No dia 23 de março de 2011 nos deixou uma das maiores estrelas já vistas na constelação hollywoodiana: Elizabeth Rosemond Taylor. Durante seus quase 80 anos de vida, teve muitas glórias e conquistas de uma carreira que começou quando tinha apenas 10 anos de idade, no filme There’s One Born Every Minute (1942), de Harold Young, em que aparecia como a filha do casal de protagonistas. Mas o sucesso a visitou logo no longa seguinte – Lassie: A Força do Coração (1943) – em que marcou presença em maior destaque como a dona da famosa cadela que conquistou o coração de milhares de fãs por todo o mundo. Taylor ficou famosa pelos 2 Oscars conquistados – Disque Butterfield 8 (1960) e Quem tem medo de Virginia Woolf? (1966) – pelos diversos maridos (se casou oito vezes, tendo sido duas delas com o também ator Richard Burton), pela intensa amizade que manteve com astros gays como James Dean e Montgomery Clift, por ter sido a protagonista da faraônica versão de Cleópatra (1963) e por outros tantos feitos que fica até difícil enumerá-los. No entanto, para não deixar passar essa importante data em branco, a Equipe Papo de Cinema se reuniu para apontar os cinco melhores trabalhos da diva de cabelos negros e profundos olhos azuis – além de lembrar, também, de uma obra não tão conhecida, mas que merece ser descoberta. Confira!
Um rapaz pobre que quer se dar bem na vida. A ambição, que até certo ponto poderia ser natural – e até saudável – ultrapassa os limites do bom senso, partindo para a violência e o crime. A paixão que cega, o desejo que consome, a desigualdade que humilha. Está tudo presente nesta obra dirigida por George Stevens a partir do romance de Theodore Dreiser. Premiado com 6 Oscars – entre eles os de Direção, Roteiro e o deslumbrante figurino de Edith Head – foi indicado ainda a Melhor Filme, Ator (um dos melhores amigos de Taylor, Montgomery Clift) e Atriz Coadjuvante (Shelley Winters). Elizabeth Taylor, no entanto, foi injustamente deixada de fora da lista de premiações, que incluiu ainda o Globo de Ouro de Melhor Filme em Drama. Sua presença, como a responsável tanto da sorte como da desgraça que surgem no destino do protagonista, é tão magnetizante e precisa que nem foi necessário muito esforço da diva para que todos na plateia entendessem os motivos do rapaz. Tanto que, após sair da sessão de estreia deste filme, o grande Charles Chaplin teria exclamado: “é o melhor filme americano jamais feito, pois registra com maestria a supremacia do cinema sobre todas as outras formas de arte”. Há mais de sessenta anos que qualquer um na mesma situação tende a concordar com o eterno Carlitos!
A vida do rancheiro interpretado por Rock Hudson logo se transforma quando ele conhece a personagem vivida por Elizabeth Taylor. Não é para menos. Na tela, materializada sua carne, exposta ao olhar fulminante da câmera (e do espectador), Liz Taylor fica maior. E não é preciso nenhum close para tanto. Assim Caminha a Humanidade, filme que ainda tem James Dean no elenco, é muito fortalecido com sua presença, com toda a beleza imaculada que ela emana e aquela expressividade que conhecemos de outros tempos. O filme de George Stevens não é protagonizado por ela ao acaso. Há toda uma necessidade daquele corpo, daquele olhar, daquela voz, do jeito de postar o rosto e de se mexer na rígida marcação das cenas internas tão caras ao diretor. Em curva ascendente, quando ela surge no quadro, o filme potencializa suas possibilidades de discurso e de narração. Há muito o que fazer quando temos, ali tão perto de nós, Elizabeth Taylor para nos guiar a percepção. A boa notícia é que ela estará sempre ali. O filme não morre.
Tennessee Williams não escondeu sua insatisfação com a adaptação cinematográfica de sua peça, Gata em Teto de Zinco Quente, lançada em 1958. Parte da trama relacionada ao envolvimento romântico entre Brick, o herói esportivo vivido por Paul Newman, e seu amigo recém-falecido Skipp foram deixadas debaixo dos panos pelo roteiro de Richard Brooks e James Poe. Culpa da censura da época, que não permitiria uma subtrama homossexual dentro da história – que permanece, para os mais atentos, de forma atenuada, apenas insinuada pela atuação perfeita de Paul Newman. Muito mais do que isso, este é um filme que mostra a deterioração do relacionamento de um casal – Brick e Maggie, The Cat (Elizabeth Taylor) – junto do desmoronamento da família do atleta, cujo pai, Big Daddy (Burl Ives), está com uma doença terminal. Briga entre herdeiros, mentiras, falsidade e inveja, tudo misturado em um filme coeso, duro e cheio de diálogos inspirados. Elizabeth Taylor receberia sua segunda indicação ao Oscar pela atuação, conseguindo misturar uma doçura cativante junto à força de vontade de uma mulher ambiciosa e sem medo de buscar o que quer. A dobradinha entre Taylor e Newman é inesquecível, em um filme simplesmente imperdível. Indicado a seis Oscar, incluindo Melhor Filme, acabou saindo de mãos abanando da festa, muito provavelmente pelos temas fortes abordados pela história, avançados demais para a época.
Quase intragável. Pode não parecer, mas o uso desta expressão se aplica de forma extremamente positiva ao primeiro filme dirigido por Mike Nichols, que traz gigantes do cinema como Richard Burton e a nossa homenageada Liz Taylor nos papéis principais. Confinar quatro personagens em um cenário que beira o claustrofóbico é apenas uma das sacadas geniais do roteiro de Edward Albee, que adaptou a própria peça teatral para o cinema. Dizer que a história centra-se apenas na desconstrução de um casamento, de uma relação amorosa, seria simples demais. As ideias pulsam a cada diálogo, a cada ironia, a cada sarcasmo apontado pelas palavras proferidas especialmente pelos personagens de Burton e Taylor, que sufocam o casal de jovens vivido por George Segal e Sandy Dennis, ambos convidados a visitarem a casa dos protagonistas após uma noite de bebedeira. Sexualidade, feminismo, machismo, ascensão e queda sociais. Apenas alguns dos temas tratados com tamanha profundidade em um microcosmo, a principio, tão limitado. Assuntos que inspirariam, quase 50 anos depois, o mesmo diretor ao tratar de forma tão pungente quanto no excelente Closer: Perto Demais (2004). Assim como sugere o título, Liz Taylor é quase uma personificação violenta da escritora que era libertária e libertadora ao mesmo tempo em suas palavras. Envelhecida, com uns bons quilos a mais, acabou levando seu segundo Oscar, inspirando e predestinando toda atriz que ousasse mudar seu físico a também levar uma estatueta para casa (assim como Nicole Kidman, pasmem, no papel da própria Virginia Woolf, em As Horas, 2003). Sem dúvida alguma, um de seus melhores trabalhos, senão o número um. Visceral.
Elizabeth Taylor já possuía dois Oscars em sua estante quando aceitou o convite para estrelar essa ousada produção, em que contracenaria com Montgomery Clift, seu grande amigo. Após a morte de Monty, ele foi substituído por Marlon Brando, com quem a atriz desenvolveu uma tensa sintonia, perfeita para a ambientação do filme. Dirigido por John Huston e baseado na obra de Carson McCullers, que tem como tema principal a repressão da homossexualidade e as obsessões de excêntricos personagens, o filme dividiu os espectadores na época de seu lançamento, principalmente por conta da temática e pela saturada fotografia em dourado do italiano Aldo Tonti. Ainda que não figure entre os melhores trabalhos de Huston, o cineasta tem méritos pelo registro do impressionante desempenho de seu elenco. Taylor interpreta Leonora, uma mulher multifacetada, carregada de complexas frustrações e destituída da capacidade de manter relações positivas com qualquer um, em especial com seu marido, o militar reprimido Weldon Penderton. As tomadas em planos abertos, algumas delas capturadas na Itália, são de uma beleza ímpar, que só parecem menores quando eclipsadas pela enigmática presença de Liz.
+1
Sobre O Papai da Noiva, esqueça a bobagem relativamente contemporânea estrelada por Steve Martin (em 1991) e se concentre no original de Vincente Minnelli. Nele, o pai vivido por Spencer Tracy recebe a notícia do iminente casamento da filha e, a partir daí, terá de lidar não somente com o ciúme por “perdê-la” para outro, mas também com a organização de uma cerimônia que precisa atender expectativas sem comprometer sua vida financeira. Assim, as preocupações do pai, ainda acostumando-se ao fato de ver-se sem a jovem em casa, misturam-se a questões de ordem prática, relacionadas ao dia do enlace. Minelli, mais conhecido pela expertise nos musicais, trabalha em O Papai da Noiva com registro cômico bastante inteligente, sem valer-se de chacotas vazias ou grosserias. É um tipo de humor refinado ao qual não estamos habituados, por exemplo, na frequência às salas de cinema hoje em dia. O filme é de 1950 e nele vemos a beleza jovial de Elizabeth Taylor, então símbolo do star system, servir de escada ao grande Spencer Tracy, não por acaso indicado ao Oscar. Repito: esqueça o remake e corra atrás desta pequena joia.