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Originalmente um artista do mundo das histórias em quadrinhos, o desenhista Frank Miller há muito deixou de ser apenas um desenhista ou escritor. A paixão e interesse pelo cinema começou lá no início dos anos 1990, ainda de forma tímida, combinando sua visão avançada com uma criatividade ímpar. De roteirista, aos poucos foi se aprofundando no ofício, a ponto de, pouco mais de uma década depois, já estar se aventurando também como cineasta, ator e produtor. Personagens que desenvolveu – ou revolucionou – no papel foram também convocados para ganhar reproduções audiovisuais, e seja em ambientes sujos, em eras passadas ou num futuro indefinido, sua marca é sempre inegável e facilmente reconhecível, tanto no cinema, no vídeo ou, cada vez mais, também na televisão. Sem ser fiel a uma editora ou outra, foi responsável por algumas das sagas mais marcantes tanto da Marvel quanto da DC Comics, além de ter se arriscado também com criações próprias. É por isso tudo que, na data do seu aniversário, ele recebe aqui no Papo de Cinema uma mais do que merecida homenagem, com uma seleção dos seus trabalhos mais marcantes na telona – e também na telinha. Confira!

 

20170127 robocop 2 papo de cinemaRoboCop 2 (1990)
Lançada em 1990, esta produção tem diversos pontos importantes a serem ressaltados. Em primeiro lugar, foi a continuação do grande sucesso capitaneado por Paul Verhoeven em 1987. Acabou por ser o último filme do cineasta Irvin Kershner, responsável por Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca (1980) e 007: Nunca Mais Outra Vez (1983). E representou a estreia do elogiado quadrinista Frank Miller como roteirista de cinema. Famoso pelos quadrinhos Batman: O Cavaleiro das Trevas, que revitalizou o personagem nas HQs, o artista ganhou a chance de realizar sua visão em cima do personagem robótico. Embora o estúdio tivesse adorado o que Miller havia feito com o personagem, perceberam que não teriam como filmá-lo. O texto foi reescrito e pouco da visão original chegou às telas – como é possível observar na quadrinização do roteiro lançada entre 2003 e 2006. Na trama, RoboCop (Peter Weller) precisa enfrentar um novo esquema da OCP enquanto tenta acabar com uma gangue que enche a cidade com o nuke, uma droga de alto teor viciante. A experiência foi interessante para Miller, que visitou o set diariamente e aprendeu sobre o ofício. Ele também escreveria o roteiro da continuação, lançada em 1993. – por Rodrigo de Oliveira

 

20170127 sin city papo de cinemaSin City: A Cidade do Pecado (Sin City, 2005)
Publicada originalmente no começo dos anos 1990, a série de histórias em quadrinhos ambientadas na chamada “cidade do pecado” possui um estilo visual singular. Embora suas tramas calcadas na tradição do noir, cheias de personagens ambíguos, homens corruptos e mulheres fatais, fossem propícias a uma adaptação cinematográfica, o aspecto da imagem representava, de certa maneira, um entrave, claro, isso desde que minimamente se desejasse fazer jus ao estilo gráfico de Frank Miller. Desgostoso com Hollywood por conta da experiência malfadada com o roteiro de RoboCop 2 (1990), Miller rechaçou inicialmente a proposta para levar às telonas esta que é uma de suas obras mais cultuadas. Cedeu diante da insistência do diretor Robert Rodriguez, que chegou a filmar um curta-metragem para convencê-lo de sua capacidade para uma empreitada dessa envergadura e complexidade. Com o sinal verde, o texano de muniu de um elenco recheado de bons nomes, dentre os quais Bruce Willis, Mickey Rourke, Jessica Alba e Clive Owen, para construir um espetáculo digno da sua matriz, ao mesmo tempo homenagem a um gênero cinematográfico importante e ao legado de Frank Miller, artista que finalmente viu sua criação ganhar projeção hollywoodiana, com direito a pompa e circunstância. – por Marcelo Müller

 

20170127 300 papo de cinema300 (2006)
Foi aqui que Zack Snyder virou o queridinho dos filmes de quadrinhos. Sua abordagem estilizada, que na época lhe rendeu a alcunha de visionário, encaixou uma fotografia cheia de filtros e tratamentos de pós-produção em quadros memoráveis, como aquele que traz vários soldados despencando de um precipício contra a luz do sol. Entretanto, boa parte de sua “criatividade” vem na verdade da sua habilidade (aí sim, inegável) de reproduzir as criações das páginas de HQ’s, como faria em Watchmen: O Filme (2009), e que aqui faz com a obra de Frank Miller. Snyder foi, portanto, o cineasta ideal para transmitir a atmosfera caricata tão própria do mundo das graphic novels, e ainda conseguir atrelar a isso a seriedade necessária para não fazer do filme apenas um espetáculo visual. E em especial, Miller e Lynn Varley (autores do original), possuem uma visão bastante grotesca de seu universo, que poderia chegar às telonas de forma risível, não sobrevivendo à troca de mídias. Mas muito devido ao bom apuro estilístico de Snyder, que conseguiu encontrar uma tradução apropriada e fiel fora das páginas escritas (praticamente com sangue) por Frank Miller. – por Yuri Correa

 

20170127 the spirit papo de cinemaThe Spirit: O Filme (The Spirit, 2008)
Após uma pequena experiência por trás das câmeras em Sin City: A Cidade do Pecado, quando teve os apoios especiais de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, Frank Miller se sentiu confiante o suficiente para, sozinho, conduzir um filme inteiro. À época do seu lançamento, o debate ficou entre uma exagerada estilização e um cuidado quase maníaco para se reproduzir de forma audiovisual aquilo que só existia até então nas duas dimensões das histórias em quadrinhos. Deixando isso de lado, hoje podemos nos deparar com um grande e divertido gibi filmado, com uma aventura detetivesca que tem tudo para agradar qualquer um que deixar suas ressalvas de lado e entrar de cabeça nesse mundo que só poderia vir da mente soturna de Miller. Samuel L. Jackson está delicioso como um vilão sanguinário, ao mesmo tempo em que Scarlett Johansson e Eva Mendes disputam para ver qual das duas se transforma em uma femme mais fatale! O insípido Gabriel Macht pode ter sido uma escolha por demais arriscada como o protagonista, mas é um pequeno tropeço dentro dessa oportunidade quase única de vislumbrar em detalhes toda a criatividade de um gênio em ação, talvez não no seu campo de atuação favorito, mas ainda assim bastante afiado! – por Robledo Milani

 

20170127 batman year one papo de cinemaBatman: Ano Um (Batman: Year One, 2011)
O arco de histórias em quadrinhos que reconta a origem do herói em quatro capítulos foi um sucesso quando lançado em 1987. Seu responsável foi o nosso homenageado, que traduziu da forma mais sombria e realista possível todos os fatos marcantes do início da carreira de Bruce Wayne no combate ao crime. A hq teve uma reprodução praticamente 100% fiel quando a animação baseada na obra foi lançada em 2011. A identidade audiovisual própria, os diálogos e cenas reproduzidas ipsis litteris remetem diretamente não só ao plástico, ao estético, mas à profundidade com que Frank Miller desenvolveu a história. Assim, temos explícito como o bilionário órfão Bruce Wayne, após 12 anos estudando e treinando no exterior, retorna à Gotham City para se tornar o Batman. Justamente no mesmo dia em que o tenente James Gordon se mudava com a esposa grávida, Bárbara. Policiais corruptos, vilões por trás dos panos, máfia em alta na cidade e até uma Mulher Gato como poucos já viram dão as caras. Obrigatório para os fãs do morcegão e, claro, de tudo de bom de autoria de Miller. – por Matheus Bonez

 

+1

 

20170127 demolidor papo de cinemaDemolidor (Daredevil, 2015-2016)
Embora Miller não tenha criado o personagem, é inegável que o Demolidor que conhecemos hoje – e que a Netflix decidiu levar para as telas – deve muito à fase em que o roteirista assumiu os quadrinhos do Homem Sem Medo. Primeiro da série de projetos da Marvel Comics produzidos pela Netflix (seguido por Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro, Os Defensores, além da série spin-off focada no personagem Justiceiro), conta a história de Matt Murdock (Charlie Cox), um jovem cego que atua como advogado durante o dia e vigilante mascarado à noite. Considerada uma adaptação fiel pelos fãs dos quadrinhos, a série explora muitos temas trazidos diretamente da obra original; Murdock caminha entre as posições de herói e anti-herói. Além de explorar os conflitos internos do protagonista – especialmente no que diz respeito à distinção entre bem e mal e à religiosidade, já que este é um personagem marcadamente católico – a série tornou-se um grande sucesso por combinar temas sérios a um leve senso de humor, além da fotografia impecável, excelente dinâmica entre o elenco e cenas de ação excepcionais – superando muitas produções gigantes da Marvel para o cinema. – por Marina Paulista

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