Ele nasceu no México, foi criado no Peru, filho de um paraguaio e, ainda assim, se tornou um dos maiores atores brasileiros. Assim é Francisco Diaz Rocha, mais conhecido, simplesmente, por Chico Diaz. Graças à profissão paterna, que era diplomata, o menino nunca foi de passar muito tempo no mesmo lugar. A preferência pelo Brasil, no entanto, veio do lado materno – dona Maria Cândida, nascida no país, era tradutora. Quando tinha dez anos de idade, a família decidiu fixar residência por aqui. E assim ele pode se afeiçoar pela cultura nacional, o que o levou a explorar um talento que renderia frutos no teatro, na televisão e, principalmente, no cinema. Por suas atuações na tela grande já ganhou dois Candangos no Festival de Brasília, um kikito em Gramado, um Calunga no CinePE, um Redentor no Festival do Rio e até um troféu do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – o nosso “Oscar”. Com seu nome envolvido em mais de noventa produções audiovisuais, essa nossa homenagem na data do seu aniversário é mais do que merecida. Conheça – e desfrute – de Chico Diaz em seus cinco momentos mais marcantes, além de descobri-lo em mais um trabalho especial! Confira!
Corisco e Dadá (1996)
Após anos como coadjuvante – sua estreia foi em O Sonho Não Acabou (1982), de Sergio Rezende – Chico Diaz encontrou sua primeira oportunidade como protagonista neste longa em que formaria, também, um dos seus primeiros pares românticos com a paraense Dira Paes. Os dois interpretam os personagens do título, nesta investigação do cearense Rosemberg Cariry sobre um dos mais notórios casais de cangaceiros do nordeste brasileiro. Corisco, também conhecido como “Diabo Loiro”, ganha em Diaz a sagacidade e a violência de um homem desprovido de moral, disposto a tudo para fazer valer a sua verdade. Após estuprar uma garota de 12 anos, ele a toma como mulher e a leva consigo. Dadá termina por se afeiçoar a ele e, com os tempos, assume um lugar de igual importância no bando de foras da lei que lideram. Os dois estabelecem uma química tão furiosa que se repetiria em diversos outros trabalhos. Curiosamente, o filme acabou sendo selecionado para os dois maiores festivais de cinema do país, que se dividiram entre os dois intérpretes: enquanto ela foi premiada como Melhor Atriz em Brasília, Chico Diaz se saiu melhor em Gramado, levando para casa o kikito de Melhor Ator daquele ano. – por Robledo Milani
Os Matadores (1997)
Esse excelente primeiro longa de Beto Brant foi um importante marco da produção cinematográfica brasileira da segunda metade dos anos 90, revelando o frescor de um cinema jovem adepto do thriller, intenso e vigoroso, que, no limite, desembocaria em Cidade de Deus (2002) e seus filhotes. Nele, Chico Díaz interpreta Múcio, matador de aluguel paraguaio que atua na fronteira desse país com o Brasil. Múcio, na verdade, surge no filme nas lembranças de seu ex-parceiro Alfredão (Wolney de Assis), narradas por esse ao jovem pistoleiro interpretado por Murilo Benício, enquanto esperam por um serviço. Bruto como o meio em que atua, o personagem de Díaz é o mais marcante de toda a história, já que figura misteriosa e ameaçadora, mas ao mesmo tempo capaz de se entregar a paixões extremamente humanas, como ao ter um caso com a femme fatale Helena (Maria Padilha), esposa do patrão. Esse misto de força destruidora e fragilidade torna Múcio um dos grandes papeis de Díaz, dono de uma bela carreira no cinema. – por Wallace Andrioli
Amarelo Manga (2002)
Muitos anos depois de Corisco e Dadá, Chico Diaz e Dira Paes voltariam a formar um par romântico neste longa escrito por Hilton Lacerda e dirigido por Claudio Assis. Neste amplo cenário da zona mais desprovida de Recife desenhado pelos realizadores, talvez o personagem de Diaz seja o mais interessante e moto propulsor de toda a trama que passa a se desencadear. Afinal, é Wellington Kanibal, o açougueiro, que precisa lidar com a esposa crente, com a amante fogosa e, pra completar, com o assédio do travesti que sonha em tê-lo em sua cama. No meio de todo o sangue que jorra do gado que está sempre pendurado ao seu redor, a cor do filme é a do amarelo manga que irá ressoar no grito de vingança da esposa, no despeito daqueles que não conseguem controlar seus desejos, e do homem fraco por natureza. Este encontro em Chico Diaz toda a raiva, o tesão e os instintos mais básicos de um ser dominado pelo meio, que luta mas não consegue se impor diante do que o destino lhe preparou. Uma composição tão rica e detalhada que lhes rendeu o Candango de Melhor Ator em Brasília, além de sua primeira indicação ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. – por Robledo Milani
O Sol do Meio Dia (2009)
“O sol do meio dia tu conhece, é aquele que ilumina tudo e de quem ninguém consegue se esconder”. Este é o ponto de partida da discussão proposta pela diretora Eliane Caffé neste drama composto por três vértices, todos envolvidos no mesmo triângulo amoroso. Um músico (Luiz Carlos Vasconcelos) comete um crime e, após um período na cadeia, decide partir numa jornada de autoconhecimento. Embrenhado pelo interior do país, acaba se envolvendo com uma mulher, mãe solteira. É nesse ponto que Matuim, personagem de Chico Diaz, ganha destaque. Após a morte do pai, ele parte para Belém, no Pará, para reconstruir sua vida trabalhando como barqueiro. Com visual despojado e um jeito mais maroto de levar a vida, acaba apaixonado pela mesma mulher. Quando os dois homens se encontram, caberá a ela decidir com qual ficar, ao mesmo tempo em que a eles resta decidir seus futuros em conjunto – ou não. Se Vasconcelos aposta no comportamento taciturno e repleto de silêncios, é no modo extrovertido e arrojado que Diaz rouba o filme para si. Tanto que, ainda que os dois tenham dividido o Redentor de Melhor Ator no Festival do Rio, apenas Chico Diaz concorreu ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, em sua quarta indicação. – por Robledo Milani
Oração do Amor Selvagem (2015)
O mexicano Chico Diaz é, talvez, um dos atores em atividade que melhor personifica o chamado brasileiro comum. Pode parecer um paradoxo, mas, na verdade, Chico construiu sua carreira, não somente a cinematográfica, mergulhando nas diversas geografias dos nossos personagens cotidianos, do caboclo ao cangaceiro, do trabalhador engravatado ao cultor da terra. Neste filme de outro Chico, o Faganello, ele interpreta um homem enlutado pela recente morte da esposa, que precisa juntar forças para transpor a tristeza a fim de garantir o sustento e o futuro da filha. Chico Diaz consegue, como poucos, partir de um estado extremamente complicado como esse, transitando pelas dificuldades de se adaptar a um entorno obscurantista e preconceituoso, chegando à catarse final, caracterizada pela explosão de uma violência própria daqueles que fazem de tudo para proteger os seus. É uma interpretação, portanto, repleta de nuances, marcada por transições graduais e orgânicas, assim ficando muito longe da caricatura. No embate com o pastor vivido por Ivo Müller, local enciumado por seu envolvimento com a irmã até então cegamente obediente, ele experimenta a opressão, optando, num primeiro momento, pela resignação, mas não aturando os desaforos, liberando, então, a besta que a quietude escondia. Mais um trabalho excepcional de Chico Diaz. – por Marcelo Müller
+1
Em Nome da Lei (2016)
Trinta e quatro anos após O Sonho Não Acabou (1982), seu trabalho de estreia no cinema, Chico Diaz voltou a trabalhar com o diretor Sergio Rezende neste thriller policial fortemente calcado na dura e violenta realidade das fronteiras brasileiras. Mateus Solano e Paolla Oliveira são dois jovens juízes enviados a uma cidade na divisa com o Paraguai. Ainda que contem com o apoio da força policial local, a vida de ambos se torna cada dia mais complicada graças ao chefão do tráfico da região. Habituado a interpretar homens comuns, ligados à força bruta e aos instintos mais primários, Chico Diaz aparece aqui como o elegante e temido Gomez, o homem que é a verdadeira lei naquelas redondezas. Ele mal precisa falar – apenas sua presença, em roupas bem desenhadas, relógios e pulseiras brilhantes e casas e carros suntuosos já garantem a obediência de todos ao seu redor. E se os protagonistas estarão dispostos a fazer o que for preciso para determinar o fim do seu império, é visível ao espectador que eles têm pela frente um oponente à altura do desafio anunciado. Assim, Diaz mostra que, para dominar as atenções, não é preciso muito: basta aparecer no momento certo e com a postura correta. Exatamente como ele aqui ensina. – por Robledo Milani
Últimos artigos de (Ver Tudo)
- Top 10 :: Dia das Mães - 12 de maio de 2024
- Top 10 :: Ano Novo - 30 de dezembro de 2022
- Tendências de Design de E-mail Para 2022 - 25 de março de 2022
Deixe um comentário