Nascido no México em 09 de outubro de 1964, Guillermo del Toro é um cineasta conhecido pela sua fértil imaginação, povoada por monstros, vampiros, faunos e toda sorte de animais fantásticos. Sua carreira começou nos curtas-metragens ainda muito jovem, quando brincava com a câmera Super8 do seu pai, chegando até Hollywood, a Meca do cinema mundial. Depois de ter dirigido Cronos (1993) e chamado a atenção de produtores norte-americanos, o cineasta comandou Mutação (1997), uma ficção científica que servia de veículo para a então recém vencedora do Oscar Mira Sorvino. O resultado aquém das expectativas não impediu que continuasse recebendo convites, como Blade 2: O Caçador de Vampiros (2002) – ainda mais depois de ter lançado o exuberante A Espinha do Diabo (2001). Após ter dado vida a mais um super-herói nos cinemas com Hellboy (2004), se consagrou com a fábula gótica O Labirinto do Fauno (2006), filme vencedor de três Oscars e que lhe garantiu sua primeira indicação ao prêmio, pelo roteiro do longa. Além de diretor e roteirista, del Toro também é um produtor de mão cheia, tendo ajudado a tirar do papel produções do quilate de O Orfanato (2007), Mama (2013), Festa no Céu (2014) e Kung Fu Panda 3 (2016). Quase dirigiu a trilogia O Hobbit, tendo de desistir na metade do caminho, dando de volta o comando para seu amigo Peter Jackson e está há anos tentando conceber a adaptação de Nas Montanhas da Loucura, clássico livro de H.P. Lovecraft, de quem é fã confesso. Na semana do aniversário deste criativo artista mexicano, a equipe do Papo de Cinema se reuniu para relembrar seus cinco melhores filmes – e mais um, que merece uma conferida de perto. Boa leitura!
A Espinha do Diabo (El Espinazo del Diablo, 2001)
Neste bom filme de terror, em que os sustos fáceis dão lugar a uma atmosfera constante de suspense, o cenário é um orfanato em plenos anos 1930, durante a Guerra Civil Espanhola e a ascensão do sistema ditatorial implantado no país. O protagonista é Carlos (Fernando Tielve), um garoto de 12 anos deixado pelo tutor no local que abriga filhos de combatentes até o fim dos conflitos. O garoto dorme na antiga cama de Santi (Junio Valverde), garoto morto, também conhecido como “aquele que suspira”. E suas tentativas de solucionar o caso que envolve o espírito causarão frios na espinha. O paralelo com a guerra que ocorre fora da instituição e a formação de um exército dentro do orfanato contra outro tipo de inimigo talvez sejam os melhores motes do filme, já que é essa metáfora que conduz a história para suas soluções. Guillermo del Toro é hábil ao dar a corda para o espectador e depois puxá-la. Tudo é milimetricamente calculado, sem pontas soltas. Uma bela obra que joga o terror para o lado do público, sabendo espantá-lo e causar empatia na mesma medida. – por Matheus Bonez
Blade 2: O Caçador de Vampiros (Blade 2, 2002)
Blade: O Caçador de Vampiros (1998) representou a volta no tranco dos filmes adaptados dos quadrinhos para o cinema depois do fracasso de Batman & Robin (1997). Ninguém parecia querer apostar em novos filmes de heróis, portanto o longa-metragem estrelado e produzido por Wesley Snipes fez bem em ter pego um personagem menos conhecido, mas não menos interessante. Com o sucesso do longa, uma continuação foi encomendada e, algo raro na época, conseguiu ser superior ao original. Com Guillermo del Toro dirigindo, em sua segunda incursão em Hollywood, o longa aumenta os desafios do original colocando Blade lado a lado das criaturas que ele deveria exterminar. Partindo da máxima que a união faz a força quando estamos falando de um inimigo em comum, o personagem de Snipes precisa dar uma trégua em sua batalha contra os chupadores de sangue para terminar com os reapers, uma ameaça ainda maior. No filme, é possível ver a mão de del Toro para o fantástico, com uma direção de arte caprichada, boas cenas de ação e uma atmosfera de maior periculosidade. Ninguém parece estar à salvo nesta aventura ágil, muito superior ao original e à sua tenebrosa continuação, Blade: Trinity (2004). – por Rodrigo de Oliveira
Hellboy (2004)
Hellboy era uma HQ famosa entre os aficionados por quadrinhos, mas desconhecida para o grande público. Fora do eixo DC/Marvel, quem poderia acreditar que a história do bebê demônio surgido na Segunda Guerra Mundial daria certo como grande herói das telonas? Guillermo del Toro apostou suas fichas e, com certeza, não havia ninguém melhor que ele para levar o mundo do mais famoso poderoso da Dark Horse Comics. No roteiro escrito a quatro mãos em parceria com Mike Mignola, o criador do personagem dos infernos, acompanhamos a origem do herói, a formação da equipe de super-seres da Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal, uma divisão secreta do FBI que tem Hellboy como agente principal. Entre várias escolhas acertadas, podemos citar o elenco que conta com Ron Perlman e a eternamente subestimada Selma Blair; a ambientação que resvala entre o gótico e o blockbuster escrachado; e a história direta – o melhor de del Toro é saber conduzir seu filme sem grandes pretensões, tornando-o um exemplar diferenciado pela simplicidade. Não à toa foi um sucesso quase inesperado que rendeu uma continuação. Uma pena que não foi mais adiante. – por Matheus Bonez
O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno, 2006)
Uma jovem garota chamada Ofelia vive entre criaturas míticas em suas férteis fantasias enquanto se esconde da realidade muito mais terrível enfrentada pela Espanha fascista de 1944. Vivendo com a mãe doente, um padrasto maléfico e uma cozinheira carinhosa, ela encontra sua terra do nunca ao conhecer o ancião Pan, que a desafia com três tarefas que, uma vez superadas, permitirão que ela possa conhecer seu real destino como princesa do submundo. O Labirinto do Fauno (2006) permanece como a obra-prima de Guillermo del Toro: uma macabra e visualmente impressionante fábula para adultos que reúne fantasia e drama de forma sombria em um dos mais impressionantes filmes deste século. Com passagens surreais e surpreendentemente assustadoras, a produção espanhola é icônica e inesquecível a partir de seus personagens fantásticos, com destaque para o Homem Pálido e a tensa sequência do banquete protagonizada por ele. Um filme de horror e maravilhas, repleto de ambiguidades e metáforas, que se vale dos artifícios mais clássicos dos contos de fadas numa narrativa preciosa. Com uma fotografia excepcional de Guillermo Navarro, o filme venceu este Oscar e também os de direção de arte e maquiagem, além da indicação como Melhor Roteiro (para del Toro) e Filme Estrangeiro. – por Conrado Heoli
Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013)
A familiaridade de Guillermo Del Toro com monstros não é nenhuma novidade, logo, quando o cineasta resolveu investir em uma homenagem ao gênero das criaturas gigantes destruidoras de cidades, pareceu apenas apropriado. Quando uma fenda para outra dimensão abre no fundo do Oceano Pacífico, a humanidade passa a sofrer com uma infestação gradual de Kaijus (traduzindo: monstros), cada vez maiores e mais perigosos. Para se defender dessa ameaça mortal, as nações se unem para construir robôs gigantescos para lutar e aniquilar essas criaturas – a solução óbvia, claro. Mas se tudo parece absurdo demais, é porque verossimilhança não é o objetivo desse projeto do cineasta, que aplicando seus típicos designs lovecraftianos nos monstros, logo deixa claro que diversão é a palavra-chave aqui. Toda criança brinca e se diverte com não muito mais do que a sua imaginação e ver del Toro colocar a sua em prática aqui é a parte mais alucinante de um filme que tem robôs com espadas gigantes, explosões nucleares subaquáticas e Kaijus que voam, cospem ácido e lançam pulsos eletromagnéticos. Isso sem contar a presença inebriante de Idris Elba e de Ron Perlman (que retoma a parceria com o diretor), que pontuam essa fantástica aventura com frases como: “Hoje, nós vamos cancelar o apocalipse”. – por Yuri Correa
+1
Cronos (1993)
Quase dez anos antes de dirigir Blade 2 (2002) e se consolidar em Hollywood como um cineasta interessante, Guillermo del Toro já trafegava pelo tema do vampirismo com esse filme, ainda que o vampiro aqui tenha características bem peculiares. A condição do protagonista vem não de algum tipo de maldição, mas do uso acidental de um artefato do século XVI, criado por um alquimista em busca da vida eterna. E como o vampiro nesse caso é um velhinho boa praça, avô dedicado e dono de uma loja de antiguidades, del Toro faz do “monstro” o herói de sua história, algo que voltaria a acontecer em Hellboy (2004) e O Labirinto do Fauno (2006). Como esse último, aliás, a estreia de del Toro na direção de longas-metragens é atravessada por um olhar infantil, advindo da personagem da neta do protagonista, que dá à narrativa um tom fabular, e apresenta como verdadeiros “monstros” os humanos ambiciosos e poderosos. Trata-se, portanto, de um belo primeiro filme do diretor, que funciona como rascunho, ou carta de intenções, do cinema que ele faria dali em diante. – por Wallace Andrioli
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