Christopher Nolan é praticamente um midas na atual Hollywood. Em um espaço de quase quinze anos, a maioria de seus filmes (dirigidos ou produzidos) foi sucesso de bilheteria. Longas que, muitas vezes, são acompanhados por elogios da crítica. O cineasta já foi indicado a mais de 200 prêmios. Destes, levou para casa 116, entre produções, direções e roteiros. Só ao Oscar já foi lembrado três vezes, mesmo que, ainda, não tenha ganho a estatueta.
Responsável pela retomada da DC Comics no cinema após o incrível sucesso da trilogia O Cavaleiro das Trevas, Nolan é também um dos nomes fortes por trás de O Homem de Aço (2013), em que é um dos roteiristas, e Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), em que assina como produtor. Atualmente, no entanto, está envolvido em dois projetos distintos: a refilmagem de Amnésia (2000), um dos seus primeiros sucessos – que não irá dirigir, no entanto – e as filmagens de Dunkirk, drama ambientado durante a Segunda Guerra Mundial previsto para estrear em 2017. Enquanto o longa não chega às telas e o diretor comemora seu aniversário no dia 30 de julho, a equipe do Papo de Cinema resolveu elencar seus cinco melhores trabalhos e um que é totalmente desconhecido pelo grande público, mas que merece ser visto. Confira!
Por Rodrigo de Oliveira
Ainda que não seja seu primeiro filme, Amnésia foi o trabalho que apresentou ao grande público o talento de Christopher Nolan. O diretor britânico tomou emprestado o conto do seu irmão, Jonathan, e construiu um roteiro inventivo e críptico que brinca com a cabeça do espectador enquanto conta sua história. Na trama, Leonard (Guy Pearce) é um sujeito que não consegue processar novas memórias. Para conseguir viver, tira fotos, faz notas, tatuagens e tudo o mais que pode para segurar ao máximo novas informações. Seu maior objetivo é descobrir quem foi o homem que tirou a vida de sua mulher e o colocou naquele estado. Para tanto, conta com a ajuda de figuras pouco confiáveis como o dúbio Teddy (Joe Pantoliano) e a interesseira Natalie (Carrie-Anne Moss). Poderia ser uma história de vingança qualquer caso não tivesse uma escolha narrativa das mais interessantes: a trama é contada de traz para frente, como se estivéssemos dentro da cabeça de Leonard. Como se não conseguíssemos processar novas memórias também. Costurada a esta linha narrativa, acompanhamos o protagonista conversando com um sujeito ao telefone, nos dando informações preciosas sobre alguns pontos da história. Amnésia é daqueles filmes para serem vistos diversas vezes. A cada nova revisão, melhor e mais completa fica a experiência.
Por Marcelo Müller
Insônia é um filme de quando Christopher Nolan ainda não tinha adquirido o status pós-Batman, ou seja, antes de ter despontado para muitos como a salvação da lavoura do blockbuster norte-americano. Na trama, dois policiais vão até o inóspito Alasca para ajudar na resolução de um caso de assassinato, ou seria para dar uma esfriada no escândalo envolvendo eles, que está prestes a explodir? A investigação é quase uma desculpa, apenas conduto da trama superficial, porque o que está realmente em jogo é a moralidade dos personagens, suas escolhas dúbias e comportamentos enviesados, seja em busca da justiça que acreditam estar fazendo ou apenas para autopreservação. O final deixa um pouco a desejar, mas no geral, Insônia é algo bastante instigante de se ver, pois denota a ourivesaria de Nolan para a criação de atmosferas de suspense sem truques baratos.
Por Robledo Milani
Como um filme estrelado por Christian Bale, Hugh Jackman, Scarlett Johansson, Michael Caine e David Bowie (!) pode ser considerado uma obra ‘menor’? Somente num caso como esse, em que nos referimos à filmografia de Christopher Nolan, diretor dos milionários e excelentes Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) e A Origem (2010), entre outros igualmente exaltados. Pois este longa sobre dois ilusionistas rivais pode não ter obtido a mesma recepção do público ou da crítica – e somente por isso tenha tido seu status subestimado – mas após um olhar mais detalhado é possível avaliar sua posição de igual dentre os demais títulos realizados pelo diretor. Jackman dá mais um passo na tentativa de ser reconhecido como um ator sério, enquanto que Bale segue em sua investigação aos limites da arte da atuação combinada ao melhor do entretenimento inteligente. Realizado quase que às pressas entre um Batman e outro, alcançou o feito de arrecadar mais de US$ 100 milhões nas bilheterias mundiais e conseguir duas merecidas indicações ao Oscar. Além disso, apresenta uma bela reconstrução de época e uma condução delicada e competente de um cineasta preocupado mais com a história do que com todos os elementos que poderiam distrair, mas que aqui funcionam em conjunto visando um resultado maior do que a soma de suas partes. E com efeito!
Por Thomás Boeira
Quando Christopher Nolan assumiu a tarefa de ressuscitar o Homem-Morcego no cinema depois que este caiu no ridículo com Batman & Robin (1994), poucos imaginavam que seu trabalho renderia um filme tão bom como Batman Begins (2005) e, muito menos, que sua continuação seria ainda melhor. Batman: O Cavaleiro das Trevas mostra o personagem-título (Christian Bale) se unindo ao promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart) e ao tenente Gordon (Gary Oldman) para enfrentar o Coringa (Heath Ledger), que traz um verdadeiro caos para Gotham City. A partir disso, Nolan cria um filme de super-herói com tom mais adulto e com um universo que busca se ancorar na realidade, além de desenvolver embates emocionalmente desgastantes entre seus personagens em uma trama envolvente do início ao fim, repleta de momentos memoráveis. Como se não bastasse, o diretor ainda contou com um elenco de peso no qual Heath Ledger foi o destaque absoluto, tendo a melhor atuação de sua carreira ao encarnar a psicopatia do Coringa com um brilhantismo que, infelizmente, fomos privados de ver mais vezes graças à sua morte precoce. Nolan voltaria a este universo em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), que finalizou de maneira grandiosa uma trilogia marcante.
Por Yuri Correa
Polêmico trabalho do nosso homenageado, dividiu opiniões quando estreou em 2010. Tudo porque terminava antes de mostrar se o maldito peão continuava ou não a girar. É claro que o longa-metragem na verdade é – apesar de complexo – compreensível e amarra todas as suas pontas. O final em aberto é a única questão que fica no ar e, claro, Nolan assim o faz de propósito, engenhosamente nos colocando no lugar do protagonista interpretado por Leonardo DiCaprio, que também jamais saberia se continuou sonhando ou acordou de verdade. É uma incerteza que não interfere com a trama principal do projeto – que se fecha satisfatoriamente minutos antes deste evento – sobre um grupo de ladrões um tanto quanto diferentes; eles adentram os sonhos de pessoas para lhes descobrir os segredos e então vendê-los a quem possa interessar. Nolan brinca aqui com os arquétipos do film noir enquanto joga o espectador em uma crescente de realidades dentro de realidades que só se tornam inteligíveis graças ao trabalho estupendo da montagem, que une cenas constituídas por uma belíssima fotografia e efeitos especiais admiráveis. Além de serem embaladas pelo sempre ótimo Hans Zimmer. Uma obra prima irretocável, clássica desde já.
+1
Por Matheus Bonez
O primeiro filme de Christopher Nolan nunca foi lançado no Brasil, o que é uma pena. Já em sua estreia nas telonas como diretor e roteirista, o cineasta mostrava uma trama intrincada de um aspirante a escritor que passa os dias seguindo desconhecidos em busca de inspiração. Numa dessas, acompanha um ladrão de casas em sua rotina de arrombamentos. A trama, aparentemente simples, vai se tornando intrincada já que é contada de forma não-linear em três tempos – aspecto que se tornaria uma das marcas registradas de Nolan já em seu próximo filme, Amnésia (2000) -, cabendo ao espectador jogar as peças do quebra-cabeça e tentar resolver seu final. Apesar de desconhecido para a maior parte do público, Following é intenso e amador ao mesmo tempo, mas, acima de tudo, um exercício de linguagem de um cineasta já preocupado com a forma e o conteúdo de seus filmes, algo que mesmo os detratores de Nolan hão de reconhecer.