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‘O Velho Olhos Azuis’. Assim ficou conhecido em todo o mundo o icônico Frank Sinatra. Apelidado também como ‘A Voz’, certamente está na imaginação de milhares de fãs como um dos maiores cantores de todos os tempos. O que muitos esquecem, no entanto, é do seu talento múltiplo, que ficou eternizado em Hollywood também nas telas de cinema. Casado quatro vezes – entre suas ex-esposas estão as estrelas Mia Farrow e Ava Gardner – e pai de três filhos, Frankie foi apontado pelo Guinness Book como o “primeiro ídolo adolescente” (antes mesmo de Elvis Presley!) e foi um dos fundadores do “Rat Pack”, grupo de bon vivants formado também por Dean Martin, Sammy Davis Jr. e Peter Lawford, entre outros, que apareceu em filmes como Onze Homens e um Segredo (1960) – a versão original – e Os Três Sargentos (1962). Indicado duas vezes ao Oscar, ganhou na primeira vez, além de ter recebido outras duas estatuetas honorárias – uma pelo curta The House I Live In (1945) e outro pelo troféu humanitário Jean Hersholt, em 1971. E entre mais de sessenta créditos como intérprete, deixou sua marca em obras inesquecíveis, que até hoje repercutem entre fãs, curiosos e admiradores. É por isso que, no dia que seria seu aniversário, neste 12 de dezembro, organizamos essa seleção de cinco dos seus filmes mais marcantes, além de apontar mais um especial que merece, literalmente, ser (re)descoberto. Confira!

 

um-dia-em-nova-iorque-papo-de-cinemaUm Dia em Nova York (On The Town, 1949)
– por Rodrigo de Oliveira
Frank Sinatra tinha um verdadeiro caso de amor com Nova York. Antes de ter imortalizado a canção “New York, New York“, ao regravar o tema do filme homônimo de Martin Scorsese, ele havia estrelado essa carta de amor à cidade ao lado de Gene Kelly, repetindo a parceria que já havia rendido anos antes o muito bem-sucedido Marujos do Amor (1945) – aquele com a dança de Kelly e o ratinho Jerry, do desenho animado Tom & Jerry. No longa-metragem codirigido por Kelly e Stanley Donen, os protagonistas eram marinheiros com apenas um dia para aproveitar as maravilhas da Big Apple. Sinatra vive o companheiro fiel que tenta ajudar o seu amigo a encontrar a mulher dos sonhos. No entanto, ao conhecer a bela e decidida taxista Hilde (Betty Garrett), seus planos acabam mudando. Sabendo que não tem um exímio dançarino nas mãos, mas tem um dos melhores cantores de todos os tempos, os diretores utilizam certeiramente o talento do artista em melodias que marcaram época – em interpretações que certamente impulsionaram a vitória do filme como Melhor Trilha Sonora no Oscar de 1950. O destaque fica para “On the Town“, bela canção que dá nome ao longa nos Estados Unidos.

 

a-um-passo-da-eternidade-papo-de-cinemaA Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, 1953)
– por Bianca Zasso
A produção de Fred Zinnemann, que mistura guerra e história de amor, já merecia destaque por seu bom roteiro e as ótimas atuações do elenco que, além de Frank Sinatra, conta com Montgomery Clift, Burt Lancaster e a bela Deborah Kerr. Era início dos anos 1950 e os mais belos olhos azuis do cinema estavam em baixa, já que Sinatra não era requisitado para filmes e sua carreira musical andava instável. Mesmo quem não acompanhou a carreira do ator e cantor conhece a história, que inspirou o escritor e roteirista Mario Puzo para uma das passagens de O Poderoso Chefão (1972), sobre um pedido de ajuda do cantor para conseguir um papel no filme de Zinnemann. Mais que uma oportunidade de voltar à elite de Hollywood, Sinatra via em seu personagem, o soldado Angelo Maggio, um pouco de sua própria trajetória como ítalo-americano em busca do sucesso. A interpretação humana e sem estereótipos lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante e uma nova e iluminada estrada. O público passou a não só aplaudir sua voz encantadora, mas a aguardar seu próximo trabalho como ator. E dos bons.

 

o-homem-com-o-braco-de-ouro-papo-de-cinemaO Homem do Braço de Ouro (The Man with the Golden Arm, 1955)
– por Leonardo Ribeiro
Frank Sinatra já havia provado seu talento dramático ao receber o Oscar de Ator Coadjuvante por A Um Passo da Eternidade (1953) quando aceitou o papel mais desafiador de sua carreira: Frankie Machine, o protagonista viciado em heroína deste longa de Otto Preminger. Na trama, Frankie volta para casa após a reabilitação disposto a largar seu emprego ilegal como crupiê de poker e se tornar um baterista profissional. Na tentativa de se manter limpo, enfrenta a conturbada relação com a esposa, Zosh (Eleanor Parker), que vive em uma cadeira de rodas, e as recaídas influenciadas pelo traficante Louie (Darren McGavin), contando apenas com apoio de uma antiga paixão, Molly (Kim Novak). Para tratar deste tema tabu, Preminger desafiou as regras estabelecidas pelo Código Hays, realizando, para os padrões da época, um retrato bastante cru e realista da dependência química, tendo em Sinatra sua grande força. Embalado pela icônica trilha de Elmer Bernstein, o ator encarna uma figura trágica e melancólica, que exala sinceridade em seu desejo de recomeço, mas acaba engolido pelo meio que o cerca. Indo da sutileza à visceralidade – na emblemática cena de “desintoxicação” – Sinatra entrega uma atuação inesquecível que lhe valeu nova indicação ao Oscar, desta vez na categoria principal.

 

meus-dois-carinhos-papo-de-cinemaMeus Dois Carinhos (Pal Joey, 1957)
– por Filipe Pereira
O filme marca a parceria entre Sinatra e George Sidney, que já haviam trabalhado juntos em Marujos do Amor (1945) e contém uma história simples e repleta de atalhos de roteiro. Joey Evans é um sujeito descapitalizado, mas com desejos de viver como um bon vivant sem maiores preocupações além do trivial. Sedutor e carismático, o trabalho de conquista dele é lento e gradual, além de conviver com um sério problema de culpa, por estar se envolvendo em um triângulo amoroso com Linda English (Kim Novak) e Vera Prentice-Simpson (Rita Hayworth). Seu remorso não é causado somente pela crise moral, mas também por sentir ciúmes da segunda e por seu próprio comportamento possessivo. Nesse ínterim, há uma desconstrução involuntária do machismo vigente à época, já que a postura sexista do personagem é punida tanto pela sua própria consciência quanto pelo destino, tendo interrompidos seus planos de vida poligâmica e quase encerrados seus anseios relativos a abrir uma casa noturna. O desfecho aparenta felicidade para o personagem, mas, na verdade, é agridoce, misturando melancolia com um sentimento de satisfação finalmente alcançado. Apesar da premissa simples, é um dos filmes mais marcantes da carreira de Sinatra, ajudando a pavimentar o seu talento dramatúrgico latente.

 

sob-o-dominio-do-mal-papo-de-cinemaSob o Domínio do Mal (The Manchurian Candidate, 1962)
– por Matheus Bonez
O cenário da Guerra Fria e anticomunismo dos anos 1960 foi o ponto de partida para John Frankenheimer produzir um de seus maiores clássicos. Aqui, um grupo de soldados norte-americanos sofre lavagem cerebral dos soviéticos durante a Guerra da Coreia. Um deles, Raymond Shaw (Laurence Harvey), retorna ao país como grande herói, mal a população sabendo da verdade. Ainda mais com a manipulação de sua mãe Eleanor (Angela Lansbury) e do padrasto (James Gregory). O único a par da verdade é outro soldado, Bennett (Frank Sinatra) que também foi lobotomizado, mas tem alguns acessos das memórias reais. Essa complexidade do personagem é amplamente explorada pelo diretor e, especialmente, por Sinatra, que compõe um papel cheio de explosões emocionais, totalmente críveis e angustiantes. Um dos melhores (senão o melhor) personagens de sua carreira, tardiamente reconhecido, já que ficou de fora das principais premiações daquele ano. Além de tudo, a produção é uma grande crítica ao próprio governo dos EUA, completamente dominado pelo macarthismo paranoico da época. O filme ganhou um remake em 2004 com Denzel Washington no lugar de Sinatra, mantendo-se à altura a atuação do cantor.

 

+1

 

meu-oficio-e-matar-papode-cinemaMeu Ofício é Matar (Suddenly, 1954)
– por Robledo Milani
Entre a vitória, em 1953, e a segunda indicação, em 1955, ao Oscar, Frank Sinatra viveu um dos raros vilões de sua carreira, um frio assassino contratado para eliminar ninguém menos do que o Presidente dos Estados Unidos. O filme passa-se quase todo num mesmo ambiente – a casa que o personagem de Sinatra escolhe para a tocaia, fazendo de refém, no processo, não apenas os proprietários (uma dona de casa pacifista, um oficial aposentado do exército, e o filho pequeno dela), mas também outros que acabam batendo à porta, como o xerife da pequena cidade à espera da visita do regente máximo do país e até um técnico de televisão. Assumindo sem reservas um papel que foi recusado por Montgomery Clift, Sinatra oferece uma composição tão marcante que, segundo a lenda, teria sido este o último filme visto por Lee Harvey Oswald antes dele próprio assassinar o presidente John Kennedy. Não por nada, a obra acabou sendo considerada maldita e ficou desaparecida por anos, somente ressurgindo ao se tornar de domínio público, uma vez que ninguém se interessou em registrá-la. Descobri-la hoje em dia, portanto, tem um sabor de curiosidade histórica ainda melhor.

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