Por muitos anos, Gwyneth Paltrow ficou conhecida por ser mimada, arrogante, chata. Isto se sucedeu especialmente após levar o Oscar de Melhor Atriz por Shakespeare Apaixonado (1998) e seus trabalhos minguarem. O que deveria ocorrer de outra maneira, já que o prêmio garante mais visibilidade ao artista – em teoria. Filha do falecido produtor de TV Bruce Paltrow e da premiada atriz Blythe Danner, a intérprete, além de tudo, foi apadrinhada de Steven Spielberg em sua estreia nas telonas com Hook: A Volta do Capitão Gancho (1991) e colecionou sucessos comerciais e de crítica como Emma (1996) e Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995). Este último, por sinal, só não está listado aqui devido ao papel coadjuvante que, apesar da importância, não mostra todo o talento da atriz. Não dá pra saber o que aconteceu exatamente com sua carreira que teve quase um hiato até ser lembrada pela Marvel com Homem de Ferro (2008) e suas sequências. Afastada ou não das telas, o certo é que Gwyneth soube dar a volta por cima da tal “maldição do Oscar” e continua mostrando seu talento dentro e fora do cinema. Como a bela comemora aniversário no dia 27 de setembro, a equipe do Papo de Cinema faz aquele apanhado de seus cinco melhores trabalhos – e de mais um divertido que merece uma segunda chance. Confira!
Shakespeare Apaixonado (Shakespeare in Love, 1998)
Shakespeare (Joseph Fiennes), o principal ponto de interesse do argumento, é quem acompanhamos na meia-hora inicial. Porém, a partir do momento em que a virginal Viola (Gwyneth Paltrow) entra em cena, tudo se altera. Após esse momento, o foco de atenção do espectador passa a ser direcionado a ela, fazendo do personagem histórico um mero coadjuvante. Ninguém mais se importa com ele. Ele é Shakespeare, afinal, e todos sabem que será bem sucedido, de uma forma ou de outra. Nossa curiosidade está nela, e será com o seu desenlace amoroso que estaremos preocupados. Este trabalhou resultou na primeira – e até hoje única – indicação ao Oscar da atriz, convertida em vitória. Qualquer uma das demais concorrentes daquele ano – Cate Blanchett, Emily Watson, Meryl Streep e a nossa Fernanda Montenegro – possuíam desempenhos infinitamente superiores. No entanto, estas quatro apresentavam um registro no drama, diferente do que Paltrow se propõe. Sua performance é refrescante, apaixonante, jovial, e completamente adequada ao que o papel exigia. Num outro ano, numa outra disputa, ninguém reclamaria de sua vitória. Talvez seu maior problema seja ser americana – apesar do perfeito sotaque que defende – num personagem tipicamente inglês. Fica claro para qualquer espectador mais atento os porquês de Fiennes literalmente perder o filme para Paltrow a partir do momento em que ela aparece. – por Robledo Milani
Os Excêntricos Tenenbaums (The Royal Tenenbaums, 2001)
Os Tenenbaums são uma família tipicamente “Wes Andersoniana”. Ou seja, assim como o cinema do diretor que lhes deu vida, essas pessoas não são particularmente normais. O matriarca Royal Tenenbaum (Gene Hackman) abandonou a todos após se divorciar da esposa, Etheline (Anjelica Huston). Os filhos deles, Chas (Ben Stiller), Richie (Luke Wilson) e a adotiva Margot (Gwyneth Paltrow), conseguiram grandes feitos quando crianças, mas agora passam por crises pessoais. E então, depois de anos, Royal volta dizendo que está com câncer, querendo se reaproximar da família em seus supostos últimos momentos. São seres cheios de peculiaridades e com alguns toques melancólicos, como vários personagens do universo de Wes Anderson. Eles combinam perfeitamente com a excentricidade típica do cineasta, que diverte com boas sacadas ao longo da história e torna cativante o arco dramático da família. Contando com um belíssimo elenco liderado por Gene Hackman, Os Excêntricos Tenenbaums traz Gwyneth Paltrow interpretando Margot como uma figura introspectiva e rebelde, que fuma escondida, está infeliz no casamento e chora pelos cantos, não tendo nada de muito motivador na vida. A atriz encarna as nuances da personagem com talento, sendo que a garota não deixa de ser a membro mais criativa dessa memorável família. – por Thomás Boeira
Sylvia: Paixão Além das Palavras (Sylvia, 2003)
Escritora deprimida, consagrada no mundo das letras, que acaba tirando a própria vida no auge do seu talento. Essa breve descrição nos leva de imediato ao nome de Virginia Woolf, cuja interpretação de Nicole Kidman no drama As Horas (2002) lhe valeu o Oscar. E talvez seja esse o motivo que a personificação que Gwyneth Paltrow oferece para a poetisa Sylvia Plath tenha ficado tão eclipsada desde o seu lançamento, exatamente um ano após o trabalho anterior. E ainda que a diretora Christine Jeffs não tenha conseguido se firmar nos anos seguintes, ela é hábil o suficiente em abrir todo o espaço possível para o talento de Paltrow, que não se intimida em assumir este personagem histórico e muito menos em atuar ao lado da própria mãe (Blythe Danner, como uma versão materna austera e difícil na ficção) ou como par romântico do futuro James Bond Daniel Craig (como o também poeta Ted Hughes, em uma composição tão apaixonante quanto assustadora). Gwyneth é o verdadeiro motivo de ser deste longa, ao abrir mão de todos os predicados que a tornaram uma estrela e mostrando, de vez, a competente atriz que pode ser diante às condições necessárias. – por Robledo Milani
A Prova (Proof, 2005)
Quando o filme começa com um intenso diálogo entre Gwyneth Paltrow e Anthony Hopkins, já percebe-se o nível de profundidade que a produção quer alcançar. Ela é Catherine, uma excepcional matemática que deixa a pesquisa de lado para cuidar dele, Robert, o seu pai. O homem está louco e a filha tem medo de que o mesmo possa ocorrer com ela. Afinal, a genialidade ela já adquiriu. Mas ele já está morto quando o longa começa e acompanhamos entre idas e vindas, flashbacks e tempo presente, uma história não de pai e filha apenas, mas sim do quanto a atividade intelectual sem limites pode atingir níveis catastróficos para a mente humana. Neste ínterim, aparecem outros personagens importantes como Hal (Jake Gyllenhaal), ex-aluno e fã de Robert, que pretende descobrir a tal prova matemática nos cadernos escritos pelo morto, e Claire (Hope Davis), a irmã boazinha, mas sem talento, de Catherine. Porém, o filme é de Gwyneth em uma bela composição de ceticismo e emoção que nunca cai no clichê, mostrando porque a atriz consegue ir muito além da caricatura de “chatinha” que a própria adquiriu ao longo dos anos e fez a crítica (e até o público, vá lá) ter ranço da sua pessoa. Por este belo trabalho, Paltrow recebeu sua segunda indicação ao Globo de Ouro, desta vez por Melhor Atriz em Drama. Não levou o prêmio para casa, mas voltou a ter o respeito merecido que parecia eclipsado pela suposta “injustiça” de seu Oscar anos antes. – por Matheus Bonez
Amantes (Two Lovers, 2008)
O cineasta James Gray novamente se volta aos universos familiares erráticos, desta vez trocando a roupagem do gênero policial pela do melodrama, na melhor tradição de Douglas Sirk. A história tem como personagem principal o problemático Leonard (Joaquin Phoenix), um paciente bipolar com tendências suicidas, que voltou a morar com os pais em Nova York para se recuperar do término de seu noivado. Trabalhando no negócio da família, uma tinturaria, Leonard inicia um relacionamento com Sandra (Vinessa Shaw), filha do futuro sócio de seu pai, ao mesmo tempo em que desenvolve uma paixão pela bela vizinha do andar de cima, Michelle (Gwyneth Paltrow). Gray conduz com maestria este triângulo amoroso melancólico, comprovando sua capacidade como esteta e grande diretor de atores. Se Phoenix demonstra o talento habitual em sua terceira colaboração com o cineasta, Paltrow consegue acompanhá-lo com a mesma competência. Prova disso são as grandes sequências que os dois dividem, como os encontros no terraço do prédio, incluindo uma das cenas de sexo mais intensas e sofridas do cinema recente. A figura de musa inalcançável, tão ligada à sua persona, lhe cai como uma luva, mas a personagem apresenta diversas outras facetas dramáticas muito bem desenvolvidas pela atriz. – por Leonardo Ribeiro
+1
Duets: Vem Cantar Comigo (Duets, 2000)
Talvez este filme seja mais famoso pela cena do dueto de Huey Lewis e Gwyneth Paltrow que propriamente por conta das qualidades de sua trama ambientada no mundo dos karaokês. Contudo, mesmo que haja algumas soluções fáceis (nós desatados quase num passe de mágica), os personagens interessantes e a trilha sonora inspirada garantem nossa adesão à realização do diretor Bruce Paltrow, pai de Gwyneth. A história mostra seis pessoas que caem na estrada buscando realizar seus sonhos. O inusitado encontro de tipos tão diferentes, mas com aspirações relativamente semelhantes na essência, sustenta algo que, bem de leve, discute a pátria mãe América e seus órfãos desgarrados. Gwyneth Paltrow interpreta uma dançarina de Las Vegas carente de amor familiar, que, depois de muito penar, reencontra o pai e com ele se reconcilia no palco. Entre gente desesperada para fazer sucesso, perseguidores do tão almejado “sonho norte-americano” e/ou acuados por problemas de cunho pessoal, a menina vivida por Paltrow se destaca por personificar a inocência própria dos fundamentalmente esperançosos. Soltando a voz, seja nos solos ou na famosa e já mencionada parceria com Huey Lewis, a atriz representa aqueles que cantam para verdadeiramente espantar seus males. – por Marcelo Müller
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