se pode chamar de “completa”: apesar do público estar acostumado com seus personagens mais dramáticos, a intérprete já mostrou que sabe fazer rir (como em Vida Bandida, 2001), ser odiada com suas temíveis vilãs (Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, 2008, e Hannah, 2011, por exemplo), ser parceira de Robin Hood no homônimo filme de 2010, ser uma figura quase etérea, mas que nem por isso chama menos atenção, como sua Galadriel da saga O Senhor dos Anéis, ou até outra grande atriz, Katherine Hepburn (em O Aviador, de 2004) que, por uma diferença de dois dias, não é também sua colega de aniversário. Para comemorar o aniversário da atriz no Blanchett completa no dia 14 de maio, a equipe do Papo de Cinema se reuniu para decidir: afinal, quais os cinco melhores – e mais um especial – da carreira desta magnífica intérprete. Com tantas boas opções, a escolha não foi nada fácil. Confira!
Elizabeth (idem, 1998), por Danilo Fantinel
O filme de Shekhar Kapur, sobre a coroação e os primeiros anos de reinado de Elizabeth I, a partir de 1558, reúne uma série de qualidades notáveis que poderiam ser resumidas em um único substantivo: requinte. O longa é uma instigante aula de história em forma de obra de arte repassando um momento político decisivo para a Inglaterra, a partir do qual a rainha, interpretada com excelência por Cate Blanchett, assume um território falido e dividido entre Catolicismo e Protestantismo. A governante fortifica a igreja protestante inglesa em oposição a então supremacia católica de raiz romana. Com rigor, Blanchett dimensiona a evolução da personalidade de Elizabeth de forma gradual, natural e efetiva. Conduz o florescimento de sua personagem da jovem herdeira insegura à mulher mais importante daquele período em função da superação de intrigas e golpes históricos provindos tanto de outros reinos, como o espanhol e o francês, quanto de dentro de sua própria corte. A atriz equilibra elegância, sobriedade, inteligência, severidade, solidão e vingança incondicional à rainha que nunca casou e que, com firmeza, fundou o que seria o poderoso Império Britânico dos séculos seguintes.
O Aviador (The Aviator, 2004), por Conrado Heoli
Num elenco com Leonardo DiCaprio, John C. Reilly, Kate Beckinsale, Alec Baldwin, Jude Law e incontáveis outros astros em grandes papeis históricos, quem se destacou ao nível exigido pelo Oscar foi apenas ela: Cate Blanchett. A australiana, irretocável como Katharine Hepburn, imprimiu todas as facetas de uma das maiores atrizes que Hollywood já viu ao mesmo tempo em que sublinhava seu nome no panteão das musas do cinema contemporâneo. Para a realização de O Aviador (2004), Martin Scorsese também replicou as idiossincrasias de um personagem mítico na história norte-americana, o milionário excêntrico Howard Hughes, notório por sua paixão pelo cinema, aviação e belas mulheres. Depois de alguns filmes considerados menores, o diretor, que uma vez já salvou o cinema norte-americano, desenvolveu sua trama num épico engajado e envolvente, que captura seus espectadores já em sua cena de abertura. Quando Blanchett finalmente aparece, evoca em tela toda a energia particular da altiva Hepburn e até mesmo seus momentos menos gloriosos, como sua insegurança ao redor de uma família de intelectuais. O Aviador é a obra de um grande realizador sobre outro grande realizador, que tem no elenco uma grande atriz interpretando outra grande atriz.
Notas Sobre um Escândalo (Notes on a Scandal, 2006), por Pedro Henrique Gomes
Neste filme dirigido por Richard Eyre, Cate Blanchett contracena com ninguém menos que Judi Dench. E ela vence sem a derrotar, não importa o que aconteça com as personagens que interpretam. Um filme de perigos acentuados, brigas e paixões, precisa de personagens que saibam o que estão dizendo e de intérpretes que saibam como dizer aquilo que precisa ser dito. Em meio a uma trama de tensões dramáticas elevadas, Blanchett se destaca como uma professora que inicia uma relação sexo e desejo com um dos estudantes da escola. No filme, que é também um registro de certa burguesia europeia, Blanchett tem toda uma forma jogando a seu favor: uma beleza poética, coisa do corpo mesmo, do olhar, da expressão que vai do amor mais terno ao mais violento ódio com notável habilidade. Se as personagens pedem uma ruptura com dramas bobos e caricatos, em função da história pisar em terrenos esburacados e inflamáveis, ela (e Judi Dench também) empresta sua voz e suas lágrimas – o que enriquece o filme. Nunca menos que isso.
Não Estou Lá (I’m Not There, 2007), por Rodrigo de Oliveira
Um músico como Bob Dylan não poderia ganhar uma cinebiografia corriqueira, linear, quadrada. Pensando nisso, Todd Haynes praticamente faz uma colagem de situações, um mosaico sobre a carreira do músico, pontuando cada momento com um ator diferente, com uma fotografia diversa e uma narrativa distinta. Dentre esse elenco estelar, com Christian Bale, Heath Ledger e Richard Gere, destaca-se justamente uma mulher: Cate Blanchett. Interpretando Bob Dylan em sua fase mais pop – e impopular ao mesmo tempo, visto que abandonava o estilo folk para mergulhar em uma fase elétrica, com direito a guitarras e uma banda – a atriz dá um show com sua performance, retratando um artista que precisa todo o tempo explicar quais são as suas intenções, detestando a todo o momento ter de fazê-lo. É bem verdade que Blanchett recebe o seguimento mais interessante e com os melhores diálogos – a aparição dos Beatles é simplesmente hilária. Mas nas mãos de outra pessoa, talvez não fosse uma interpretação tão inesquecível. Trabalho este indicado ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.
O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, 2008), por Robledo Milani
Uma das melhores atrizes da atualidade precisaria ter um parceiro à sua altura nas telas. Cate Blanchett já dividiu a cena com Ralph Fiennes, Bruce Willis, Johnny Depp, Leonardo DiCaprio, Russell Crowe… todos grandes astros, mas nenhum que soubesse combinar com tamanha perfeição star quality e potencial criativo como Brad Pitt. E se em Babel (2006) os dois deram o primeiro passo juntos, foi em O Curioso Caso de Benjamim Button, dois anos depois, que essa parceria se consolidou. Um dos fatores decisivos para entendermos e nos identificarmos com o drama desse rapaz, que nasceu idoso e a cada ano rejuvenescia mais, era a paixão que ele nutriu durante toda a vida por essa mulher ideal, personificada como nenhuma outra pela bela e arrebatadora Blanchett. O longa dirigido por David Fincher foi indicado a 13 Oscars – inclusive a Filme e Direção – e ganhou em três categorias. Muitos podem afirmar que aqui o show é de Pitt, mas o que seria dele se não o víssemos através dos olhos dela? É Blanchett que o torna humano, tão próximo, tão real. E somente uma grande atriz em uma atuação generosa poderia oferecer tamanha gentileza. Mais uma demonstração do seu talento superlativo.
+1
Sob o Efeito da Água (Little Fish, 2005) por Renato Cabral
Produzido na Austrália, terra natal de Blanchett, Sob o Efeito da Água é uma das realizações menores da carreira da atriz. Menor no sentido tanto orçamentário como de distribuição (lançado apenas em circuito limitado), mas grandioso quanto às performances. Interpretando Tracy Heart, uma ex-usuária de heroína que tenta escapar de seu passado e busca novas perspectivas para sua vida como, por exemplo, virar sócia da videolocadora em que trabalha. Mas para isso, Heart precisará de um empréstimo que encontrará dificuldade em conseguir devido ao seu complicado histórico. Contando com um roteiro excelente, Sob o Efeito da Água traz uma das melhores e mais desconhecidas atuações da atriz, ao retratar não somente o vício e os ex-viciados, mas também o preconceito que encontram e a dificuldade de inserção na sociedade. Destaque também para as presenças de Hugo Weaving e Sam Neil no elenco.
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