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5+1 :: David Cronenberg

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Ele já foi apelidado de Rei do Horror ou de Barão do Sangue, mas David Paul Cronenberg é muito mais do que isso. Sua obra, que está na marca dos 40 títulos entre longas, curtas e produções para a televisão, o coloca atualmente como um dos mais importantes realizadores do cinema canadense. Nascido no dia 15 de março de 1943, está completando hoje 70 anos dedicados a um cinema de qualidade e altamente cerebral. Sua estreia na tela grande foi em 1969, com o pequeno e pouco visto Stereo (Fast Company), que já trazia temas correntes em sua carreira, como sexo, psicologia e uma paixão fetichista por carros. Mas foi somente mais de uma década depois, no início dos anos 1980, que surgiram seus títulos mais populares. Cronenberg já foi premiado nos festivais de Cannes (Crash: Estranhos Prazeres, 1996) e Berlim (eXistenZ, 1999), além de em eventos fantásticos, como o Fantasporto (Scanners, 1981) e o Avoriaz (Na Hora da Zona Morta, 1983, A Mosca, 1986, e Gêmeos: Mórbida Semelhança, 1988). Ganhou também nove vezes o Genie – o Oscar canadense – por filmes como Mistérios e Paixões (1991) e Spider: Desafie sua Mente (2002), além de ter sido premiado no National Board of Review, nos EUA, com o honorário Billy Wilder Award! Mesmo com um histórico desses, nunca foi lembrado no Oscar. Mas trabalhos marcantes de sua autoria não faltam, e aqui prestamos nossa homenagem apontando seus cinco melhores filmes – além de um especial, é claro, que merece ser descoberto. Confira!

 

Videodrome: A Síndrome do Vídeo (Videodrome, 1983), por Dimas Tadeu
Talvez um dos filmes mais emblemáticos de Cronenberg, Videodrome pode se gabar de ser uma das mais perfeitas sínteses do estilo do diretor. Reúne num mesmo filme a sexualidade e a tecnologia, juntas responsáveis por desencadear um terceiro elemento: o terror. Numa época em que fitas de vídeo domésticas eram “tecnologia de ponta” e muito antes que Samara assombrasse adolescentes, Videodrome tocou horror num público fazendo da imagem, sua matéria prima, a principal ameaça. A criação do Dr. O’Blivion e seu memorável gabinete coroam o clímax de uma história que se tornaria um clássico cult, e faria com que o papel da mídia, da vigilância e das câmeras, fossem pensados de uma nova maneira.

 

A Mosca (The Fly, 1986), por Renato Cabral
Considerada a maior bilheteria e filme mais acessível de David Cronenberg, este é um dos marcos do cinema americano dos anos 1980. A produção que transita entre o trash e o horror é um remake do filme de 1958 de mesmo nome. Nessa nova versão, Cronenberg reescreveu o roteiro, mudou nome dos personagens e escalou Jeff Goldblum e Geena Davis, ambos em ótimas performances, para estrelarem. Na história, o cientista Seth Brundle (Goldblum) descobre uma maneira de tele-transportar objetos de uma maquina para outra. Acontece que ele almeja fazer o mesmo com seres humanos. Em uma tentativa, o próprio serve de cobaia para seu experimento e é tele-transportado, mas, sem saber que uma mosca se encontrava na mesma máquina que ele, ocorre uma fusão de ambos. A história é contada rapidamente e sem delongas, sendo o diretor muito econômico e direto em seu trabalho, focando na transformação do protagonista. Geena Davis interpreta o interesse romântico do cientista, a jornalista Veronica Quaife. Tamanho sucesso gerou uma sequência sem o envolvimento do cineasta canadense, A Mosca II (1989), que foi um grande fracasso. Em 2012, no entanto, Cronenberg reforçou o anúncio dado no ano anterior, quando comentou que estava trabalhando em um roteiro de um tipo de sequência do original de 1986, mas sem nenhum dos personagens originais.

 

Crash: Estranhos Prazeres (Crash, 1996), por Matheus Bonez
Inspirado no romance homônimo de J. G. Ballard lançado em 1973, Crash: Estranhos Prazeres pode ser descrito como um dos filmes em que as ideias de Cronenberg são levadas ao extremo. A trama sobre homens e mulheres que tem fetiches sexuais com acidentes de carros com certeza causa estranheza à primeira vista. O mundo torceu o nariz para uma trama, a princípio, tão bizarra. Basicamente, apenas Cannes (onde recebeu o Prêmio Especial do Júri) e os franceses entenderam. Porém, quem consegue deixar os preconceitos de lado, com certeza vai descobrir que este é uma das obras primas da carreira do cineasta. Misturando e elevando sexo, violência e uma complexidade psicológica a mais alta potência, Cronenberg apresenta o ser humano na sua forma mais primitiva e, não por isso, menos inteligente, na descoberta de novos prazeres, mesmo que estranhos, como o próprio subtítulo brasileiro sugere. Através desta obsessão de seus intensos personagens, o diretor retrata também aquilo que a sociedade tenta omitir ao máximo: os obscuros desejos de cada pessoa, por mais que a moralidade tente negá-los. O crash, a quebra, o rompimento do título, não poderia ser mais ambíguo, já que não só trata do físico e do material (no caso, os acidentes), como também desta ruptura dos pensamentos mais retrógrados.

 

eXistenZ (eXistenZ, 1999), por Conrado Heoli
Poucas semanas após o lançamento de Matrix (1999) David Cronenberg apresentou no Canadá, pela primeira vez, eXistenZ. A ficção irônica e bizarra pode não ter atingido o alcance massivo do filme dos irmãos Andy e Lana Wachowski, mas recebeu resenhas igualmente positivas e entusiasmadas, assim como o status instantâneo de cult. Depois do controverso Crash: Estranhos Prazeres (1996), Cronenberg voltou a mostrar pornografia simulada numa obra que seria pretensiosa sem seus cuidados ao retratar o estranho, curioso e até mesmo grotesco. Em eXistenZ, Jennifer Jaison Leigh interpreta Allegra Geller, designer de games que revoluciona as experiências virtuais a partir de um console com aspecto orgânico que leva seus jogadores para um universo paralelo. Com a ajuda de Ted Pikul, personagem de Jude Law, ela se insere no enredo ficcional do jogo para fugir de um assassino. Vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim como melhor diretor, Cronenberg apresenta uma perspectiva psicológica para a relação entre humanos e as tecnologias que os distanciam da realidade. Bem humorado e por vezes absurdo, eXistenZ propõe tantas resoluções para os questionamentos que levanta quanto para sua narrativa, e esbanja a criatividade de um realizador que parece não ter limites para compor suas histórias.

 

Marcas da Violência (A History of Violence, 2005), por Rodrigo de Oliveira
Este longa marca o início de uma nova fase para David Cronenberg. Geralmente associado a produções com violência estilizada e com charme trash, o cineasta canadense surpreendeu os espectadores com um suspense mais intimista, baseado na ótima graphic novel de John Wagner e Vince Locke. Além disso, foi o começo da duradoura parceria entre o diretor e o ator Viggo Mortensen (indicado ao Oscar por sua atuação no trabalho seguinte, o excelente Senhores do Crime, de 2007, e que ainda faria Sigmund Freud em Um Método Perigoso, em 2011). Na trama, um pai de família é aparentemente confundido por um sujeito misterioso e começa a ver toda a sua rotina ruir a partir das verdades que aquele primeiro encontro desenrola. Atuações competentes e uma direção mais contida de Cronenberg transformam este em um dos melhores títulos da filmografia do cineasta. Foi indicado a dois Oscar (Ator Coadjuvante, para William Hurt, e Roteiro Adaptado), mas acabou saindo da festa de mãos abanando. Uma pena.

 

+1

 

Cosmópolis (Cosmopolis, 2012), por Pedro Henrique Gomes
Cosmópolis é sanguinário. Não há filme de Cronenberg mais assustador e violento que este. Se a crise do capitalismo europeu é filmada por dentro (literalmente: um sistema todo captado dentro de uma limusine que desfila em meio ao caos que ele ajudou a criar), as vestes de nossas mentiras são expostas sem medo do olhar consternado da juventude apática. Estamos falando de um filme repleto de dificuldades de se encaixar, basta ver como ele foi “praticamente ignorado” mesmo pelo público cronenberguiano, que talvez tenha reconhecido no filme um outro cineasta. Mas não há nada de novo ontológica ou esteticamente, afinal Cronenberg não é como os cineastas que se escondem atrás do mito da reinvenção (Woody Allen e Scorsese dos últimos anos estão um pouco assim, jogando no nome), como se toda obra fosse uma evolução da anterior. Seu horror reside plenamente naqueles primeiros planos do rosto confuso e amedrontado do personagem de Robert Pattinson. Medo do que será de seu império, o que dele restará. É difícil conceber a quantidade de sangue que poderia ser mais rígido do que a exposição do “espírito do sistema” da forma como é mostrado em Cosmópolis. Violento, como (quase) todo bom cinema.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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