Nascido há mais de setenta anos, o australiano George Miliotis – ou simplesmente George Miller – está na ativa desde o início dos anos 1970, quando fez seus primeiros curtas como diretor e roteirista. Nesta jornada, curiosamente, assinou menos de uma dezena de longas, sendo a maioria dedicados à três universos que não poderiam ser mais distintos entre si: o futuro apocalíptico de Mad Max, o porquinho atrapalhado Babe e o pinguim sapateador Happy Feet. Da aventura ao desenho animado, da comédia sexual ao drama inspirado em fatos reais, da produção para toda a família ao título mais específico para os fãs da fantasia e do terror, Miller nunca teve medo de inovar e de se aventurar por novos caminhos. Vencedor de um Oscar, foi indicado em outras cinco vezes, além de prêmios no Bafta, no Critics Choice e outras 10 estatuetas – um verdadeiro recordista – no Australian Film Institute, a maior premiação de sua terra natal. Por tudo isso – e pela torcida de que não precisemos esperar muito por novidades suas – ele é o nosso homenageado na semana do seu aniversário, com alguns dos seus trabalhos de maior destaque – além de mais um, é claro, que não pode ser esquecido. Confira!
O australiano George Miller despertou a atenção do mundo cinéfilo logo em seu primeiro longa, que alçou a carreira de seu protagonista, o até então desconhecido Mel Gibson, e originou uma das franquias mais influentes e cultuadas do cinema de gênero. A história mostra um futuro decadente, não muito distante, onde um grupo de patrulheiros rodoviários tenta combater a ação de bandidos que dominam as estradas à procura de combustível. Quando o líder dos patrulheiros, o “interceptador” Max Rockatansky (Gibson), mata um integrante de uma perigosa gangue de motoqueiros, inicia-se uma caçada alternada em busca de vingança. Aproveitando os belos cenários desérticos de sua terra natal, Miller cria um universo futurista que seria expandido nas continuações, tornando-se referência para as ficções pós-apocalípticas, e entrega um longa de ação físico e visceral. Mesmo trabalhando com um orçamento extremamente limitado, o cineasta consegue realizar sequências de perseguição em alta velocidade magistralmente orquestradas e registradas, gerando um grande impacto visual. No papel-título, Gibson compensa a pouca experiência com muito carisma, enquanto Hugh Keays-Byrne constrói a figura do vilão Toecutter com um tom deliciosamente caricatural. Uma obra que, mesmo pequena em escala, já demonstrava a ambição artística e talento de seu criador. – por Leonardo Ribeiro
Três belas mulheres, levando vidas normais em uma pequena cidade do interior, tem suas vidas alteradas quando um homem metido a conquistador se muda para as proximidades. Tal conto poderia render uma trama repleta de intrigas, mas o que George Miller fez, a partir do romance de John Updike, foi ir além. Mantendo seu espírito inquieto, ofereceu poderes especiais a estas personagens femininas – interpretadas com deleite por Michelle Pfeiffer, Cher e Susan Sarandon – e fez do líder alfa a encarnação de todos os medos – e anseios – de suas contrapartes, aparecendo como a própria encarnação do mal: um demônio literalmente endiabrado! Mais do que uma comédia fantástica, o filme explora o potencial de Miller em lidar com o inusitado, abandonando o mundo de Mad Max (após os três capítulos iniciais da saga) para se concentrar em um material aparentemente mais convencional, mas tão instigante e celebrado que não poderia ter outra senão a sua própria assinatura. Indicado a dois Oscars, rendeu a Jack Nicholson – como o protagonista – prêmios dos críticos de Los Angeles e de Nova Iorque e faturou milhões das bilheterias. Ou seja, sucesso junto ao público e com a crítica, fórmula que o diretor tem usado à perfeição durante toda a sua carreira. – por Robledo Milani
No começo dos anos 1990, atrizes disputavam fortemente pelo papel de Mulher Gato no segundo filme da franquia do cavaleiro das trevas dirigido por Tim Burton, Batman: O Retorno (1992). Dentre diversas intérpretes, Michelle Pfeiffer e Susan Sarandon concorriam pelo papel – que acabou ficando com a primeira. Curiosamente, as duas também estavam no páreo por este projeto mais intimista de George Miller, conhecido diretor da trilogia Mad Max. Sarandon foi escalada e acabou sendo indicada ao Oscar por sua performance. Isso que é dar a volta por cima. Na trama, baseada em fatos reais, os pais do menino Lorenzo (interpretados por Sarandon e Nick Nolte) se desesperam quando médicos diagnosticam em seu filho uma doença rara e sem cura, não dando muito tempo de vida para ele. Não acreditando neste prognóstico terrível, pai e mãe tomam a questão para si, buscando eles mesmos a cura para este mal. Longe do mundo pós-apocalíptico de Mad Max ou de suas tramas fantásticas como As Bruxas de Eastwick, nesta produção vemos um George Miller mais sóbrio, mas não menos competente ao conduzir uma história de dor e superação. Pelo roteiro, recebeu sua primeira (e muito justa) indicação ao Oscar. – por Rodrigo de Oliveira
George Miller pode ser mais conhecido pelas aventuras de Mad Max, mas seu prestígio não fica apenas nestes longas. Ele também é conhecido por seus scripts arrojados. E justamente nesta animação ele une os cargos de diretor e roteirista para contar uma história de superação e que também serve como um alerta às questões ambientais. O pano de fundo é a trajetória de Mano, um pinguim que, ao contrário dos outros, não sabe cantar, talento natural da maioria e que é quase uma regra implícita para o acasalamento entre os animais. Rejeitado, busca refúgio num grupo de amigos que pouco dá bola para isso e adora a verdadeira aptidão de Mano: dançar! E é na corrida para conquistar o coração da amada que ele vai se deparar com os males dos humanos contra a natureza. Com uma técnica detalhista de animação, uma história mais do que eficiente e humanitária, além de números musicais divertidíssimos, Miller conquistou com este título o Oscar de Melhor Animação. Ainda por cima, arrecadou 400 milhões de dólares no mundo e colocou seu nome de volta nos holofotes. Merecido. – por Matheus Bonez
Com uma energia insuspeita, George Miller e sua idade já avançada deixaram o mundo do cinema de queixo caído com o quarto filme da saga Mad Max. Com câmeras, cenários, carros, atores e dublês de verdade, Miller demonstrou nesse filme um controle da ação muito maior do que vários cineastas mais novos conseguem contando com toneladas de efeitos visuais a seu favor. Orquestrando uma montagem que assusta pela organização espacial, George demonstrou o que é o próprio conceito de direção neste trabalho, impregnando de vida e alma um filme que basicamente gira em torno apenas de uma perseguição. Desafiando o costume de saturar a fotografia em trabalhos sombrios, o cineasta também apostou em cores fortes e saturadas, que ajudam o espectador a mergulhar no mundo cinemático e fantasioso daquela insana cena de ação ininterrupta. Não fosse o suficiente, Miller, que também assina o roteiro, trouxe temáticas modernas e relevantes para a tela, como a libertação feminina e a busca por direitos igualitários, ousando dar o protagonismo não ao seu personagem título, mas a uma mulher, totalmente nova na franquia. – por Yuri Correa
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Depois de colher os louros do sucesso de Babe: O Porquinho Atrapalhado (1995) na condição de produtor, George Miller resolveu ele próprio assumir a direção desta sequência. Nela, mesmo tendo vencido inesperadamente o concurso de pastoreio de ovelhas com um porquinho, Arthur Hoggett (James Cromwell) está com as finanças indo de mal a pior. Como desgraça pouca é bobagem, sofre um acidente que o impossibilita de trabalhar. Sua esposa, Esme Hoggett (Magda Szubanski), decide então ir para a cidade grande acompanhada de Babe, a fim de ganhar uma disputa de talentos para salvar a fazenda. Embora não seja tão celebrado quanto o antecessor, este longa possuiu todos os elementos que fizeram de Babe um personagem querido por seu carisma e bondade. Além disso, foi indicado ao Oscar de 1999, na categoria Melhor Canção Original (“That’ll Do“, de Randy Newman), e ao BAFTA de Melhores Efeitos Especiais. As confusões que o porquinho arruma na metrópole, sempre acompanhado de seu fiel amigo Freddy, tratam de unir duas realidades distintas, a rural e a urbana, num filme recomendado para todas as idades, conduzido com a competência e a inventividade que se espera de alguém do calibre de George Miller. – por Marcelo Müller