Não é de hoje que o rosto de Diane Keaton já faz os espectadores saberem o que esperar. A atriz, por mais versátil que seja, acabou se tornando a própria personagem de sua vida, muito graças ao perfil traçado em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), seu primeiro grande sucesso. Mas é claro que a composição de mulher moderna e independente que só utiliza calças e vive uma leve neurose contínua não é seu único papel dentro e fora das telas. Uma das atrizes mais ativas no que se refere aos direitos femininos (na profissão e fora dela), em 45 anos de carreira já acumulou 26 prêmios e 47 indicações mundo afora. Para comemorar seu aniversário no dia 5 de janeiro, a equipe do Papo de Cinema selecionou cinco dos seus melhores filmes e mais um que merece uma revisão especial. Confira!
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977)
– por Leonardo Ribeiro
A quarta colaboração entre Diane Keaton e Woody Allen – na época, um casal fora das telas – não só gerou um dos filmes mais icônicos da carreira do cineasta, como também rendeu um Oscar à atriz. A história acompanha as fases da relação entre o humorista judeu Alvy Singer, alter ego de Allen interpretado pelo próprio, e a aspirante a cantora Annie Hall (Keaton). Entre o despertar da paixão, os momentos de intimidade, os conflitos e o eventual término do romance, Allen também apresenta o passado dos personagens, como os casamentos fracassados de Alvy e casos antigos de Annie, para tratar sobre os relacionamentos de uma maneira universal, mas utilizando seu humor genial e particular. Para ser um contraponto ao seu tipo neurótico e sarcástico, Allen criou o papel de Annie especialmente para sua musa, Keaton, começando pela referência ao nome real da atriz: Diane Hall. A escolha não poderia ser mais acertada, pois a atuação naturalista de Keaton, com sua maneira delicadamente desajeitada e excelente timing cômico, além de lhe render reconhecimento artístico também a transformou no símbolo da mulher moderna dos anos 70, influenciando uma geração desde a forma de pensar até a maneira de se vestir.
Manhattan (1979)
– por Marcelo Müller
Os fãs de Woody Allen geralmente têm Diane Keaton em alta conta, não raro a alçando ao posto de melhor parceira de cena do nova-iorquino. Embora a carreira dela não se restrinja a essas colaborações com Allen, de fato são nelas que vemos aflorar realmente o talento da atriz, sobretudo o cômico, muitas vezes subaproveitado em outras produções. Neste filme, Keaton interpreta a intelectual por quem o personagem de Allen é apaixonado. Logo ela se vê num triângulo amoroso, já que a jovem vivida por Mariel Hemingway embaralha os sentimentos do protagonista, causando nele uma grande dúvida amorosa. Diane Keaton simbolizava a mulher independente, que corria atrás dos próprios objetivos, que se vestia como bem entendia, que impunha suas opiniões e desejos, sem dar muita importância às convenções, às expectativas, ajudando, assim, a consolidar no fim dos anos 1970 uma imagem feminina muito distante da dona de casa subserviente ao marido e exclusivamente devotada ao lar. As atitudes de Diane Keaton longe das câmeras eram bastante próximas das tomadas por suas personagens allenianas, algo que pode ser atribuído tanto à liberdade que o cineasta sempre lhe deu para criar quanto à própria gênese dessas figuras, semelhantes a ela na raiz.
Reds (1981)
– por Matheus Bonez
Escrito, dirigido e protagonizado por Warren Beatty, o longa tem como inspiração o romance Os Dez Dias que Abalaram o Mundo. Em 1917, o jornalista John Reed (autor do livro original e personagem de Beatty) é um militante socialista norte-americano que viajou à Rússia ao lado da esposa, Louise Bryant (Diane Keaton),para cobrir a revolução dos bolcheviques. Além de traçar um panorama de uma das mais importantes revoluções comunistas da história, o longa se foca em como o casal entra em conflito por conta da natureza de suas militâncias. A nossa homenageada mostra aqui, talvez pela primeira vez e de forma mais intensa, nuances dramáticas que fogem de sua persona bem humorada e divertida, tão difundida por conta de seus papeis que se tornaram um mix de pessoa e personagem. É claro, Keaton escolhe mais uma protagonista com força o suficiente para estar de igual importância ao lado do personagem principal masculino, abocanhando uma segunda indicação ao Oscar e reforçando seu discurso feminista que também é parte integrante de sua trajetória de sucesso. Um papel que sempre será lembrado pela força em tela.
As Filhas de Marvin (Marvin’s Room, 1996)
– por Robledo Milani
Meryl Streep talvez não fosse a rainha de Hollywood como é hoje, mas já tinha no seu armário dois Oscars e havia recém saído de mais uma indicação, por As Pontes de Madison (1995). Leonardo DiCaprio ainda não tinha cruzado com o Titanic (1997), mas já era o herói romântico de Romeu + Julieta (1996). Então, quem prestaria atenção na outra ponta do trio de protagonistas deste drama familiar que também contava com Robert De Niro como coadjuvante? Talvez ninguém tivesse dado o devido respeito a esta outra personagem, tivesse sido ela vivida por alguém menos talentoso que Diane Keaton, que fez da tia Bessie um dos tipos mais contidos e reprimidos de toda a sua filmografia. Uma composição discreta, constantemente eclipsada pela irmã de espírito inquieto ou pelo sobrinho rebelde, mas dotada de um espírito familiar tão forte e de uma humanidade tão grande que não poderia, mesmo, ser ignorada. Tanto que lhe valeu a única indicação ao Oscar do filme, além de ter concorrido também aos prêmios do Sindicato dos Atores e ao dos Críticos de Cinema dos EUA. Um reconhecimento a altura de um trabalho sutil, porém nunca menos do que poderoso.
Alguém Tem Que Ceder (Something’s Gotta Give, 2003)
– por Rodrigo de Oliveira
Diane Keaton passou um período complicado na carreira depois da sua indicação ao Oscar, em 1997, por As Filhas de Marvin (1996). Ela simplesmente não conseguia acertar em suas escolhas, fazendo um filme mais fraco do que o outro em sequência. Até que a sorte virou em 2003, com o convite para protagonizar ao lado de Jack Nicholson o delicioso Alguém tem que Ceder. Longe de personagens fracos e roteiros mequetrefes, Keaton vive Erica, uma mulher inteligente e madura, que acaba conhecendo o namorado da filha, o mulherengo Harry. O detalhe é que ele tem idade para ser avô da garota e o encontro entre os dois acenderá uma paixão até então insuspeita. Tanto Nicholson quanto Keaton estão muito à vontade em seus papéis, entregando ao espectador um romance pretensamente voltado a um público mais velho, mas que atinge qualquer idade com seu texto engraçado e situações inusitadas. Por este papel, Keaton voltou a ser indicada ao Oscar e recebeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia ou Musical na premiação da Imprensa Estrangeira.
+1
O Clube das Desquitadas (The First Wives Club, 1996)
– por Renato Cabral
Insegura e vivendo à sombra do marido, Annie, interpretada por Diane Keaton, contribui para o sucesso do companheiro desde o início da relação. Em crise, o casal procura uma terapeuta para dar um jeito na estagnação em que chegaram. Mesmo assim ele pede a separação… e para ficar com a terapeuta! Como uma magia do destino, ela e mais duas amigas de longa data, interpretadas por Bette Midler e Goldie Hawn, se reencontram após coincidentemente também serem largadas pelos maridos por mulheres mais jovens. Unidas, elas decidem armar uma vingança para os ex-maridos e mostrarem do que são capazes. A personagem de Keaton que o diga. A mais ingênua e esperançosa das três é a que possui problemas de externar os sentimentos de modo verdadeiro, por muitas vezes parecendo até frígida. Keaton arrebata a todos com sua performance cômica sem deixar a personagem cair no clichê. O roteiro, que fornece uma belíssimo arco para Annie, é um dos pontos fortes com bons diálogos. A produção merece o resgate por conter essa deliciosa performance de Keaton e ainda leves toques dignos de George Cukor. Um filme cultuado dentro da comunidade gay por mostrar mulheres fortes e decididas, a produção ainda traz a atriz em um número musical antes dos créditos finais.
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