Ele é Gandalf e Magneto. Mas também é muito mais do que isso. É também Rei da Inglaterra, o cineasta James Whale, um oficial nazista em exílio, Hamlet, Macbeth, D. H. Lawrence e até Sherlock Holmes! Estamos falando de Ian McKellen, nascido no dia 25 de maio de 1939 e o artista homenageado desta semana aqui no Papo de Cinema! O aniversariante tem seu nome em mais de uma centena de filmes para o cinema e para a televisão, foi indicado duas vezes ao Oscar, três vezes ao Bafta e cinco vezes ao Emmy, ganhou um Globo de Ouro e um Urso Honorário no Festival de Berlim, é um ativista engajado pelos direitos dos homossexuais e, além disso tudo, é também uma dos maiores campeões de bilheterias da história – sua média no Box Office Mojo é superior aos US$ 100 milhões por filme! Favorito do público e aclamado pela crítica, não foi tarefa fácil escolher apenas cinco trabalhos inesquecíveis – e por isso que tivemos que dar uma reduzida, apelando para seus personagens mais memoráveis na tela grande. E como de praxe, ainda damos a dica de um trabalho pouco visto, mas ainda assim marcante e que merece ser conhecido. Confira!
Ricardo III (Richard III, 1995)
Antes de se tornar o bondoso Gandalf, Ian McKellen foi um dos vilões mais interessantes da história. Em 1995, o inglês de Lancashire interpretou Ricardo III com brilhantismo, além de também assinar o roteiro – uma adaptação da peça homônima de Shakespeare – com o diretor Richard Loncraine. Não se trata, aliás, de uma adaptação exata do texto original, mas sim de uma produção teatral dirigida para o Royal National Theatre de Londres, e se passa nos anos 1930, não entre 1483 e 1485, quando Ricardo foi o Rei da Inglaterra. Existe uma clara busca em estabelecer um paralelo com a Alemanha Nazista de Hitler, que pode ser vista pela iconografia nazista com uniformes e bandeiras. No início do filme, inclusive, é possível ver uma foto que remete ao próprio Führer. E McKellen faz um ótimo trabalho como o protagonista. Além de terríveis detalhes na aparência, como o cabelo e o bigode, e de estar sempre mancando e sem usar o braço esquerdo, o inglês tem a fisionomia perfeita, deixando transparecer sua vilania na medida certa. McKellen também olha e fala para a câmera muitas vezes, mas sempre mantendo a distância entre teatro e cinema. É simplesmente um show. – por Gabriel Pazini
Deuses e Monstros (Gods and Monsters, 1998)
Ian McKellen teve a melhor atuação de sua carreira (o que já é dizer demais perante seu talento nato) ao personificar o diretor inglês James Whale, responsável por clássicos de terror da Hollywood dos anos 1930, como Frankenstein (1931) e O Homem Invisível (1933). Homossexual reprimido, o protagonista é um homem solitário e já em seus dias de decadência profissional, tendo como companhia um jardineiro musculoso (Brendan Fraser) que atiça seu desejo e também sua curiosidade pelo formato da cabeça: ele parece o monstro clássico dirigido por ele décadas antes. Desta bela amizade revive-se o passado de Whale, mostrando ainda mais os diferentes contornos que McKellen dá para sua atuação, indicada ao Oscar daquele ano (e perdida – inacreditavelmente – para Roberto Benigni). Pode não ter levado o prêmio, mas o respeito do público e da crítica só aumentou depois deste desafio. – por Matheus Bonez
O Aprendiz (Apt Pupil, 1998)
Porquê nazismo? O título de um trabalho de escola intriga o adolescente Todd Bowden, que mergulha em livros enquanto se torna cada vez mais obcecado pelo assunto. Quando identifica um idoso como um oficial da Gestapo a partir de uma fotografia de um de seus livros, ele decide transformar sua pesquisa em algo maior. Todd persegue o aposentado e o faz uma proposta aparentemente irrecusável: se ele, Herr Dussander, se recusar a dizer tudo o que sabre sobre o nazismo, o garoto vai revelar sua identidade para a mídia. Esta intensa e bem elaborada adaptação de um romance de Stephen King é corajosa ou inocente o suficiente para discorrer sobre um tema delicado a partir de perigosas perspectivas – a conexão entre o fascismo e a homossexualidade reprimida, por exemplo – e torna a sessão de qualquer espectador amarga. Bryan Singer e o roteirista Brandon Boyce exploram as ramificações psicológicas do encontro entre Todd e Dussander meticulosamente, mas o coração e as veias pulsantes do filme são mesmo as de Ian McKellen, que apresenta uma performance inesquecível e perturbadora. As nuances e idiossincrasias que ele atribui a Dussander são repletas de humanidade, o que torna seu personagem ainda mais monstruoso. – por Conrado Heoli
Saga :: X-Men (2000-2014)
Magneto se distancia de uma simples personificação do mal. É um vilão agindo para proteger sua raça, os mutantes que, assim como ele, são constantemente atacados pela população “normal” que os vê, no mais das vezes, como pragas a serem erradicadas. O inglês Ian Mckellen foi quem primeiro o viveu no cinema, em X-Men: O Filme (2000), oferecendo um contraponto à altura do Professor Xavier de Patrick Stewart. Aliás, que dupla de atores, diferencial num filme de heróis, cujas prioridades geralmente são os efeitos e a ação. Na esteira do sucesso original, vieram as sequências, X-Men 2 (2000), X-Men: O Confronto Final (2006) e o recente X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (2014) no qual McKellen “divide” o personagem com Michael Fassbender, ele que havia interpretado o Magneto jovem (ainda mais irascível) de X-Men: Primeira Classe (2011). Embora Fassbender faça um ótimo trabalho, ajudando a trazer novos rumos à franquia, McKellen é aquele que melhor leva às telas a complexidade de Erik Magnus Lehnsherr, homem que viveu os horrores do holocausto e lá mesmo, em meio à perseguição aos judeus e à morte dos pais, descobriu poderes sobre-humanos para tentar retorcer, infelizmente de maneira violenta, a segregação e o preconceito. – por Marcelo Müller
Saga :: O Senhor dos Anéis (Lord of The Rings, 2001-2003)
“You Shall Not Pass!”, grita Gandalf ao empunhar seu cajado, destruindo o chão onde se encontrava, levando consigo para um escuro abismo a criatura Balrog, que ameaçava o sucesso da Sociedade do Anel. Esta deve ser uma das mais famosas cenas protagonizadas por Ian McKellen na pele do mago Gandalf, um dos personagens mais queridos e poderosos dos escritos de J.R.R. Tolkien, adaptado com perfeição pelas mãos de Peter Jackson. McKellen foi indicado ao Oscar por sua interpretação no primeiro filme, A Sociedade do Anel (2001), e poderia muito bem ter sido lembrado nos outros anos, já que sua performance é igualmente marcante em todos os filmes da série. É verdade que no primeiro longa o personagem ganha mais o que fazer e serve como o cabeça daquela jornada quase suicida para destruir o Um Anel. Seu desempenho foi tão cativante que, quando anunciados os novos filmes situados naquele universo, com a adaptação de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2012), Ian McKellen pensou duas vezes antes de aceitar. Disse tê-lo feito pensando nos fãs, que pediram seu retorno, pois não conseguiriam ver outra pessoa desempenhando aquele personagem. Seja como Cinzento ou como O Branco, McKellen se mostrou inesquecível no papel. – por Rodrigo de Oliveira
+1
Paixão Sem Limites (Asylum, 2005)
Peter Cleave é um senhor de alta postura, membro do alto escalão da sociedade em que convive e cuja moral é conhecida por ser completamente ilibada, além de servir de ponte no entorno da junta de médicos psiquiátricos para a personagem de Natasha Richardson, Stella. A sobriedade de Ian McKellen é tão poderosa que quase faz esquecer que o ambiente em que as personagens habitam é um antro de insanidade e loucura. Apesar do roteiro um bocado confuso, a participação diminuta do cavaleiro da rainha é notada em aspectos diversos, especialmente na virada de trajetória que ele toma para si, invertendo até seu lado ideológico de maneira desapercebida para olhares menos atentos, mas ainda assim, bem urdida. Os atos de Cleave são pontuais, aparentando até ser invisível ao habitar a periferia da história. O paradigma muda na meia hora final, quando sua real intenção se revela. O peso da atuação de McKellen faz lembrar o quanto o homem pode ser dissimulado, e resgata este trabalho de ser um filme abaixo da linha da mediocridade. – por Filipe Pereira
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